Bolsonaro demite general Santos Cruz

Crédito: Geraldo Magela/Agência Senado

Hoje pela manhã, vi uma notícia interessante na página do Senado, em que o ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, meio que se desculpa pelo vídeo em favor da ditadura postado numa rede social do Planalto. Cruz explica que o vídeo foi postado por engano. Eu até ia escrever que isso era sinal de que o núcleo ideológico do governo estava perdendo o debate interno, mas acabei adiando o texto, e agora, pela tarde, a imprensa divulga que Bolsonaro acaba de demitir Santos Cruz.

Me parece que há ligação direta entre a afirmação do ministro e a demissão. Bolsonaro não admite que a sua narrativa pró-ditadura seja contestada por alguém do governo.

Entretanto, ao fazer isso, Bolsonaro mostrou-se tirânico e sem nenhum tino político, visto que Santos Cruz apenas havia tentado ser diplomático para costurar apoios para o governo.  O general respondia a uma senadora do Cidadania, legenda de centro-direita, cujo eleitorado, porém, não se identifica com os delírios ideológico pró-ditadura de Bolsonaro.

Essa pauta mais ideológica do presidente Bolsonaro, em especial o seu apoio à ditaura militar, não encontra eco nos setores que o elegeram, como mostram diversas pesquisas. A maioria da classe média e dos setores mais instruídos, onde Bolsonaro ganhou com larga margem de voto, são contra a ditadura.

Abaixo, o texto publicado na Agência Senado, sobre a audiência com Santos Cruz.

Vídeo sobre ditadura foi equívoco de funcionário, explica ministro

Por Anderson Vieira | 13/06/2019, 11h21 – ATUALIZADO EM 13/06/2019, 13h22

O ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, Carlos Alberto dos Santos Cruz, disse que o vídeo com defesa do golpe militar de 1964, divulgado numa rede social do Palácio do Planalto, foi publicado por engano por um funcionário e foi um equívoco, sem nenhum viés político ou ideológico. O ministro esteve nesta quinta-feira (13) na Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor (CTFC), para dar explicações sobre o episódio, a pedido da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA).

— O vídeo chegou a um funcionário nosso, que repassou para um servidor da Secretaria de Comunicação, que é quem publica os materiais na rede da Secom. E ele disparou, interpretando que fosse algo relativo a uma campanha de divulgação da Previdência Social. Foi uma divulgação infeliz, uma infelicidade do funcionário, sem nenhum viés ideológico […] Quando ocorre um erro desses num nível governamental, sempre tem essa consequência natural. Mas não tem nada de má-fé, de ideologia ou objetivo político envolvido na questão — garantiu.

Ainda segundo Santos Cruz, o funcionário que pôs o material no ar tem mais de 20 anos de serviço público e já passou por outros governos. Ele foi advertido, mas não formalmente punido.

— Eu conversei com ele e foi esclarecido o cuidado para que esse tipo de erro não seja cometido novamente. Ele foi orientado,[é] uma pessoa de bons princípios. A decisão de punir, formalmente ou não, é minha. Passei minha vida inteira sempre comandando gente, então tenho senso de justiça de saber até onde ir com as medidas disciplinares. Achei que não era o caso de medida disciplinar, mas de correção de rumo de serviço — afirmou.
Outros temas

Os senadores se mostraram satisfeitos com as explicações e partiram para outros assuntos. O ministro falou sobre os problemas de infraestrutura do país e o andamento das parcerias público-privadas para resolver gargalos causados por pelo menos 14 mil obras paralisadas. Segundo ele, o governo tem trabalhado com base em três premissas essenciais para voltar atrair investimentos: estudos técnicos bem-feitos, contratos de longo prazo e ambiente honesto para os negócios.

Indagado pela senadora Eliziane sobre o recente corte orçamentário nas universidades, Santos Cruz afirmou que considera natural a politização do assunto e disse não ver nada de errado na reação de diversos setores.

— O corte que houve no setor foi no geral de 3,5%, que é algo que dá para ser compensado com a parte de gestão. Mas o assunto se politizou e tivemos as reações normais. A sociedade funciona assim. O dinamismo é esse e está tudo dentro da normalidade. O mundo está mudando, e essas reações são por conta da tecnologia. Nada do que aconteceu é absurdo, tudo em ordem. O que mostra uma maturidade enorme — disse, referindo às manifestações de protesto por todo o país.

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