Brizola Neto: perseguição a Lula é repetição histórica do que fizeram com Vargas, Jango e Brizola

O vídeo abaixo foi preparado pela equipe de Leonel Brizola Neto.

A Legalidade e a Porto Alegre de 24 de Janeiro

Por Leonel Brizola Neto, para o Cafezinho

Em novembro de 2010, na inauguração do Centro de Referência do Trabalhador Leonel Brizola, Lula, então presidente, contou em tom anedótico que o ex-governador o levou em São Borja e; diante do túmulo de Getúlio Vargas, o apresentou ao líder trabalhista. Segundo Lula, em determinado momento, Brizola teria lhe perguntado se ele gostaria de falar com Vargas, ao que Lula respondeu – não, eu não quero falar com Vargas. A plateia explodiu em risos.

Em 1992, no auge do processo de impeachment de Collor, num de seus Tijolaços, Leonel Brizola advertiu o PT de que a adesão aquele movimento era um equívoco e que o partido, no futuro, poderia ser vítima do mesmo processo.

Em 1979, de volta do exílio, Leonel Brizola vai até São Bernardo do Campo conversar com o presidente do Sindicato do Metalúrgicos do ABC paulista para propor uma união. Lula, numa deselegância absurda, dá um chá de cadeira de duas horas em Brizola e o recebe de maneira extremamente fria por apenas trinta minutos. Infelizmente, a aliança entre os dois maiores líderes trabalhistas não aconteceu.

O PT se constituiu, em grande parte, pela crítica ao legado trabalhista: contra o “populismo” de Vargas, Jango e Brizola; contra a CLT de “inspiração” fascista que, segundo a ótica petista, atrelava os sindicatos ao Ministério do Trabalho, abrindo espaço a figura do pelego e contra o “caráter” autoritário e caudilhesco dos líderes gaúchos.

Essas críticas, oriundas das narrativas sociológica, histórica e política da USP, são responsáveis pela esquizofrenia da esquerda pós-64: ao mesmo tempo que é contra o golpe militar é, também, contra os que sofreram o golpe. Não me lembro de nenhuma liderança petista, antes do inferno astral que se abateu sobre o PT que teve início com o “mensalão”, se referir elogiosamente a algum líder trabalhista. Nunca vi nenhuma vez a exaltação da Campanha da Legalidade de 1961. É só pegar os textos do partido e verificar se existe um único que seja simpático a Getúlio Vargas. Não há!

Pois bem. Depois dessa campanha asquerosa da mídia e do judiciário contra o PT, o partido passou a associar a pancadaria que Lula e Dilma começaram a receber com os episódios que levaram ao suicídio de Vargas em 1954. Descobriu-se, como por encanto, que aqueles “populistas odiosos” não eram tão odiosos assim. A pimenta só ardeu quando caiu no olho do PT.

De fato a história se repetiu. Claro que não com os mesmos personagens, tampouco o mesmo enredo, mas sim, em sua estrutura básica. Toda vez que a direita fica muito tempo fora do poder e sem perspectivas eleitorais de voltar, capitaneadas por interesses externos e tendo a mídia a seu favor, apelam para o golpe. Entretanto, com um personagem novo: o judiciário.

Agora que as atenções do Brasil e do mundo se voltam para o dia 24 em Porto Alegre quando o Lula será julgado pelo TRF-4, o PT lança mão de mais um feito épico trabalhista: A Campanha da Legalidade. E o faz muito bem diga-se de passagem. Mas é preciso situar algumas questões. Em primeiro lugar: Brizola uniu povo e exército para combater o golpe do impediamento da posse de João Goulart. O povo, em armas, atendeu ao chamado de Leonel Brizola. Segundo ponto: Se Jango tivesse aceito a proposta de Brizola, o povo e o exército subiriam até Brasília o empassando na Presidência, o Congresso seria fechado, haveria convocação de novas eleições e teríamos uma nova Constituição.

A Legalidade agora é para garantir o direito de Lula ser candidato. Todas as forças progressistas deveriam ser contra um julgamento recheado de erros formais e desprovido de qualquer prova que incrimine o ex-presidente Lula.

Mas Lula quer ser candidato para que? Para passar a mão na cabeça dos golpistas? Para escrever a nova versão da Carta aos Brasileiros? Para promover uma nova conciliação de classes? As referências às batalhas trabalhistas ficarão restritas nas comparações com a tentativa de golpe em Getúlio nos anos 50 e na espetacular resistência liderada por Brizola em 1961? Uma vez candidato se lembrará das reformas de base de Jango? Se lembrará da lei de remessa de lucro proposta por Vargas? Fará como Getúlio que em 1952 não concedeu canal de Televisão para Roberto Marinho? Se lembrará da encampacão de multinacionais feita por Brizola? Se lembrará dos CIEP`s?

Lula, para resistir de fato ao golpe, precisa, antes do dia 24, auscultar, sem risos e chacotas, a mensagem inscrita nos túmulos de Vargas, Jango e Brizola em São Borja. Precisa aprender com a história que o trabalhismo foi a corrente de pensamento e a prática política que enfrentou o imperialismo, bem como seus agentes reacionários internos no Brasil.

Leonel Brizola Neto é vereador (PSOL) pela cidade do Rio de Janeiro.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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