Os perigos do amadorismo olavista na Petrobrás

Uma coisa que (não) me surpreende nesse começo do governo Bolsonaro é o amadorismo claro de figuras chave da república.

Tá certo, muita gente considera cortinas de fumaça para a agenda neoliberal fluir nas sombras com tranquilidade (tipo aquela fumaça do Lost), mas a coisa tá tão feia, e pegando tão mal mesmo entre os conservadores, que começo imaginar que o governo inexperiente está de fato perdido.

Quando vejo as trapalhadas das equipes do Itamaraty, diplomacia brasileira batendo boca com deputado eleito que se diz exilado, ou do MEC, onde o ministro sai espalhando que brasileiros são canibais, me lembro que o charlatão do Olavo de Carvalho é considerado uma referência intelectual em ambas. 

Fico perplexo de verdade com tal distopia.

Sou funcionário da Petrobrás há dez anos, no Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense há quatro, e estou surpreendido com a falta de compromisso básico da companhia, desrespeitando frontalmente Acordos Coletivos, Normais Internacionais (como punir sindicalistas retirando o cargo, contrariando a OIT) e as leis do país.

[E olha que negociamos com Pedro Partente]

Tamanho amadorismo em uma empresa com histórico tão vitorioso, certamente um dos maiores orgulhos do país, nos faz cogitar se as tomadas de decisão no alto escalão da empresa estão sendo infectadas pelo vírus Olavo de Carvalho.

Basta analisar a criação de um fundo bilionário que envergonhou a República, com direito a briga institucional explícita com o STF e racha no Ministério Público. O jurídico da Petrobrás que eu conhece se oporia a tal loucura, posso garantir. Não precisava tomar sabão de todo o país pra isso. 

Além disso, a empresa simplesmente interpretou a MP 873 (uma medida provisória, velho. Nem lei é ainda) de maneira bisonha, contrariando frontalmente o artigo 8º da constituição e ferindo de morte a liberdade sindical.

E ainda o fez de maneira tosca, sem sequer chamar os sindicatos (representação democrática dos funcionários da empresa) para serem comunicados do fato ocorrido. O mínimo do mínimo que se espera de uma empresa que respeita seus funcionários seria negociar, essa nova Petrobrás sequer avisou.

O estrago na diplomacia é gigante e no MEC não tem nem comparação. A Petrobrás não é maior que essas instituições mas é uma empresa chave para o país. No meio de uma geopolítica feroz do petróleo (o próximo presidente da Opep é o presidente da Venezuela, devem imaginar o cenário) o novo grande produtor de óleo e gás do mundo tem tudo para se curvar aos interesses do cartel privado de irmãs petroleiras.

Sem falar nos problemas operacionais em si, como os que podem acontecer se políticas de gestão amadoras forem tomadas pelos discípulos de Bolsonaro. Vão conseguir matar a reputação técnica da empresa, justamente um dos grandes capitais que o Brasil pode exportar de ciência e tecnologia para o mundo.

A empresa que ficou conhecida por ter como fonte de energia o desafio, agora se alimenta da ignorância. O resultado tem tudo para ser catastrófico.

 

 

 

Tadeu Porto: Petroleiro e Secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil
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