Há um motivo para ficarmos otimistas

Por Pedro Breier

Aproveitando a energia da sexta-feira, o dia que antecede o glorioso fim de semana, vou fazer um texto otimista. O meu otimismo vem do meio através do qual estas palavras chegam a você, que está lendo o Cafezinho neste momento: a internet.

Apesar de vivermos tempos sombrios, com os preconceitos, as opressões e os golpes em alta, a internet possibilita que esse tipo de coisa venha à tona quase que instantaneamente. E isso é ótimo.

Vou dar alguns exemplos.

Nos últimos dias, um caso de estupro por um motorista do Uber foi denunciado pela escritora Clara Averbuck. A forte reação nas redes sociais fez com que todos os grandes sites dessem a notícia. Diversas mulheres passaram a relatar episódios de assédio sob as hashtags #meumotoristaassediador #meumotoristaabusador. A Uber excluiu o motorista e, mesmo assim, passou a ser fortemente questionada.

Em outro caso, poucos dias depois, um homem se masturbou e ejaculou no pescoço de uma passageira de um ônibus que passava pela Av. Paulista. Foi levado para a delegacia logo após o episódio, mas o juiz não enquadrou o ato como estupro por julgar que “não houve constrangimento tampouco violência”. Mais uma vez, a reação nas redes sociais foi forte. Nome e foto do juiz foram divulgados e criou-se um evento no Facebook chamado “Esporraço no Juiz José Eugenio”, com milhares de confirmados e interessados.

Podem parecer reações inócuas, mas não são. A exposição e a denúncia do machismo das instituições nunca foi tão instantânea e chegou a tanta gente em tão pouco tempo. A revolta é o embrião para futuras mudanças de paradigma.

A marcha dos nazistas nos EUA, no mês passado, foi outro evento grotesco que espalhou-se pelo mundo em tempo real, muito mais rápido do que rastro de pólvora. A consternação e a condenação ao ato foram globais. Muitos dos participantes da marcha foram identificados nas fotos e denunciados para seus empregadores, o que provocou a demissão de alguns. Tudo graças à catarse coletiva nas redes sociais.

O próprio golpe contra a democracia brasileira de 2016 já nasceu completamente desmoralizado justamente porque foi acompanhado em tempo real por milhões de pessoas. O espetáculo dantesco dos nossos parlamentares berrando coisas sem nexo ao rasgar milhões de votos chocou o mundo, ao vivo. Cada ato do ridículo governo Temer é analisado e criticado por um exército de pessoas revoltadas, o que gera um efeito cascata na consciência coletiva do nosso povo.

Eu sei que a internet ainda é uma bolha e o controle da informação ainda é uma dura realidade no mundo todo. Mas a bolha inevitavelmente vai crescer e o muro que represa o livre fluxo das informações vai, cedo ou tarde, ruir.

Quando isso acontecer, cada ato de violência e de ódio, seja cometido por pessoas, grupos, empresas ou pelo Estado, estará ainda mais exposto à reprovação e à revolta maciças da sociedade e, naturalmente, será cada vez mais raro.

Tudo o que vem do ódio e da falta de empatia não convive bem com a luz; precisa da sombra e da escuridão para vicejar.

Bom fim de semana!

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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