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Por uma Fotografia para a Democracia

Por Bruno Bou, Douglas Romão, Lucas Jatobá e Vitor Vogel* Na semana passada completou-se um ano do “Manifesto da Fotografia brasileira pela democracia, liberdade e direitos”. Optamos por publicar este texto após o primeiro aniversário da vitória eleitoral de Jair Bolsonaro para contribuir na reconstrução da esperança que tomou os corações e mentes nos dias […]

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Entrega do Manifesto da Fotografia brasileira pela democracia, liberdade e direitos. Rio de Janeiro, outubro de 2018. Créditos: Bruno Bou

Por Bruno Bou, Douglas Romão, Lucas Jatobá e Vitor Vogel*

Na semana passada completou-se um ano do “Manifesto da Fotografia brasileira pela democracia, liberdade e direitos”. Optamos por publicar este texto após o primeiro aniversário da vitória eleitoral de Jair Bolsonaro para contribuir na reconstrução da esperança que tomou os corações e mentes nos dias que antecederam a maior derrota política dos interesses do povo brasileiro.

Tivemos a oportunidade de propor, redigir a primeira versão, organizar a coleta de assinaturas e articular a entrega deste para a candidatura que representou eleitoralmente a frente democrática no segundo turno das eleições federais de 2018. Neste texto buscamos rememorar o Manifesto para lançar luz e iniciar uma análise  sobre a luta democrática brasileira, a partir da Fotografia como linguagem.

A entrega do manifesto foi no ato ‘Rio & Cultura com Haddad e Manuela’ na Lapa, terça-feira, 23 de outubro, com mais de mil assinaturas de fotógrafas e fotógrafos, professores, pesquisadores e editores de 26 estados brasileiros que reafirmaram “o nosso lado [da Fotografia] na história”. 

Foi um comício com intelectuais e artistas no palco. Estiveram presentes Mano Brown, Bete Mendes, Caetano Veloso, Carol Proner, Amir Haddad, Chico Buarque, Rogério Reis e muitos outros. Coube à Nana Moraes, Wania Corredo, Dante Gastaldoni e ao próprio Reis a tarefa de, sem câmeras, subir naquele palco e entregar o manifesto. A foto de Bruno Bou sintetiza o que Gastaldoni classificou como “articulação histórica”, em 26 de outubro, por ocasião do recebimento da adesão de Sebastião Salgado pelas mãos de Evandro Teixeira.

Não foi a primeira vez que a Fotografia se posicionou no processo político brasileiro. Em 1984, a União de Fotógrafos de Brasília, por iniciativa de João Roberto Ripper, produziu o adesivo “Eu quero fotografar as diretas”. Entre os dias 17 e 27 de outubro, uma parte do processo de afirmação da fotografia brasileira se desenrolou. O manifesto e a entrega deste por grandes intelectuais, profissionais e artistas da Fotografia na Lapa é mais um capítulo daquela afirmação. Neste caso, na Política, através de uma luta democrática ampla e unitária. Tal qual nas Diretas Já.

Esta articulação começou com a reunião ‘Fotógrafas e Fotógrafos com Haddad’. Nas palavras de Milton Guran, a reunião foi “organizada por Bruno Bou e Vitor Vogel, do grupo de fotógrafos da UNE”. Os dois citados, acompanhados de Douglas Romão, participaram da gênese da rede de Fotografia do CUCA da UNE. Não foi uma reunião isolada. No mesmo dia e hora em São Paulo, sob a liderança de Nair Benedicto, com organização dos Fotógrafos pela Democracia e da Mídia Ninja, ocorria a Fotografia Contra a Barbárie. Dias depois (25) foi a vez de Belo Horizonte. Sob a liderança da também jovem Isis Medeiros com a  participação de Fernando Rabelo, realizou-se a Fotógrafxs Pela Liberdade. Assim foi o momento de diálogo entre as partes de uma mesma geração da fotografia, a geração que lutou e viveu sob a democracia.

