As diatribes de Bolsonaro sobre a Amazonia e Macron

O presidente da França, Emmanuel Macro, tem muito a agradecer a Jair Bolsonaro.

Há tempos, Macro vinha enfrentando uma constante deterioração em sua popularidade junto ao eleitor francês.

Com as grosserias de Bolsonaro contra Macron, é fácil supor que a reação do francês médio será defender o seu presidente.

Hoje, Bolsonaro foi mais longe e, em conversa com o presidente do Chile, Sebastián Piñera, voltou a atacar Macron, explicando que suas diferenças com ele se dão por causa de sua “posição política”.

É uma situação realmente muito complicada, porque Bolsonaro parece não possuir a noção mais básica de diplomacia.

Donald Trump, o presidente mais admirado por Bolsonaro, encontrou-se amigavelmente com o ditador norte-coreano. Não se pode negar a diferença de “posição política” entre os dois.

Bolsonaro explicou à imprensa, durante encontro com Piñera, que “essa inverdade do Macron ganhou força porque ele é de esquerda e eu sou de centro-direita”.

Macron foi eleito na França com um discurso e um programa de centro, incluindo aí muitas medidas neoliberais consideradas de direita. Não tem nada de “esquerda”.

Para Macron, volto a dizer, é um presente, porque a diatribe de Bolsonaro fará com que ele ganhe alguns pontinhos também junto à poderosa e crítica esquerda francesa, que, não, não passará a achá-lo um político de esquerda, mas que terá, necessariamente, de sofrer a comparação entre a postura de seu próprio presidente, preocupado com as queimadas na Amazônia, e a de Jair Bolsonaro, que tenta a todo custo fugir do assunto inventando inimigos imaginários.

Na reunião com os governadores ontem, no Planalto, as intervenções de Bolsonaro eram estarrecedoras. Ele disse que se demarcasse alguma reserva indígena, os incêndios na Amazônia acabavam na mesma hora. Ele e o general Heleno passaram vários minutos com invectivas contra o presidente francês e a própria França. Heleno veio com histórias tristes sobre o processo de colonização francesa nas Américas. O governador do Pará falou em seguida, e opinou que se estava perdendo muito tempo discutindo sobre a França, ao invés de focarem no cerne da questão, as queimadas e o desmatamento na Amazônia.

Assistam ao vídeo no minuto 1:51:00 (ou 28:59 de trás para frente). Após uma exposição amalucada do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sobre o suposto mau uso de recursos do Fundo Amazônia, o governador do Maranhão, Flavio Dino, pergunta se o governo tem um cronograma objetivo para o replanejamento dos repasses, porque R$ 1 bilhão é muito dinheiro e seria muito importante na “presente hora”. Bolsonaro pede a palavra e começa a recitar um de seus delírios preferidos, sobre o número de reservas indígenas e quilombolas. O general Heleno, ministro-chefe do Gabiente de Segurança Institucional da Presidência da República, um dos homens fortes do que seria o setor de “inteligência” do governo brasileiro, pede a palavra e começa a fazer uma série de invectivas contra a França. O clima então vira de botequim, porque os comentários do general são informais, e não tem nada a ver com o assunto da reunião.

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