Denise Assis: Empiricus faz terrorismo econômico e tenta influenciar Lava Jato

Lula, o grande bicho-papão

Por Denise Assis, colunista do Cafezinho

Mal a cobertura do depoimento do ex-presidente Lula Da Silva, ao juiz Sérgio Moro, na sede da Justiça Federal, em Curitiba, havia começado nos veículos tradicionais de mídia, e já estava dado, nos primeiros comentários, qual o briefing havia sido passado sobre o que deveria ser a tônica do debate.

“A insistência do PT, em transformar em Fla X Flu, tudo o que cerca a sua política”, foi voz corrente entre os jornalistas. “Está na natureza do partido esta vitimização e esta polarização”, destacou um deles, de forma veemente, com assentimentos de cabeça dos demais que participavam da discussão.

Enquanto a conversa se dava, a minha caixa de correio eletrônico registrou a entrada de algo que não costumo abrir, (pois já sei do que se trata). Mas hoje, por sorte, fui conferir. E não é que valeu a pena? Como se a contestar o que estava sendo dito na TV, o documento da “Empiricus”, uma espécie de IBAD econômico. (Aquele Instituto Brasileiro de Ação Democrática, a face mais barra pesada do seu primo, o Ipês, que reuniu empresários, militares e uma parcela da Igreja, com o intuito único de defender o grande capital, derrubando, para isto, o ex-presidente Jango).

Não me perguntem o porquê de eu estar na lista daqueles que são “brindados” com as orientações financeiras desse grupo que quer “salvar” o país da grande ameaça em que se transformou o ex-presidente Lula. Dinheiro não tenho, e rica não sou.

Isto, hoje, porém, não vem ao caso. O que nos interessa é que o tal documento é uma verdadeira peça de terror, e a “edição” de hoje, assinada pelo CEO Caio Mesquita – um dos seus sócios – alardeia aos quatro ventos o quanto é perigoso esse tal de Lula. A abertura é uma foto do ex-presidente, com cara enfezada, discursando num fundo preto, impactante, sob o título: “A ameaça que pode arruinar o patrimônio de sua família”. Houvesse fundo musical e, certamente, seria a “5ª Sinfonia de Beethoven”.

Daí para baixo, o que se segue é uma série de retrancas alarmantes, com o único intuito de instaurar o pavor naqueles que já o temem. A primeira chamada deixa claro a que o texto se presta:

“O ex-presidente cresce a cada dia nas pesquisas e seu retorno em 2018 pode trazer prejuízos definitivos aos seus investimentos. Saiba exatamente o que você precisa fazer AGORA para se proteger daquilo que pode ser o maior pesadelo para suas finanças nos últimos 27 anos.”

Assim mesmo, com a ideia a ser incutida de forma subliminar em vermelho. Em seguida, o CEO insere uma verdadeira confissão de sua participação na articulação para o desfecho de 2016. Tudo isto numa linguagem caudalosa, que ameaça a cada frase entregar algo que não entrega, fazendo o leitor percorrer os labirintos de um raciocínio capcioso.

Caro leitor,

Meu nome é Caio Mesquita, sou sócio-fundador e CEO da Empiricus.

Em 2014 quando todos estavam otimistas, alertamos sobre O Fim do Brasil. Você já conhece os resultados daquele alerta.

Em 2015, vimos uma oportunidade de ganhos com a retomada da Bolsa e com o Tesouro Direto no Brasil. Acertamos novamente.

Com isso, nossos assinantes puderam aproveitar oportunidades que fizeram o seu patrimônio se multiplicar em poucos meses.

Nós não seguimos o conforto do senso comum.

Às vezes, nossas análises causam incômodo. Mas JAMAIS deixaremos de estar do seu lado.

Por isso, dada a gravidade da situação, preciso fazer um novo alerta:

Um cenário desastroso para 2018 está ganhando forma. Isso pode arruinar seu patrimônio, trazendo consequências para você e para a sua família.

Vemos nuvens carregadas no horizonte.

A maior ameaça às suas finanças desde o início dos anos 90.

***

De cara se percebe que depois do fechamento do Instituto Lula na véspera do evento de Curitiba, com o único intuito de injetar sangue nos olhos da militância petista presente, levando-a a reagir às provocações, o que se pretende é jogar mais gasolina no que já está pra lá de quente. O recado é explícito: “Lula é a ameaça que vai tomar o seu dinheiro”. Como se não estivesse esse governo, o deles, a roubar direitos e a encolher o país que temos.

O material da Empiricus não deixa dúvidas sobre quem está polarizando o quê. Quem está atiçando o jogo de 2018, apostando numa violência desnecessária e artificial, fomentada por boletins antiquados, com fórmulas usadas pelos velhos institutos golpistas dos anos 60. Sim, eles foram eficientes, mas hoje, com tantos outros recursos, não precisava lançar mão da velha fórmula de Joseph Goebbels, a de repetir mentiras à exaustão, para fazer parecê-las real.

Com o seu tom ameaçador Carlos Mesquita prossegue em sua verdadeira nova cruzada de salvação do grande capital:

Apontarei cada um dos 5 pontos que tornam o Lula 2018 um risco urgente ao seus investimentos.

Não importa se você tem imóveis, títulos públicos ou se seu dinheiro está em um grande banco.

Você precisa saber que seu patrimônio está sob ameaça.

Não pense que o problema é só para outubro de 2018. Você precisa agir já.

Senão, quando menos esperar, seu patrimônio terá sido corroído por esse efeito eleitoral devastador.

Parece exagerado?

Lembre-se das seguintes manchetes:

Fonte: O Estado de S. Paulo e Globo

***

A esta altura, Carlos Mesquita deixa muito claro que um boletim neste tom, lançado no dia de hoje, tem um único objetivo: influir no julgamento de Curitiba, a fim de tirar Lula do páreo em uma eleição onde ele já desponta como favorito, apesar da carga de polarização que eles, sim, fazem questão de jogar sobre um pleito que perigas nem acontecer. Mas, caso aconteça, terá os olhos do mundo grudados aqui, pois lá fora ninguém tem dúvida. Estamos sob o processo de um golpe que ainda não se consolidou e tampouco concluiu todas as maldades que programou contra a população brasileira.

(Confira o documento da Empiricus na íntegra: http://sl.empiricus.com.br/pe75-lula/?xpromo=XE-MI-EMP-PE75-SUBER-20170510-EMAIL-X-X&email=deniseassisjor@gmail.com)

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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