Janot, de Moros à Ícaro, substituiu as flechas por asas de cera

25/07/2017- Brasília- DF, Brasil- O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, durante reunião do Conselho Superior do Ministério Público Federal (MPF) para analisar a proposta de orçamento do MPF para 2018 Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Por Tadeu Porto

Nunca escondi que acho tanto o juiz Sérgio Moro quanto o procurador Deltan Dallagnol dois atores políticos de capacidade intelectual muito aquém da figura histórica que representam. Em outras palavras, o Brasil parou na mão de uma equipe medíocre, fraca mesmo, que não passa de um monte de clichês ambulantes incapazes de discutir, efetivamente, os dilemas no país.

Mas nunca pensei isso do Rodrigo Janot, o Procurador Geral da República. Talvez seja o velho bairrismo mineiro que não me deixe enxergar possíveis defeitos do meu conterrâneo, mas Janot sempre me pareceu ter certo controle da situação, claro, dentro dos limites possíveis que essa conjuntura maluca oferece.

E é por isso que estranhei, e muito, a foto onde Rodrigo aparece com o advogado de Joesley Batista, Pierpaolo Bottini, um dia depois de pedir a prisão do seu cliente, num ambiente tosco, de maneira mais tosca ainda (óculos escuro em ambiente fechado e mesa escondida entre engradados de cerveja).

Imagino que Brasília deve ter milhares de lugares para encontros reservados e, mesmo que não haja, pessoas importantes como o PGR e o escritório de advocacia do maior exportador de carne do mundo sempre têm interlocutores para fazer esse papel.

É mais estranho ainda que tudo ocorra há três dias do julgamento no qual o STF irá decidir, a pedido de Temer, se Janot é suspeito, ou não, para levar o caso JBS a frente. Um “erro” desse é muito conveniente para que o supremo declare a suspeição do Procurador Geral, da maneira que o Presidente usurpador quer [tipo um pacto, com supremo, com tudo, saca?].

Se tivesse que apostar, eu chutaria que Janot fez de propósito, seja por chantagem, suborno ou pois vislumbrou uma maneira de suavizar sua futura derrota. Contudo, se ele está mesmo no desespero que aparentou quando saiu, aos prantos, de uma reunião com Lúcia e Fachin às vezes pode ter cometido tamanho amadorismo. Nesses tempos de reviravoltas diárias na narrativa política, tudo é possível (quase tudo, Moro absorver o Lula é impossível).

Enfim, se há algum certeza na foto (além de que Janot é um bom mineiro e escolheu um risca faca tradicional) é de que a imagem do procurador se derrete com tamanha imoralidade e que, a seguir nesse ritmo, a operação Lava-Jato poderá ir junto.

Bom, existe também outro fato concreto acerca do ocorrido: o mineiro só está sendo chutado da mise-en-scene brasiliense pois, depois de ajudar no impeachment da Dilma, se esbarrou no suprassumo do já falido presidencialismo de coalizão, com o legislativo mais achacador da história (palavras de Cid Gomes), o supremo mais acovardado (palavras de Lula) e o executivo que dispensa apresentações.

Vale relembrar, aqui, o papel crucial que Janot teve no Golpe 2016: prevaricou acerca das inúmeras ilegalidades que o impeachment apresentou; segurou a denúncia contra Cunha que poderia jogar tudo por água abaixo e alimentou a mídia com vazamentos seletivos e cirúrgicos, no tempo certo para desgastar o PT e seu alto escalão.

É inimaginável pensar que enfrentar Cunha, Temer, Aécio & Cia seria como confrontar o “republicano” PT. Um partido que não teve coragem nem mesmo de escolher alguém alinhado com o seu pensamentos ideológicos para os cargos institucionais que lhe cabia, se entregando ao corporativismo do voto local, não pode ser considerado um adversário forte no campo burocrático (FHC com um só ministro, Gilmar Mendes, faz estragos até hoje no país).

Enquanto o MP sob o comando do pão de queijo disparava flechas e mais flechas sobre o Partido dos Trabalhadores, Rodrigo era rei, incontestável, paladino da Ética e da Moral e grande herói nacional. Foi só arrumar malas de dinheiro que atingia Temer e Aécio que o as asas do procurador começou a derreter.

Afinal, uma coisa é ajudar a desconstruir um partido que a mídia e o mercado – por interesses próprios e escusos – querem derrubar, outra coisa, muito diferente, é pensar que vai derrubar o sistema todo só com algumas flechas institucionais.

Se Janot escolheu ou não colar as penas de sua asas com cera para voar em direção ao sol, ou mesmo deixou três flechas guardadas para dispará-las simultaneamente e voltarmos aos tempos do caos, a história irá esclarecer como a ciência desnuda uma mitologia.

O fato é que a queda do Procurador parece ser mais um aperto no torniquete que fará a sangria perder vazão até que seja definitivamente estancada.

Tadeu Porto: Petroleiro e Secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil
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