Exclusivo: um raio-X do comércio exterior brasileiro

Com base nos números atualizados do Comextat (banco público estatístico, com atualizações mensais) até junho, organizamos algumas tabelas exclusivas do comércio exterior brasileiro.

Vamos começar com uma olhada geral.

Primeiro vamos ver quais são nossos principais produtos de exportação.

Na tabela abaixo, podemos ver que estes são, por ordem de grandeza (em termos de valor gerado): soja, petróleo, ferro, madeira, frango, café, bovinos, açúcar, milho, óleo diesel, seminafaturado de aço, plataformas de petróleo e aviões.

A soja, apesar da queda nas exportações este ano (ocasionada por uma queda de importação para a China, que reduziu dramaticamente suas importações, não só do Brasil, como de todo o mundo), representou quase 15% do total exportado pelo país, gerando US$ 15,6 bilhões apenas no primeiro semestre.

Em segundo lugar veio o petróleo, que vem ganhando cada vez mais peso na pauta das nossas exportações, em função do aumento da produção no pré-sal. Apenas no primeiro semestre, exportamos US$ 12 bilhões em petróleo bruto.

Na parte de importação, sobre a qual já falamos em posts anteriores, não vamos nos alongar. Iremos apenas ressaltar o enorme peso que os derivados de petróleo estão fazendo em nossa balança comercial. O óleo diesel vem em primeiro lugar: importamos US$ 2,8 bilhões deste produto em Jan/Jun 2019, para alegria das refinarias norte-americanas, que é de onde mais de 80% deste óleo diesel está vindo.

Interessante observar ainda o gasto de US$ 2 bilhões numa plataforma de petróleo (a qual, como iremos conferir numa das tabelas seguintes, veio da China).

Somando todos os produtos da indústria do petróleo (considerando o combustível puro ou refinado, os veículos movidos a petróleo, e a plataforma), importamos quase US$ 13 bilhões em Jan/Jun 2019, aumento de 19,5% sobre o ano anterior, e 15% de tudo que importamos.

Observe ainda que os três primeiros produtos que importamos são relacionados ao petróleo: diesel, petróleo cru e plataforma.

Importamos ainda quase 1 bilhão de dólares em gasolina nestes seis primeiros meses do ano, aumento de 6% sobre o ano anterior.

Vejamos agora as nossas exportações por destino.  O principal destino, nos últimos seis meses, foi a China, que importou quase um terço de tudo que exportamos. De janeiro a junho, as exportações brasileiras para a China bateram recorde histórico e ultrapassaram a barreira dos US$ 30 bilhões, respondendo por 28% de tudo que a gente exportou.

Os EUA vieram em segundo lugar, porém com um total importado do Brasil correspondente a menos da metade do valor destinado à China, mesmo que tenha havido um aumento de 12% das vendas brasileiras aos EUA.

As exportações brasileiras para a Argentina registraram uma queda brutal de mais de 40%, o que é um quadro dramático para a indústria brasileira, visto que este país, assim como outros do Mercosul, tem sido os principais compradores de nossos produtos manufaturados. Mesmo com essa queda, a Argentina se mantém num firme terceiro lugar no ranking dos principais compradores de produtos brasileiros, assim como o Chile se mantém em quinto lugar, à frente de potências como Alemanha, Japão, Itália, Índia e Reino Unido.

Note ainda a importância do Irã para a balança comercial brasileira: em Jan/Jun 2019, o Irã importou US$ 1,3  bilhão do Brasil,  18% a mais que no ano anterior, mais que a França.

Há um navio iraniano, na costa brasileira, que veio nos trazer fertilizantes e  voltar carregado de milho nacional, que está parado por falta de combustível, pois a Petrobras, por ordem do presidente Bolsonaro, se recusa a abastecê-lo. A decisão de Bolsonaro, por sua vez, se dá por medo dos Estados Unidos, que ampliou suas sanções contra o Irã. Com isso, o Brasil está prejudicando milhões de iranianos, que precisavam se alimentar do milho brasileiro, e que nos trouxeram fertilizantes, e prejudicando também milhares de produtores brasileiros de milho, frango, etc, que correm o risco de perder um dos principais mercados do agronegócio brasileiro.

