A carta de Temer a Caetano Veloso

O Brasil tem uma coisas inacreditáveis. Essa carta de Temer a Caetano passou por meus olhos na semana passada, e eu acho que escolhi não crer em sua veracidade. Passaram-se uns dias e o assunto foi soterrado em minha mente pelo turbilhão dos acontecimentos.

Mas lendo hoje o comentário de um colunista, que faz menção à carta, entendi que é importante deixar o registro aqui.

Sim, Temer se dispôs a escrever uma longa carta a Caetano, repleta de autoelogios.

Ao final do post, a réplica, em vídeo, de Caetano.

O contexto da carta é o seguinte, na descrição do Estadão, que foi de onde eu tirei a carta:

Por meio de sua assessoria, o presidente Michel Temer enviou uma carta a Caetano Veloso, rebatendo críticas feitas pelo cantor.

Em julho, Caetano escreveu em uma rede social que Temer é “dissimulado”, acusou-o de “criar conchavos” e, em comparação ao presidenciável Ciro Gomes (PDT), disse que “cala com astúcia”.

Afirmando querer registrar um “contraponto” ao que disse Caetano, Temer aproveita para atacar o candidato à Presidência do PDT, chamando-o novamente de “pigmeu político”.

Ao final, afirma que nunca se negou a ouvir críticas, destacando que voltou atrás na decisão de extinguir o Ministério da Cultura. Na época, Caetano Veloso e sua mulher, Paula Lavigne, foram críticos à mudança.

***

Prezado Caetano Veloso,

Na comparação que fez entre Ciro Gomes e o presidente Michel Temer, o senhor disse que Temer é dissimulado, cria conchavos, não pensa no povo e é do passado. Ciro fala com coragem e Temer cala com astúcia.

O presidente gostaria de registrar um contraponto para sua apreciação.
Michel Temer nunca fugiu de embates, seja como secretário de Segurança Pública, onde dialogou com grevistas, estudantes e policiais em greves ou manifestações – sempre de peito aberto e ouvido atento às reivindicações. Ou debateu publicamente com outros políticos muito temidos, admirados ou respeitados em Brasília. Basta procurar em jornais do passado. No presente, os atores são menores: há ações nos tribunais contra Ciro Gomes, a quem o presidente classificou de pigmeu político.

Em política, não há conchavos na prática do presidente, mas articulação. Foi assim que a primeira lei de iniciativa popular no país foi aprovada na Câmara dos Deputados em sua primeira gestão à frente da Casa Legislativa. E outra única lei do mesmo modelo também conseguiu aprovação quando Michel Temer era presidente da Câmara, a lei da Ficha Limpa. Ambas com grande resistência interna. Foi articulando que se aprovou a lei de Acesso à Informação, por exemplo.

No Palácio do Planalto, produziu grandes gestos no meio ambiente: criou a maior área de preservação marinha do mundo (área correspondente ao tamanho de duas Franças); acrescentou 400% à área de preservação do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, criou parque na caatinga e permitiu que se investisse cerca de um bilhão em multas do Ibama em projetos de recuperação de áreas degradadas. Só a Petrobras já anunciou 300 milhões para recuperar a bacia do Rio São Francisco. Temer dobrou a área ambiental protegida do país em dois anos. Isso é ser moderno de fato.

No campo social, foram dois aumentos para o Bolsa Família, seis bilhões para financiamento de microcrédito dos mais carentes e redução da inflação de 10% para 3%. Queda dos juros de 14,25% para 6,5%. Aprovação da reforma do ensino médio, há 20 anos parada no Congresso. O governo Temer dinamizou a economia e o investimento retornou em áreas que estavam paradas. Recuperou empresas estatais que estavam quebradas. Impôs limites aos gastos do próprio governo, atitude racional de que não se gasta o que não se tem (prática que desrespeitada gera contas monumentais sempre pagas pelo povo).

As reformas foram modernas, portanto. E tornaram o país melhor para o futuro. Isso, sem ser boquirroto, deselegante e deseducado. Exerceu sempre o diálogo com as pessoas de todas as classes e todos os matizes sociais. Nunca se negou a ouvir críticas. E procurar soluções para o país.

Tanto que mudou de ideia ao ouvir o setor cultural sobre a transformação do ministério da Cultura em Secretaria de Estado. Aliás, naquele momento histórico alguém trouxe ao presidente o nome de uma excelente advogada do Rio para ser secretária, pois ela conhecia muito bem o setor cultural e era especialista em direitos do autor. Era um pouco idosa, mas muito ativa. Pena que não houve vozes claras e límpidas para defender publicamente seu nome e ficaram somente nos conchavos.

É em nome da transparência e de estar aberto sempre ao contraditório, que o presidente registra alguns dos atos que praticou e comportamentos que sempre teve. De forma civilizada e respeitosa, para um músico e compositor que tanto representa para a cultura brasileira.

Obrigado pela atenção.

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A réplica de Caetano:

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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