Os mais recentes absurdos cometidos por João Doria

Por Pedro Breier, colunista do Cafezinho

João Doria mudou o discurso há uma semana, em um evento em Nova York. Saiu de cena a história – que ninguém levava a sério – de que “Alckmin é meu candidato à presidência”. Doria agora diz que “Será candidato do PSDB aquele que tiver melhor posição perante a opinião pública”. Ele está na frente do seu mentor nas pesquisas.

O seu nome já vinha sendo construído como a alternativa da direita para a presidência. A mídia familiar faz o papel de assessoria de imprensa do prefeito/showman e a tendência é que a escolha da Globo e de seus satélites (Folha, Estadão, Veja, etc.) atropele qualquer resistência do PSDB, demonstrando cabalmente que o outrora grande antagonista do PT é apenas uma patética marionete nas mãos de quem tem o poder de verdade.

No meio de um furacão sem precedentes na política nacional, com Michel Temer e Aécio Neves sendo pegos conversando sobre compra de juízes e procuradores, propinas e assassinato de pessoas ao estilo de personagens do Poderoso Chefão, Doria, como uma criança tentando chamar a atenção dos pais, esperneia e se esmera para que não esqueçamos dele.

Fique tranquilo, João, estamos sempre à postos para analisar suas últimas peripécias.

A primeira que eu gostaria de ressaltar é a sua posição diante das provas acachapantes de que Michel Temer e Aécio são dois bandidos.

Doria, que adora mandar petistas para Curitiba e deve balbuciar durante o sono “Lula preso amanhã”, defendeu a permanência do seu partido na base do governo de Temer, o gângster: “O PSDB não deve romper com o Brasil. O PSDB deve ter equilíbrio. Numa situação como essa, bom senso, equilíbrio, serenidade, são fundamentais”.

Questionado se os fatos tornados públicos não eram graves o suficiente para um rompimento, disse que são gravíssimos e que era preciso investigar e punir quem fosse culpado. Ou seja, deu uma bela esquivada e não respondeu.

Se você for aliado do Doria, pode ser pego cometendo crimes que ele irá pedir “bom senso”; se for inimigo não interessam as provas, ele vai pedir a prisão. Parafraseando o sumido (graças a Deus) Marco Feliciano, Temer é o malvado favorito de Doria.

A segunda peripécia do prefeito/marqueteiro que quero comentar é muito grave para ser chamada assim. Na verdade foi uma demonstração de sua face truculenta, autoritária e completamente ultrapassada. Em ação conjunta com o governo do estado, chefiado por seu agora rival Alckmin, ofereceu aos dependentes químicos da cracolândia um tratamento baseado em tiro, porrada e bomba. O Conselho Federal de Psicologia divulgou nota chamando a ação de “barbárie” e “atrocidade”. Leiam este trecho:

Essa ação truculenta e absurda desmontou, arbitrariamente, uma política pública destinada a usuárias (os) de drogas, fundamentada nos princípios da atenção integral à saúde, do cuidado em liberdade, da redução de danos e voltada à ampliação da autonomia do sujeito, por meio da redução gradual do uso de substâncias e da promoção do acesso à assistência social, ao atendimento em saúde, e a oportunidades de emprego e moradia.
Assistimos indignados e apreensivos ao fim do programa “De Braços Abertos”, construído no diálogo com órgãos, entidades e coletivos atuantes no campo da política pública sobre drogas e direitos humanos, e sua substituição por um “novo programa”, batizado de “Redenção” pela gestão municipal.
Esse “novo programa” repete fórmulas ultrapassadas, inadequadas e ineficientes do ponto de vista da saúde mental. Repete o “Programa Recomeço”, do governo estadual, e a “Operação Sufoco”, da gestão municipal. As três iniciativas têm como princípios o tratamento por internação, inclusive involuntária, em parceria com comunidades terapêuticas mantidas por entidades confessionais, não sendo coincidência o nome “Redenção”.

Doria tenta vender uma imagem de moderno, mas sua política para dependentes químicos será lembrada como a cruel pré-história da humanidade na abordagem do problema.

Ele disse no domingo que “a cracolândia acabou”. Certamente alertado de que não é bem assim que as coisas funcionam, ontem mudou o discurso para “a meta será reduzi-la sensivelmente”. É um grande fanfarrão.

Por último, o momento cômico das últimas ações de marketing do PrefeiTop (esta página do Facebook que ironiza Doria é sensacional). Deem uma olhada na sua inacreditável explicação para a piora no trânsito das marginais em São Paulo, divulgada em reportagem do Estadão:

“Um pouco mais de confiança na economia de pessoas que não estavam usando os seus carros durante a semana, apenas nos finais de semana. E em relação às marginais, também. Isso reflete exatamente esse movimento”, disse. Questionado sobre a melhora no trânsito na região central da cidade, o prefeito disse ter achado o fato “estranho”, mas não o justificou.
(…)
Doria disse ainda que, com a crise política instaurada desde a divulgação dos áudios que comprometeram o presidente Michel Temer (PMDB), há possibilidade de que o tráfego volte a melhorar. “Agora, talvez em função desta situação política que gera um certo alerta, pode ser que isso iniba um pouco o fluxo daquelas pessoas que têm automóvel. Mas dentro da normalidade”.

É realmente um especialista em trânsito.

Não é de se espantar que a sua principal promessa de campanha resultou no aumento de mortes nas marginais. Vou repetir porque não é um fato banal: o prefeito da cidade, eleito para zelar pelos cidadãos, aumentou a velocidade nas marginais mesmo alertado, por vários estudos, de que isso geraria um aumento das mortes e acidentes graves, como de fato está ocorrendo.

O patético candidato da direita à presidência vai ter muita coisa para explicar na campanha.

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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