E quem são os nossos principais parceiros comerciais em termos de importação, ou seja, de quem compramos mais?

Segundo o Comexstat, quase 22% das nossas importações têm vindo da China, o que é também um recorde histórico. Em Jan/Jun deste ano, importamos um total de US$ 18 bilhões da China.  Em segundo lugar, vem os EUA, de quem importamos US$ 14 bilhões.

Os números mostram, portanto, que o nosso superávit comercial está vindo sobretudo da China.

Aproveitando o acordo comercial assinado recentemente entre os governos do Brasil e da União Europeia, vamos examinar a balança comercial entre os dois.

Os principais produtos brasileiros exportados para a União Europeia são: soja, madeira, café, ferro e petróleo bruto. Interessante ainda observar que a Europa importou do Brasil, no primeiro semestre deste ano, US$ 529 milhões em ouro.

Quanto aos produtos que os países da União Europeia nos vendem, é interessante notar que os dois primeiros são derivados de petróleo: nafta e gasolina. Em Jan/Jun 2019, a UE nos exportou cerca de US$ 700 milhões em nafta e gasolina; no caso da nafta, o valor foi recorde histórico.

A UE é também grande fornecedora de variados tipos de medicamentos usados no Brasil.

Separamos uma tabela referente apenas à nossa exportação de petróleo bruto, e descobrimos que a China está comprando quase 70% de todo o nosso pré-sal.

Ou seja, o impressionante crescimento chinês, que tem causado tanta sensação em todo planeta, e que é movido a ferro, petróleo e comida barata, está sendo bancado por essa nova colônia sul-americana.

Analisamos mais de perto a nossa relação comercial com a China. Os principais produtos brasileiros exportados para a China são: soja, petróleo, ferro, madeira, carne bovina, frango e nióbio. Ou seja, estamos alimentando a população animal e humana da China, abastecendo seus carros e fábricas, e fornecendo a matéria-prima mais nobre da da construção civil (ferro e madeira).

E o que a China nos vende?

No primeiro semestre deste ano, a China nos vendeu uma plataforma de petróleo que custou mais de US$ 2 bilhões, e que, sozinha, foi o item que mais pesou na relação comercial entre Brasil e China.

Depois dessa plataforma (antes da Lava Jato estávamos começando a fazer plataformas desse tipo no Brasil, inclusive nos preparando para nos tornar grandes exportadores globais, mas isso agora é passado), o que mais importamos da China são todos produtos de alto valor agregado, como celulares, tvs, painéis solares e computadores.

É interessante notar ainda a enorme variedade de mercadorias que a China nos vende. Veja a diferença: os 23 principais produtos exportados pelo Brasil para a China correspondem a 97% de tudo que exportamos para lá; ao passo que os 20 principais produtos exportados da China para o Brasil, correspondem a apenas 31% de tudo que eles nos vendem.

Agora passemos para a análise de outro importante mercado brasileiro: os Estados Unidos.

Em primeiro lugar, uma curiosidade: a balança comercial do petróleo entre Brasil e EUA.

Nos seis primeiros meses do ano, considerando apenas o petróleo bruto e seus dois principais derivados, óleo diesel e gasolina, a balança comercial entre os dois países ficou negativa em mais de US$ 1 bilhão para o país, sobretudo por causa da enorme importação de óleo diesel americano.

Apenas em Jan/Jun 2019, o Brasil importou, dos EUA,  US$ 2,3 bilhões em óleo diesel, mais US$ 634 milhões em gasolina e mais US$ 411 milhões em petróleo bruto.

Entretanto, o Brasil também exportou, no mesmo período, para os EUA, um total de US$ 1,3 bilhão em petróleo bruto, US$ 499 milhões em gasolina e US$ 160 milhões em “fuel oil”, que é um derivado de baixo valor agregado que não tem sido traduzido, e que eu, para simplificação, tenho traduzido provisoriamente para óleo diesel.

Abaixo duas tabelas, com os números do comércio exterior entre Brasil e EUA: 1) principais produtos brasileiros exportaods para os EUA, e 2) principais produtos americanos exportados para o Brasil.

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