Depois de dobrar o TSE, Lava Jato agora tenta assumir o controle político do Congresso e do governo federal

Segue, ao final do post, mais um instigante comentário do jornalista Luis Nassif sobre as peripécias da Lava Jato. Mas eu também quero arriscar um ou duas opiniões.

Poderíamos resumi-lo – o artigo de Nassif – da seguinte maneira: estamos diante de mais um grande e leviano espetáculo da Lava Jato, misturando denúncias falsas com verdadeiras, fatos insignificantes com outros extremamente sérios. Tudo amalgamado por uma inacreditável irresponsabilidade perante nomes, partidos, histórias.

Possivelmente, a Lava Jato decidiu fazer a sua mais ousada operação de relações públicas, com vistas a acelerar os ataques ao presidente Lula, que é – como Dallagnol já deixou bem claro – o seu alvo preferencial.

Então a Lava Jato joga uma porção de lixo no ventilador, para continuar magnetizando a atenção pública e determinando a agenda política.

O objetivo da Lava Jato é bem simples: depois de arrombar as portas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e praticamente determinar qual será o resultado da votação por ali, depois de ter subsidiado o golpe que derrubou a presidenta Dilma, a Lava Jato agora tenta assumir o controle político do Congresso Nacional e do próprio Executivo, através da manipulação dos processos em suas mãos.

O vazamento de “delações” contra governadores tem o mesmo objetivo: manter os caciques partidários locais, e suas respectivas bancadas no Congresso, acuados, intimidados, ameaçados.

Enquanto tudo isso acontece, a Petrobrás continua entregando, a uma velocidade frenética, nossas reservas de petróleo, nossas refinarias, oleodutos, toda a nossa infraestrutura, a empresas estrangeiras…

Enquanto tudo isso acontece, os operadores da Lava Jato continuam subsidiando o Departamento de Justiça do governo americano com informações sensíveis sobre as principais empresas brasileiras, em especial, a Petrobrás.

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No Jornal GGN

Xadrez da lista de Janot, o senhor do Tempo

Por Luis Nassif
QUA, 12/04/2017 – 06:31
ATUALIZADO EM 12/04/2017 – 06:53

Peça 1 – o vazamento da lista da Janot

A divulgação da lista de inquéritos autorizados pelo Ministro Luiz Fachin não significa que, enfim, a Lava Jato resolveu tratar as investigações com isonomia, que o pau que dá em Chico dá em Francisco.

O Procurador Geral da República (PGR) Rodrigo Janot continua dono absoluto do calendário. Através do controle do ritmo das investigações, ele decide monocraticamente quem vai e quem não vai ser condenado.

Durante três anos, toda a carga foi em cima do PT e, especialmente, de Lula. Em três anos de investigações, há cinco ações em andamento contra Lula, uma perseguição impiedosa que culminou com o vazamento, ontem, da suposta delação de Marcelo Odebrecht, sob as barbas do juiz Sérgio Moro e ele alegando a impossibilidade de identificar o vazador. Some-se a informação do procurador Deltan Dallagnol de que o único vazamento efetivo de informações foi para o blogueiro Eduardo Guimarães. O que significa que todas os demais vazamentos ocorreram sob controle estrito da Lava Jato.
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Os 83 inquéritos misturam de tudo, de problemas formais de prestação de contas a suspeitas de manipulação de licitações. Independentemente da maior ou menor gravidade das acusações, todos passam à condição de suspeitos e/ou corruptos. Trata-se de uma tática tranquila, que criminaliza as pequenas infrações e dilui as grandes acusações.

Peça 2 – as circunstâncias em jogo

A caçada a Lula tem três pontos frágeis:

1. Até agora, ausência de uma prova palpável sequer contra ele.

2. A perseguição implacável contra Lula.

3. A seletividade das investigações, não investindo contra nenhum aliado do sistema.

Com a divulgação dos inquéritos, há duas intenções óbvias:

1. O sistema (não a Lava Jato) responde à acusação de seletividade, às vésperas do julgamento do alvo preferencial, Lula.

2. Ao mesmo tempo, mantém o governo Michel Temer refém.

A suposição de que a lista irá paralisar o mundo político provavelmente não será confirmada. Nas próximas semanas se verá uma aceleração dos trabalhos legislativos, visando aprovar o maior número de medidas antissociais, para garantir o pescoço.

Peça 3 – as consequências da lista

Com a lista de Janot, tenta-se resgatar a credibilidade perdida do sistema judicial, com a parcialidade e a seletividade gritantes da Lava Jato.

Levaram três anos para iniciar uma investigação contra Aécio, que era mencionado na primeira delação de Alberto Yousseff. Até hoje não iniciaram as investigações contra José Serra, apesar de um relatório sobre Paulo Preto estar na PGR desde março de 2015.

Com o estardalhaço de 83 inquéritos, passado o carnaval inicial, a PGR permanecerá dona do tempo. Acertará contas com Renan Calheiros e Fernando Collor, adiará indefinidamente os inquéritos contra seus aliados e terá às mãos a metralhadora, para apontar contra quem ousar enfrentar seus supremos poderes.

Os objetivos são óbvios:

1. Tentativa de inabilitar de Lula para 2018, agora sob o manto da isenção.

2. Vida tranquila para José Serra e Aécio Neves, que terão morte política natural, desde que deixaram a condição de grandes campeões brancos contra a ameaça Lula.

3. Congresso sob a mira dos inquéritos, deixando de lado qualquer veleidade de coibir abusos do MPF.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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