Nova delação de Palocci acusa Lula de “nacionalizar indústria naval”

Palocci, ex-ministro da Fazenda em quase todo o primeiro governo Lula e ministro-chefe da Casa Civil nos primeiros seis meses do governo Dilma, tornou-se um dos delatores mais disciplinados da Lava Jato.

O ex-ministro tenta firmar, agora, um terceiro acordo de delação premiada, envolvendo, mais uma vez, o ex-presidente Lula. Há respingos ainda na ex-presidente Dilma.

O ex-ministro acusa Lula de usar seu poder como presidente da república para “nacionalizar” a indústria naval. Uma ação política que, em qualquer outro país, mereceria louros, ainda mais por ter sido bem sucedida, no Brasil de hoje se tornou crime.

Palocci alega, todavia, que Lula tinha segundas intenções ao fazê-lo, que seria bancar várias campanhas presidenciais do PT. Talvez (delação não prova nada, mas cria uma narrativa) até seja verdade que Lula tenha pensado isso, mas aí também não temos propriamente crime, e sim uma consequência – sempre questionável, do ponto-de-vista ético – do financiamento empresarial de campanha.

O financiamento empresarial, sempre é bom lembrar, era legal e não foi inventado por Lula ou pelo PT.

Mas essas nuances – que em outros tempos definiam os limites legais da lei – parecem não mais importar para a justiça brasileira.

A presidente Dilma deve se lamentar muito por ter aprovado, sem uma reflexão crítica, a lei da delação premiada…

De qualquer forma, com base em fatos ou não, a próxima delação de Palocci, mais uma vez vazada antes mesmo de acontecer ou ser homologada, é mais chumbo grosso contra o PT.

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No blog do Fausto

Palocci negocia com Procuradoria no DF delação sobre fundos de pensão

Ex-ministro foi ouvido por integrantes da força-tarefa Greenfield, que também mira fraudes na Caixa e no BNDES, nesta segunda-feira, 7

Por Teo Cury e Fabio Serapião/BRASÍLIA

07 Janeiro 2019 | 16h00

O ex-ministro Antônio Palocci (Governos Lula e Dilma/Fazenda e Casa Civil) está em Brasília com seus advogados para negociar um novo acordo de delação premiada com a Procuradoria da República no Distrito Federal (PR-DF) no âmbito da Operação Greenfield, que apura desvios nos maiores fundos de pensão – principalmente Funcef, Petros e Previ –, o FGTS e fraudes e desvios na Caixa.

A força-tarefa da operação pediu autorização ao juiz Danilo Pereira Júnior, da 12.ª Vara Federal de Curitiba – Execução Penal – para que Palocci se deslocasse a Brasília nos dias 7, 8 e 9 de janeiro. Palocci está na capital capital federal desde a manhã desta segunda-feira, vindo de São Paulo. O trajeto foi feito de carro para evitar exposição nos aeroportos das duas cidades.

O ex-ministro chegou ao prédio da Procuradoria por volta das 9h30 desta segunda-feira. Três horas depois, deixou o prédio para almoçar e retornou às 14h para dar continuidade às conversas.

Palocci foi condenado a 9 anos e 10 dias de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. Em setembro de 2016, ele foi preso na Operação Omertà, desdobramento da Lava Jato. Para se livrar da prisão, ele fechou acordo de delação com a Polícia Federal, homologado pelo desembargador Gebran Neto, relator da Lava Jato no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4).

No dia 29 de novembro, o ex-ministro deixou a prisão dois anos e três meses depois de detido para cumprir pena provisória em regime prisional semiaberto domiciliar, com tornozeleira eletrônica.

A força-tarefa iniciou sua apuração em 2016, com a elaboração de um plano de investigação no começo daquele ano e a execução da operação em setembro. Em agosto de 2018, os procuradores informaram, em relatório à Procuradoria-Geral da República, que os potenciais prejuízos dos casos alvo da operação chegam a R$ 54 bilhões.

À PF, o ex-ministro relatou suposta atuação criminosa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para viabilizar o projeto de nacionalizar a indústria naval e arrecadar recursos para ‘quatro ou cinco’ campanhas do PT – em especial, a primeira eleição de Dilma Rousseff, em 2010 –, a reboque da descoberta do pré-sal.

Segundo o delator, Lula e Dilma teriam determinado indevidamente a cinco ex-dirigentes dos fundos de pensão do Banco do Brasil (Previ), da Caixa Econômica Federal (Funcef) e da Petrobrás (Petros), indicados aos cargos pelo PT, que capitalizassem o ‘projeto sondas’. Cinco ex-dirigentes de fundos de pensão foram citados.

A operação financeira, que resultou na criação da Sete Brasil, em 2010, buscava viabilizar a construção no Brasil dos navios-sonda – embarcações que perfuram os poços de petróleo – para a Petrobrás explorar o pré-sal. A estatal anunciara em 2008 que precisaria de 40 equipamentos – no mundo, existiam menos de 100. “Dentro desse investimento, tinha todo ilícito possível”, afirmou o ex-ministro, em depoimento à PF.

Palocci citou ‘reuniões’ de Lula com os representantes dos fundos, ‘muitas vezes em conjunto’, outras separadamente. A delação forneceu à PF pistas para confirmação dos encontros, alguns em ‘reuniões oficiais’ com atas. O ex-ministro afirmou ter alertado Lula sobre os riscos, por não serem ‘atas de reuniões, mas sim relatos de ilícitos’.

O delator disse ter sido procurado por ex-dirigentes dos fundos, que demonstraram ‘preocupação’. “Eles pediam para que eu ajudasse a tirar a pressão do Lula e da Dilma para que eles pudessem ter tempo de avaliar o projeto e fazer (os investimentos) de forma adequada.”

Segundo Palocci, ‘o presidente reagia muito mal’. “Ele (Lula) falava ‘quem foi eleito fui eu, ou eles cumprem o que eu quero que façam ou eu troco os presidentes’.”

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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