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Era uma vez… o cineasta Juan José Campanella – Parte 3

Victor Lages, pela Fênix Filmes Era uma vez uma lua e os olhos. Mas antes, nos textos anteriores, tivemos a infância, os primeiros filmes, o início da parceria com Ricardo Darín e a primeira indicação do diretor e roteirista Juan José Campanella e, nesta terceira parte da série sobre o cineasta, exploramos mais duas facetas […]

2 comentários
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Cena de O SEGREDO DOS SEUS OLHOS

Victor Lages, pela Fênix Filmes

Era uma vez uma lua e os olhos. Mas antes, nos textos anteriores, tivemos a infância, os primeiros filmes, o início da parceria com Ricardo Darín e a primeira indicação do diretor e roteirista Juan José Campanella e, nesta terceira parte da série sobre o cineasta, exploramos mais duas facetas suas: a da saudade e a do suspense.

Cena de CLUBE DA LUA

Se O FILHO DA NOIVA trazia um drama emotivo com pano de fundo político, CLUBE DA LUA, lançado em maio de 2004, era um filme político com cara de drama. Retratando a triste realidade de um centro cultural e esportivo de Buenos Aires, o clube Luna de Avellaneda, o filme traz o espaço como protagonista para mostrar seu passado glorioso com mais de oito mil pessoas até o início do século XXI com pouco mais de trezentos associados.

Darín interpreta aqui Román, um diretor do clube que é agraciado com um título de sócio vitalício por ter nascido durante uma festa nos bons tempos do local. Tendo um carinho imenso pelo lugar, Román tenta uma ressurreição do Clube da Lua, enquanto luta para superar suas crises financeiras, amorosas e familiares. Ou seja, mais uma vez, Campanella foca em pessoas normais, em seus problemas cotidianos, em meio à vivências sociais na Argentina contemporânea.

Cena de CLUBE DA LUA

Como ressaltou, certa vez em entrevista, para o diretor: “Existe um painel político muito complexo hoje no meu país. Tão complexo que não me deixa alternativas quando penso em possíveis líderes políticos que temos para escolher. Meus primeiros longas exibidos no Brasil, como O filho da noiva, incorporavam análises sobre a crise econômica porque estavam sintonizados com o momento histórico do meu país, na virada dos anos 1990 para os 2000. O segredo de seus olhos tinha uma observação clara sobre a tensão democrática porque era baseado num livro, “La pregunta de sus ojos”, de Eduardo Sacheri, que foi o roteirista. Respeitei a visão de Sacheri com a preocupação única de mostrar que o totalitarismo pode aparecer mesmo durante uma gestão democrática, sem militares no poder”.

Cena de O SEGREDO DOS SEUS OLHOS

Em O SEGREDO DOS SEUS OLHOS, é retratada a vida de Benjamin Espósito (também Darín), um oficial de justiça aposentado, que quer apenas escrever um romance sobre um crime real que vivenciara décadas antes, o roteiro entra numa pegada noir e cheia de camadas e reviravoltas. Indo e voltando no tempo, esse thriller é construído também com personagens profundos e cativantes, como Pablo, fiel assistente de Benjamin, e Irene, paixão do oficial nunca confessada. Mas, se pudéssemos escolher uma única cena para enaltecer aqui, seria a clássica do estádio de futebol. De imensa plasticidade técnica e impecável direção, a cena toda segue num plano-sequência (algo até orgástico para os cinéfilos) que se passa durante uma comemoração de um gol e uma perseguição intensa.

A propósito, esse momento não entraria inicialmente no filme. Quando Campanella e o escritor Eduardo Sacheri estavam a redigir o roteiro, o segundo achava inverossímil que um foragido da polícia fosse a um estádio lotado só para ver seu time do coração jogar. Mas, como explica o personagem Pablo, “o sujeito pode mudar de cara, de família, de namorada, de Deus. Mas há uma coisa que não pode mudar: de paixão”. Pois em 2017, oito anos depois do lançamento do filme, mais de 217 foragidos foram localizados nos estádios de futebol a partir de um sistema da polícia; a maioria sabia que estava sendo procurado, mas não podiam deixar de ver o jogo do seu time do coração.

Pois bem. Se com O FILHO DA NOIVA, Campanella já criava uma série de espectadores fieis em seu país natal, foi com O SEGREDO DOS SEUS OLHOS que ele acarretou uma legião ao redor do mundo inteiro. A Argentina toda vibrou quando, em 07 de março de 2010, os diretores Pedro Almodóvar e Quentin Tarantino anunciaram o título do filme como vencedor da categoria Melhor Filme Estrangeiro na 82ª cerimônia do Oscar. Colocado instantaneamente como um dos melhores filmes do século XXI, a obra atraiu a atenção, com muitos atributos positivos, para o cinema que estava sendo feito nos últimos anos ali, sendo considerado um dos melhores da América Latina. A HISTÓRIA OFICIAL, de Luis Puenzo, ganhara o Oscar em 1985 e virava o maior marco do cinema local, e Campanella conseguiu resgatar, 15 anos depois, a boa fama do audiovisual portenho.

A Argentina e seu cinema mudaram com O SEGREDO DOS SEUS OLHOS. Mas e o próprio diretor? Questionado sobre o que havia de diferente na sua vida após sua vitória no Oscar, apenas disse: “O que muda é que tenho sentido mais responsabilidade. Nos quatro filmes que fiz anteriormente, falei de muitos temas. E tudo o que fazia parecia que eu já havia tocado essa música. Agora tenho um novo tema na minha vida que é a sensação de mortalidade, coisa que eu não tinha com 40 anos”.

Campanella ganhando o Oscar em 2010

Em 2013, lançou uma animação e, na próxima semana, chega sua primeira comédia propriamente assumida: A GRANDE DAMA DO CINEMA. Mas isso é assunto para a última parte dessa série de textos sobre o grande cineasta argentino Juan José Campanella!

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Comentários

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Diogo F

12/05/2019 - 13h45

é macrista; e aí? Se fosse brasileiro e votasse Bolsonaro vcs tavam metendo o pau.

    Victor Lages

    13/05/2019 - 14h48

    É ter só a consciência de separar o artista da obra, como o próprio diretor está fazendo:
    A una semana del estreno, Juan José Campanella quiso disipar las dudas sobre la trama. Su clara posición política hizo creer a algunos que su nueva película reflejaría sus creencias sobre este tema pero él dejó en claro que su trabajo no está dirigido a un grupo determinado. “Yo pongo mucho esfuerzo en que mis películas, mis obras, sean para todos. No son partidarias, no reflejan ningún sesgo”, explicó el director en el programa radial Agarrate Catalina. Y siguió comentando: “Quiero que en 20 años se pueda disfrutar de mis películas como ahora. Creo que la gente tiende a mezclar la obra con opiniones personales y perjudica a la película”.


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