O MBL, ainda bem, provocou o óbvio: banco não faz política pra minoria

Charge: Julião

Charge: Junião

Por Tadeu Porto

Há algumas semanas o Santander começou a veicular uma propaganda onde garante ao povo brasileiro que sua nova “carteira de trabalho” é o empreendedorismo (óbvio que não vou postar aqui para não dar ibope). Há tempos eu não via tamanho descaramento, onde um banco privado, com denúncias sérias de sonegação, simplesmente decide fazer política e faz um ataque direto à constituição de 88, sem respeito algum aos motivos que fizeram nossa carta magna ter uma estrutura pautada no bem estar social.

Bom, não precisa ser nenhuma Sabrina Pasterski para saber que, sem carteira de trabalho e tributos como INSS e FGTS, todo o sistema trabalhista brasileiro está comprometido e, assim, bancos como o Santander jogam diretamente para aumentar seus lucros já exorbitantes quando tira o dinheiro de fundos sociais, como a previdência, para transações bancárias monopolizadas (quantos grandes bancos tem no Brasil?) e má reguladas.

Concomitante a isso, o banco aproveitou as isenções fiscais do fomento à cultura no país para promover uma mostra de arte com temática LGBT (“Queermuseu” um termo associado à homossexualidade) que, sejamos justos, traz à tona um debate muito importante nesses tempos de intolerância e preconceito aflorado.

Mas é aí que mora o perigo.

Basicamente, o Santander atendeu um pleito justo mas não por querer um mundo efetivamente livre, onde as pessoas possam ter as mesmas oportunidades para serem o que deseja, mas sim para criar certa cortina de fumaça para seu verdadeiro objetivo que é fazer o Brasil continuar um país de terceiro mundo onde ele possa usar e abusar do capital especulativo (“vadio” como diz Requião).

E, claro, quis ainda buscar pagar menos impostos com isso.

Se quisesse mesmo promover algum tipo de inclusão, o Santander começaria pela a social (a mãe de todas as desigualdades), contudo suas atitudes recentes como a propaganda contra a CLT mostra que o banco está totalmente alinhado com a destruição do Brasil tocada pelos golpistas capitaneados por Michel Temer.

Assim, ao ceder a pressão do MBL e de alguns políticos, a pele de cordeiro do Santander caiu prontamente, desnudando o lobo e sua insaciável fome pelos direitos e bem estar da população. E o fato da máscara do banco cair e ele ceder à um movimento que parece que saiu do séc. XVIII direto pra cá, foi a melhor coisa que poderia ter acontecido nesse ambiente.

Honestamente, penso que o estrago ia ser muito maior se o Santander saísse como defensor das causas das minorias, se efetivamente abraçasse a causa e peitasse os projetos de fascistas que atacaram a mostra de arte. Imaginem as consequências que trariam para a esfera progressista se um Banco que abraça diretamente as privatizações no país e é a favor de destruir a CLT e a previdência, saísse como herói de um episódio como esse?

Se toda a agenda de desconstrução que estamos vivendo – de machismo, racismo, LGBTfobia entre outras – que fazem as minorias quererem cada vez mais se manifestar (e o fascismo se arvorar no contraponto a essas posições) for abraçada e vencida por falsos liberais, tempos sombrios estarão a nossa espera, onde a luta justa contra o preconceito vai ser apenas mais um catálogo de venda de alguma empresa e não a busca pela igualdade efetiva.

É bom mesmo que fique às claras quem é ou não inimigo nos Golpes diários que a população sofre. E os bancos, obviamente, amigos não são.

Tadeu Porto: Petroleiro e Secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil
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