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O jornalismo de empulhação e o “mercado”

O jornalismo de empulhação que personifica o “mercado” por J. Carlos de Assis SEG, 31/07/2017 – 13:36 O noticiário econômico brasileiro é uma peça de ficção e de empulhação da sociedade. A maioria dos jornalistas de tevê e de jornal, notadamente dos grandes, mascara sua imbecilidade específica com conceitos ideológicos tomados do neoliberalismo sem qualquer […]

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O jornalismo de empulhação que personifica o “mercado”

por J. Carlos de Assis
SEG, 31/07/2017 – 13:36

O noticiário econômico brasileiro é uma peça de ficção e de empulhação da sociedade. A maioria dos jornalistas de tevê e de jornal, notadamente dos grandes, mascara sua imbecilidade específica com conceitos ideológicos tomados do neoliberalismo sem qualquer espírito crítico. Pior do que isso. É um jornalismo que se baseia numa figura fantasmagórica chamada “mercado”, que emite opiniões extravagantes como se fosse uma pessoa.
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Pela boca ou pela pena desses noticiaristas de circo o “mercado” fala, o “mercado” sente, o “mercado” ouve. Dão ao mercado uma personalidade específica, com sentimentos, razão e outros predicados humanos. O “mercado” é capaz de emitir extensos comentários a respeito das últimas medidas do governo, em geral repetindo noções elementares de economia que se tornam lições de idiotice para servir o público.

O leitor ou telespectador comum jamais saberão que, por trás do “mercado”, existe um jornalista imbecil ou preguiçoso que se livra de uma investigação responsável da matéria recorrendo ao ente “especializado” que inventou. O “mercado” tem, assim, uma dupla função. Servir como expressão da ideologia econômica de dominação, e possibilitar que o repórter preguiçoso, inventando um entrevistado, se livre da responsabilidade de fazer uma matéria decente, com nome e endereço do entrevistado.

Com mais de 40 anos de jornalismo econômico, jamais encontrei em qualquer instância de minha vida profissional o dito “mercado” – exceto, claro, as feiras livres de venda de hortaliças. Esse, sim, é o mercado. Entretanto, os jornalistas que cobrem bolsa provavelmente jamais visitaram um mercado real. O que não os impede de explicar o que levou o “mercado” a este ou outro comportamento, sem qualquer base real.

Todos sabemos que bolsa é um mercado absolutamente especulativo. Pode-se dizer que, matematicamente, é governado pela Teoria do Caos: pequenas alterações iniciais produzem grandes transformações finais, impossíveis de prever. Não obstante, os jornalistas de bolsa sentem-se obrigados a tomar o “mercado” como referência para avaliação de outros aspectos da sociedade, inclusive políticos.

Façam um experiência: vejam as afirmações do “mercado” no passado e comparem com o que veio depois. Quando se trata de previsões, só por pura sorte acertam. O “mercado”, em geral, tem prazo de validade de 24 horas. Para trás, os jornalistas que fazem do “mercado” seu porta-voz explícito não tem qualquer compromisso com a verdade ou a razoabilidade.

Mas a dominância absoluta da pessoa “mercado” no noticiário econômico não é a única extravagância brasileira nessa área. O contrário é ainda mais extraordinário. O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, cujas relações com o Itaú são notórias, tem prestado declarações segundo as quais a taxa de juros não caiu mais porque o Congresso não votou a reforma da Previdência, algo de notório interesse da banca privada, inclusive Itaú.

No contexto político em que o presidente da República foge de um processo por fraude e nove de seus ministros são apontados por corrupção, Ilan deve ter se sentido muito à vontade para defender abertamente os interesses da banca sem medo de conflito ético. É um país estranho este em que estamos. Vivemos entre o escárnio, a revolta e o nojo. Acaso isso poderá acabar bem?

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Clá

02/08/2017 - 13h18

Vou repetir minha pergunta:
Miguel, com todo respeito, preciso lhe fazer duas perguntas e eu gostaria que você entrasse nos comentários para respondê-las, pode ser? O que eu vou dizer pode soar como ofensivo, mas de forma alguma tenho a intenção de ofender, apenas explicito minhas impressões enquanto leitora, que está do lado de cá da tela.
1) Você recebe alguma coisa para omitir que, TUDO o que está acontecendo no país é obra da mão invisível da nova ordem mundial?
2) Se a resposta for negativa: por que você não explica para os leitores e para a população:
a) o que é a nova ordem mundial, quais os objetivos dos 1% que querem implementá-la e de que forma isso tem relação com toda a desregulamentação vigente no país.
b) O que é a PEC 55 (EC95), quem o idealizou e por quê, como esse dispositivo funciona e quais os efeitos atuais que ele já está produzindo no país.
As respostas a estas perguntas seriam as peças do quebra-cabeça que faltam, na cabeça da maior parte da população para que eles possam entender DE ONDE VEM tudo o que está acontecendo, inclusive, a quem mais interessa a prisão (e destruição) do Lula.
Omitir essas informações passa a impressão de que o blog está cooptado pelos iluminati e que os jornalistas têm a permissão de passar para a população apenas o que é aparente, mas devem ocultar as engrenagens, que estão invisíveis e que assim querem permanecer, para que possam fazer o serviço sujo de modo a não provocar uma convulsão social.
Miguel: aguardo seu posicionamento. Obrigada.

Clá

02/08/2017 - 13h16

Estou esperando, Miguel. Sua censura ao meu comentário denuncia contra você.

    Miguel do Rosário

    02/08/2017 - 15h30

    ?

Clá

02/08/2017 - 12h45

Miguel: você não vai publicar meu comentário? Seu silêncio confirmaria minhas suspeitas…

    Miguel do Rosário

    02/08/2017 - 15h30

    publiquei. aquele que voce me chamou de illuminati

      Clá

      02/08/2017 - 16h39

      E as respostas às minhas perguntas?

        Miguel do Rosário

        02/08/2017 - 16h57

        Não, Clá. Não sou iluminati. Nem sei o que é isso.


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