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As antenas abertas da América Latina

Panorâmica de Quito. (Créditos: Alexandre Santini / ANF) As antenas abertas da América Latina Por Alexandre Santini, no site da Agência Nacional de Favelas 22 de novembro de 2017 155 A ANF está em Quito, Equador, participando do III Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária. São cerca de 600 participantes, de 18 países, debatendo políticas […]

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Panorâmica de Quito. (Créditos: Alexandre Santini / ANF)

As antenas abertas da América Latina

Por Alexandre Santini, no site da Agência Nacional de Favelas
22 de novembro de 2017 155

A ANF está em Quito, Equador, participando do III Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária. São cerca de 600 participantes, de 18 países, debatendo políticas culturais e alternativas políticas e civilizatórias para o continente e para a humanidade, tendo a cultura como a alavanca que muda e move o mundo. Há muito a dizer sobre este encontro. Mas esse será um tema para a próxima coluna.

Hoje, eu quero falar sobre a minha atividade preferida nas horas de folga e descanso durante a viagem: assistir TV! Quase nunca vejo televisão quando estou no Brasil. Porém, nas últimas andanças pela América Latina, tem me impressionado a qualidade, quantidade e diversidade de notícias e informações transmitidas pelas TVs dos nossos países vizinhos, uma realidade (muito) diferente da que vivemos no Brasil.

Assistindo à televisão no Equador, tive acesso a dados e análises detalhadas sobre a reviravolta eleitoral no primeiro turno das eleições presidenciais no Chile. Acompanhei o encontro da Alternativa Bolivariana para as Américas (ALBA), que reuniu em Montevidéu representantes da América Latina e Caribe em defesa da democracia e contra o neoliberalismo. Soube que o ex-exército revolucionário colombiano FARC – agora um partido político, que mantém a mesma sigla, mas se chama Forças Alternativas Revolucionárias do Comum – está denunciando a justiça eleitoral da Colômbia por uma série de medidas contrárias aos Acordos de Paz que puseram fim aos mais de 50 anos de conflito armado naquele país.

Vi a entrevista coletiva sobre a reunião ocorrida na Nicarágua, entre o governo e a oposição da Venezuela, para uma tentativa de mediação sobre os conflitos que levam hoje o país à beira de uma guerra civil. Equador e El Salvador assinaram um importante tratado de livre comércio esta semana. E o presidente equatoriano Lênin Moreno convocou a população para sair às ruas, em uma manifestação que reuniu milhares de pessoas, defendendo a realização de uma consulta pública para deliberar, com a participação da sociedade, sobre temas variados, que vão da reforma do sistema de saúde à legislação sobre direitos autorais.

No Equador, você tem acesso a canais de vários países: Colômbia, Venezuela, Argentina, Espanha, Cuba, Peru, Bolívia. A TV pública equatoriana é excelente, e o canal oficial do governo tem uma programação diversificada, estando entre os mais assistidos no país. No entanto, as TVs comerciais também estão no ar, e opiniões contrárias ao governo circulam da mesma forma e com total liberdade na televisão, no rádio, nos jornais impressos e na internet. O cinema latino-americano tem grande espaço nas grades de programação. As telenovelas de vários países, incluindo as brasileiras, também são destaque. Ah, e a TV Globo também é retransmitida aqui – em pay-per-view – na TV a cabo.

Fica evidente o atraso e a falta de qualidade dos meios de comunicação no Brasil. Nossa TV aberta, comparada com os países latino-americanos, é de péssima qualidade, e, mesmo nos canais a cabo, o leque de opções é restrito. Não é razoável que, sendo um país latino-americano, a TV a cabo brasileira não retransmita canais dos outros países, fortalecendo nossa integração política e cultural com a região. A falta de diversidade de pensamentos e opiniões na TV brasileira é gritante quando comparada à programação dos nossos vecinos.

A comunicação de massas no Brasil é cultural e politicamente rebaixada, sequestrada pela mediocridade do pensamento único. Estamos presos a grades de programação que nos impedem de olhar para o mundo e refletir a nossa própria potência e diversidade. E por mais que estejamos avançando na ocupação de novos meios e tecnologias alternativas de informação, é preciso fazer a reforma agrária do ar: ocupar os sinais, as antenas e reformar profundamente os meios de comunicação como condição fundamental para o pleno funcionamento da democracia em nosso país.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Hell Back

25/11/2017 - 22h52

Quem diria que a TV brasileira iria perder em qualidade para as TVs latino-americanas. Única explicação para esse fenômeno é a presença da Globo. Nada supera a ruindade de programação da Globo.


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