Bolsonaro e a parábola do semeador

“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito sob o sol.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de colher;”
Eclesiastes, 3: 1,2.

Por Gustavo Castanon

Lamento profundamente uma tentativa de assassinato numa eleição presidencial brasileira.

Não tínhamos essa terrível tradição.

A polarização odienta entre coxinhas e mortadelas se aprofundou e aterroriza o país com a nova e mais radical polarização entre fascistas e sebastianistas messiânicos.

Para esta polarização, não temos a mediação das instituições.

Mas eu acho que o que nos cabe agora é perguntar como chegamos até aqui, para que não sigamos nesse caminho nem um passo a mais.

E a verdade é que há hoje um homem no Brasil que é o maior responsável individual pela radicalização do país.

Ou não sabemos quem trata um quarto da população como “comunista” o satanizando e criminalizando brutalmente?

Quem é que declarou que para consertar o país deveria “matar umas 30 mil pessoas”?

Quem é que alavancou sua carreira estigmatizado gays, negros e mulheres?

Quem é que disse que preferia um filho morto a um filho gay?

Quem é que pediu o fuzilamento de FHC?

Quem é que pediu o fuzilamento de Lula?

Quem é que homenageou o torturador de uma presidente – um homem que colocava ratos em vaginas – no momento que a derrubava?

Quem é que disse que ia metralhar a Rocinha como política de segurança?

Quem é que ensina crianças a glamourizar a violência armada?

Quem é que estava “brincando” que ia metralhar os petistas do Acre essa semana?

Quem é que tem como sua principal plataforma de segurança armar a população?

Embora seja muito difícil para um candidato a presidente dizer que um homem que sofreu um atentado atroz e está nesse momento numa cama de hospital esteja colhendo o que plantou, igualmente é temerário transformá-lo numa mera vítima do ódio político.

Bolsonaro tem sido o mais incansável semeador do ódio no Brasil.

Particularmente acredito que o ideal é que todos os candidatos a presidente acertassem nesse momento um pedido coletivo pela volta à paz política no Brasil, mas ao mesmo tempo lembrassem que o que aconteceu hoje é a prova de que a polarização odienta transformada em atos só pode levar o Brasil ao desastre.

Uma eleição não pode ser uma disputa entre vítimas e seus porta vozes, mas entre projetos.

A política de desumanizar seus opositores e ameaçar matá-los pode ser levada a sério por alguns.

A política de armar a população em geral teria provocado não uma facada, mas provavelmente três tiros.

E vários outros em resposta no meio da multidão.

Esse evento terrível é a prova de que Bolsonaro está errado.

Que o que ele prega arruinará o país.

Depois de armar os espíritos, ele agora quer armar as mãos dos brasileiros.

Já temos a primeira vítima dessa política.

Quem serão as próximas?

Esse não pode ser o Brasil onde cresci.

Será que esse é o Brasil que queremos para nossos filhos crescerem?

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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