A ‘espantalhização’ de Guaidó

Diante do fiasco da tentativa de invasão da Venezuela, Juan Guaidó começa a viver seu calvário. Impedido de sair do seu país, desrespeitou uma decisão judicial, para tentar uma invasão sem sucesso.

Guaidó já foi um deputado eleito com apenas 97000 votos, que chegou a presidência da Assembleia Nacional com apoio de Leopoldo Lopez, encarcerado pela justiça, em razão dos 800 feridos e 68 mortos, que vitimou na tentativa de golpe em 2014. Agora Guaidó, ao apostar tudo, ficou com quase nada. Descumpriu a ordem judicial e a racionalidade não sugere tentar voltar à Venezuela. Sem mandato, deixou o parlamento oposicionista sem administração. Pior, não pode desfilar pelos bairros nobres de Caracas, como ‘Chacao’, alardeando uma revolução. Sua casa agora é Bogotá , seu futuro o ostracismo.

Uma análise mais direta levaria a conclusão de que “Guaidó está enfraquecido”, porque depois do que aconteceu, “não está muito claro” quanto de apoio ele tem em sua terra. Na prática Guaidó deixou de ser deputado, mandatário do congresso e perdeu a possibilidade de estar nas ruas, só é dono de menos de uma centena de milhares de votos e sua morada virou Bogotá, como visitante. Sua situação se complicou desde que saiu da Venezuela, não apenas por descumprir a decisão judicial, mas aceitando o helicóptero do governo colombiano. Mesmo se “as cartas da mesa forem postas”, em uma guerra aberta, Guaidó não tem valor.

“Hoje estamos vindo para Bogotá para amanhã participar na Cimeira do Grupo de Lima com os presidentes da região e do vice-presidente dos Estados Unidos Mike Pence, que gentilmente Colômbia hospedará.”

Neste domingo o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, alertou que os dias de Maduro “estão contados”, mas evitou dar uma data exata, exatamente por não ter convicção no que diz. A reunião discutirá com os chanceleres das 14 nações americanas do grupo ,”possíveis ações diplomáticas” contra Maduro. Será a primeira vez que o bloco, criado em 2017 para promover uma saída para a crise, delibera diretamente com Guaidó.

Os esforço de demonstrar alguma representatividade depois do fiasco da operação “ajuda humanitária ou cavalo de Tróia”, demostra exatamente o contrário. Iván Duque parece mais preocupado em olhar para os venezuelanos do que as 4000 famílias desabrigadas neste domingo em Chacó, pela elevação do volume de água do rio San Juan.”O governo legítimo da Venezuela está formalmente integrado ao Grupo Lima”, disse o presidente colombiano Ivan Duque.

A estratégia dos Estados Unidos e Colômbia era que através do reconhecimento de Guaidó como presidente, ele comandasse a invasão a partir do sucesso da entrada dos mantimentos. A função depois do golpe era que ele solicitasse eleições que beneficiaria a um candidato do Grupo de Lima. Este estratagema falhou, Guaidó não tem apoio popular, nem sequer é líder político e neste momento se transformou num personagem sem função e dependente de exílio.

O opositor chegou a declarar que tinha um milhão de voluntários dispostos a participar da caravana no sábado para mover e guardar a ajuda, mas a participação foi pequena. Em Caracas, milhares de simpatizantes da oposição protestaram em frente a um aeroporto militar, enquanto Maduro presidiu uma marcha maciça em proporção muito maior.

O passo dado por Guaidó ao entrar no helicóptero colombiano, apesar de uma restrição da justiça e (da constituição) que o impedia de deixar o país, principalmente por usar veículo de outro governo, terminou por hipotecar o seu futuro à um grupo de desastrados e inventores de um espetáculo midiático intervencionista. As palavras de Duque : “Como o presidente da Venezuela não retornará ao seu país?” Não são garantia de nada.

Apesar de ter sido recebido com honras de Chefe de Estado pelo chanceler Carlos Holmes Trujillo na base de Catam, de onde entregou uma saudação às Forças Armadas colombianas, Guaidó é apenas um espantalho político. Sem representatividade, sua função era emprestar o nome e sua nacionalidade para legitimar uma intervenção que fracassou. No exilo, ele passa depender do grupo de países que convidou para saquear seu país. Na História será lido como o traidor da pátria, para o Grupo de Lima depois de ontem, um inútil.

Tulio Ribeiro: Túlio Ribeiro é graduado em Ciências econômicas pela UFBA,pós graduado em História Contemporânea pela IUPERJ,Mestre em História Social pela USS-RJ e doutorando em ¨Ciências para Desarrollo Estrategico¨ pela UBV de Caracas -Venezuela
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