Ciro vai ao Jacarezinho denunciar o neoliberalismo

Foto: Fernando Mendonça.

No último sábado (14), pela manhã, o presidenciável Ciro Gomes participou de uma conversa, organizada por seu partido, o PDT, com moradores da comunidade do Jacarezinho, zona norte do Rio.

O evento aconteceu na Quadra Unidos do Jacarezinho, um galpão colado ao viaduto do metrô cuja simplicidade não destoa da pobreza e precariedade das adjacências.

A quadra fica localizada às portas da comunidade, diante de um destacamento da polícia.

Havia cerca de cem pessoas no local, o que era mais ou menos o número de cadeiras espalhadas diante do palco. Cerca de vinte por cento eram militantes do PDT, que vieram por obrigação profissional e política.

Antes da fala de Ciro, a pré-candidata do PDT à prefeitura do Rio de Janeiro, fez um discurso marcado pela preocupação social, especialmente com o aumento da população de rua, estimada por ela em 14 mil pessoas.

Ex-delegada da polícia civil, Martha lembrou que o lema da instituição é “polícia civil em defesa de quem precisar”, dando ênfase nas duas últimas palavras. Encerrou seu discurso com o que, aparentemente, será o refrão de sua campanha: “gestão com solidariedade, sem preconceito e com justiça social”.

O presidente do partido, Carlos Lupi, fez um discurso breve, e passou o microfone para o “seu líder”, Ciro Gomes.

A sintaxe de Ciro diante de plateias populares é diferente daquela usada quando palestra para estudantes universitários, ou quando dá entrevistas. Ele tenta falar de maneira mais simples. Os temas abordados, porém, continuam os mesmos.

Nesse evento, Ciro investiu bastante tempo falando de fórmulas para gerar empregos e reduzir o endividamento dos brasileiros. Explicou que o governo poderia cortar apenas 20% das renúncias fiscais concedidas a grandes empresários, taxar lucros e dividendos (“que só o Brasil e um pequeno país do leste da Europa não cobram”, disse), e obter, com isso, algumas dezenas de bilhões de reais, dinheiro que poderia ser usado para obras de construção civil com potencial para gerar, imediatamente, dois milhões de empregos diretos.

Num dos trechos mais filosóficos de sua fala, o trabalhista lembrou que o ser humano precisa de solidariedade para nascer e viver. Ele comparou o ser humano a vários animais, incluindo aí a “jumentinha” (o vocabulário de Ciro é sempre muito marcado por exemplos típicos da cultura cearense), que consegue andar poucos minutos após nascer. Já o ser humano precisa de ajuda para nascer e para andar.

Na parte das perguntas, uma militante do “PDT Axé”, ala do partido ligada a questões africanas, perguntou o que ele achava das agressões que as religiões afro-brasileiras vinham sofrendo nos últimos anos. Ciro respondeu que deveria haver uma lei que determinasse ser “proibido se meter na vida alheia”. A plateia gostou da frase e aplaudiu muito. Ciro então fez uma longa explanação sobre a importância das religiões, onde também se podia verificar o interesse muito grande dos ouvintes. Lembrou que o símbolo de Deus era comum a inúmeras civilizações. Por fim, alertou para se tomassem cuidado com “falsos profetas” (aplausos efusivos), e que a mistura de política com religião nunca deu bom resultado.

Um outro morador lembrou das políticas de Leonel Brizola para a segurança pública, sempre muito preocupadas em evitar ações policiais que desrespeitassem moradores de comunidades e favelas, e que essa opção foi muito atacada pela mídia tradicional, sobretudo por uma “grande emissora”.

Em sua resposta, Ciro criticou as políticas públicas implementadas na era petista, que resultaram num aumento desproporcional da população carcerária. Defendeu a adoção de penas alternativas para pequenos traficantes de drogas que não tivessem sido condenados por crimes violentos, para evitar um problema grave hoje no sistema carcerário, que é a cooptação de jovens por grandes organizações criminosas.

O líder trabalhista falou ainda de uma das questões que lhe são mais caras, que é o consumo consciente, onde o consumidor do futuro precisará olhar não apenas para o preço, mas também analisar onde aquela mercadoria é produzida, de maneira a priorizar, nem que tenha que pagar um pouquinho mais, o que for produzido por seu vizinho, em sua localidade.

Também falou um pouco sobre eleições municipais. Lembrou que o prefeito Marcelo Crivella fez toda aquela presepada de censurar um livro na Bienal do Livro pensando já nas eleições do ano que vem, e que todos deveriam ficar muito atentos para esses movimentos. Observou que, nas grandes cidades, a imprensa fará uma leitura dos resultados eleitorais de maneira binária, olhando para o governo federal: a eleição ou derrota desse ou daquele candidato seria uma vitória ou derrota de Bolsonaro? É uma bobagem, mas assim que será lido, então é preciso também prestar atenção nisso, pois se o povo está insatisfeito com o governo federal então precisará dar um recado nas eleições municipais.

Abaixo, alguns registros em vídeo que fiz do evento, compilados num arquivo:

Abaixo, o link para o “live” do evento. A fala do Ciro começa aos 31:00 (ou 2:10:17 de trás para frente).

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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