É preciso unidade. Por Eduardo Condé

Há pelo menos uma certeza diante de uma tal aglomeração de fumaça: é preciso algum nível de unidade política e programática do centro para a esquerda.

A possibilidade para derrotar as forças do golpe de 2016 e permitir uma virada de página é diretamente proporcional à possibilidade em construir pontes entre possibilidades convergentes. Compreendo, não sou dos argumentadores raivosos, a estratégia de curto prazo do PT: seria preciso pensar na força do partido, na formação de bancadas e na própria capacidade em permanecer como força de esquerda. Compreendo também que o “não existe plano B: é Lula”, está contextualizado na luta contra a injustiça de uma prisão política e sem provas e na esperança em manter a maior liderança politica brasileira como interlocutor indispensável.

As pesquisa parecem, ainda que só pareçam, confirmar o acerto dessa lógica: a direita permanece firme com o palhaço armado; a neoliberal de SP não decola, antes desacelera; Marina continua sendo nada (exceto recall), o dono da riachuelo, o Dias (o rei do botox de Curitiba) e o Amoedo são outros três rostos que ninguém sabe direito quem são. Para completar, vários eleitores dizem nem saber em quem votar ou então simplesmente dizem que não votam em que aí está com mandato. Assim, se Ciro está entre 9% e 11% e Boulos e Manuela perto de 1%, por que deixar de lado um capital eleitoral de tal dimensão como o representado por Lula?

Vamos repetir para ficar claro: Lula merece e deve ter toda nossa solidariedade; ele é prisioneiro de uma sentença sem provas e encarcerado por motivos políticos claros – seja por sua força eleitoral, seja pelo que representa. Estamos com ele até o fim na luta contra a arbitrariedade e aos seus direitos, que não se duvide disso. Mas, e aqui divirjo de muitos colegas petistas, a estratégia “até o fim” é uma aposta no vazio. Pode-se aguardar, mas o campo da direita se movimentará: vai consolidar-se em alguém mais competitivo daquele campo; o mercado financeiro é capaz de apoiar até o heroi do coturno e indicar seu ministro da fazenda; Arida, Bacha e Arminio estão com Alckmin e sabemos o que essa gente representa; se Amoedo e Alvaro Dias são meros coadjuvantes, eles marcham juntos perto do fim e, finalmente, a soma dessa mediocridade consolida tempo na TV para martelar sua deidade preferida: o mercado disfarçado de “liberdade”. E aí ficamos nós a ver navios debatendo quem está mais à esquerda – ou quem é de esquerda de verdade.

Nâo há vida fora de alguma unidade, não há esperança sem que possamos construir um programa mínimo comprometido com o desenvolvimento, o fortalecimento da soberania, políticas sociais inclusivas, politicas fiscais que taxem ricos e onerem heranças, a defesa da indústria nacional e das universidades públicas, a intransigente defesa do SUS, o fim dessa lei do teto de gastos, o entendimento sobre o caráter social da previdência, a defesa da Petrobrás, da Eletrobrás, da Embraer como empresas nacionais, o imposto sobre capital financeiro, o papel do BNDES, e medidas assim. Quero ouvir Ciro Gomes sobre estes temas, quero ouvir Manuela e Boulos com isso. Continuo achando que a vitória estaria na chapa Ciro e o PT, em uma ética de responsabilidade forte o suficiente par tal. Ou se Boulos tivesse força para liderar uma coalizão que representasse essa possibilidade.

Por pragmatismo, continuo preferindo Ciro comprometido com um programa assim. Eleição não é um ato de amor ao candidato, no mínimo é preciso ter empatia com um programa e racionalidade para distinguir a conjuntura. Há dois objetivos – derrotar as forças do golpe e reconstruir o pouco que avançamos para avançarmos mais. Rogo que a razão política que move o PT volte-se para esta esperança e escape do vazio de um tempo para o qual a história cobrará sua fatura. Seria uma vitória contra o arbítrio e um recado ao judiciário de partido. Não é o meu sonho preferido, mas pelo menos poderemos dormir sem o risco de um pesadelo fascista ou de uma plataforma que seja um michel temer outro escudado por Bacha e Arida.

Eduardo Salomão Condé
Professor na Universidade Federal de Juiz de Fora, mestre em Ciência Política e Doutor em Economia Aplicada.

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