 Nascida com f minúsculo e marcada pelo estigma da objetividade e do positivismo, a fotografia nasce junto com a democracia liberal no século XIX. A brasileira se afirma nos anos 1980, junto com o fim da ditadura civil militar. Diante do avanço fascista e a possibilidade de fim do ciclo democrático, a Fotografia brasileira afirmada se reuniu para dialogar e organizar a luta pela manutenção da Democracia.

No lugar dos melindres de quem é educado para concorrer pela melhor foto, a solidariedade. Ao invés da desconfiança e do silêncio, a verborragia que antecedeu o consenso. No lugar da luta interna e na divisão dos interesses locais, unidade nacional. Portanto, unidade ampla para uma frente política engajada na luta democrática. 

Ainda após a entrega do Manifesto recebemos adesões, como a de Salgado, e na véspera da eleição  realizamos a Democracia Projetada, uma versão visual do manifesto. A mesma foi exibida na Barra da Tijuca, Manaus e Lyon. Dias depois, nos reunimos no Retrato Espaço Cultural e decidimos manter o manifesto num movimento. Semanas depois, enquanto muitos se desesperavam, a Fotografia realizou a Democracia Projetada 2.0 em 10 capitais brasileiras, incluindo São Paulo, Belém e Belo Horizonte. Meses depois realizamos outra projeção temática no Dia Mundial da Educação e uma cobertura colaborativa dos primeiros Tsunamis da Educação. 

Nas palavras do mesmo Guran, a Fotografia e a sociedade brasileira fizeram (e mantiveram) a frente ampla democrática que os partidos demoraram a fazer. Ela foi costurada por jovens de pouca ou muita idade, com nomes consolidados ou em início de carreira, da publicidade, do fotojornalismo, do ensino, da curadoria ou mesmo amadoras(es) sérias(os). Em comum só tínhamos uma câmera na mão e uma ideia de defesa da Democracia na cabeça. Hoje, um ano depois, temos uma Fotografia afirmada e coesa na luta para a reconquista da Democracia.

*Bruno Bou, carioca, 25 anos. Fotodocumentarista formado em Jornalismo na FACHA.

Douglas Romão, paulistano 35 anos. Filósofo, mestre e doutorando em Comunicação na UFF. Coordenador Financeiro do Coletivo Niterói Fotográfico.

Lucas Jatobá, manauara, 27 anos. Fotodocumentarista e estudante de Antropologia na UFF.

Vitor Vogel, niteroiense por adoção, 35 anos. Fotodocumentarista e historiador formado pela UFF. É Coordenador Editorial e de Articulação Institucional do Coletivo Niterói Fotográfico e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais de Niterói, RJ.
O Manifesto da “Fotografia brasileira pela democracia, liberdade e direitos” pode ser acessado em www.bit.ly/ManifestoFotografiaPelaDemocracia
1- “Foi nesse tripé [agências, sindicatos e política pública de Cultura incorporando a Fotografia] que se apoiou a criação das arenas sociais nas quais a fotografia é plural, pois é a um tempo arte, crítica, informação, memória, identidade, inclusão visual, entre possíveis formas de ser. Formas que convergem para a configuração de um espaço fotográfico revelado pela emergência de uma fotografia pública, cujos fotógrafos se engajam em variadas causas (…)” MAUAD, Ana Maria ; LOUZADA, S. ; GOMES, Luciano. Anos 1980, afirmação de uma fotografia brasileira. In: Samantha Viz Quadrat. (Org.). Não foi tempo perdido: os anos 80 em debate. 1ed.Rio de Janeiro: Sette Letras, 2014, v. 1, p. 191-215.

2 FREUND, Gisele. Fotografia e sociedade. 2.ed. Lisboa: Vega, 1995.

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Comentários

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Renato

29/10/2019 - 19h01

Putz, só gente feia !


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