Nassif e a conversa com Lula (trechos)

O jornalista Luis Nassif relatou em seu blog uma conversa com o ex-presidente Lula, que trouxe alguns elementos interessantes ao debate. Eu separei alguns trechos:

(…) Rebate quando alguém fala na inevitabilidade do fascismo da classe média. Diz que nem todos professam o discurso do ódio.

– Esse sentimento foi plantado pela Globo, não é natural do povo brasileiro.

Alguém sugere que seria relevante retomar o diálogo com a Globo. Lula refuga.

– Sempre conversei com a Globo e nunca adiantou.

Conta que em 2013 procurou João Roberto Marinho para falar sobre a campanha de descrédito da Copa, encetada pela própria Globo. Mostrou a ele que a Copa era da Globo (…). Não houve jeito. Conversou com o Itau, com patrocinadores, mas a Globo persistiu na campanha de descrédito, dando continuidade à convocação de manifestações de rua.

(…)

“Foi procurado por Dilma dois meses após as eleições, para se aconselhar sobre o novo mandato. Sua primeira sugestão foi para a Economia. Precisava alguém de peso e confiável. Sugeriu que procurasse Luiz Trabucco, presidente do Bradesco, e Henrique Meirelles, que ainda estava preservado pelo mercado. Trabuco consultou o presidente do Conselho de Administração do banco, Lázaro Brandão, que apresentou a sugestão fatal, Joaquim Levy”.

(…)

O assunto envereda para as relações com empresários. Lula diz que nenhum outro presidente ouviu tanto os empresários quanto ele. Levava empresários em cada viagem internacional, chamava ao Palácio para conversar, acatava conselhos. E, agora, se queixa da solidão.

– Abílio Diniz me ligava diariamente e me ajudou muitas vezes. Foi só sair do governo para não receber mais um telefonema dele.

Alguém menciona que Abílio é isso mesmo: sempre esteve a favor de todos os presidentes, mas enquanto presidentes.

(…)

Aí se entra no tema inevitável do grande pacto nacional. Lula deixa entrever que o grande acordo nacional está no seu horizonte. Mas não consegue entender as críticas quanto à polarização.

– Ninguém faz política sem polarização, explica ele. Não significa radicalização. Significa ter uma posição clara em oposição a alguém.

(…)

Aproveita e cutuca Fernando Haddad. Não o quer candidato a prefeito de São Paulo nas próximas eleições.

– Quem teve 45 milhões de votos não pode voltar a ser candidato a prefeito. Tem que cultivar o eleitorado.

(…)

Alguém volta às eleições para a prefeitura de São Paulo e indaga de Marta Suplicy. Diz ele que divergências são naturais, mas a história não pode ser apagada. E que Marta fez a mais bem avaliada administração petista da história da cidade de São Paulo. Há uma discussão sobre quem teria sido o pai dos Centros Culturais.

– Não importa, o que importa é que politicamente foi a administração de Marta quem alavancou politicamente o projeto.

Alguém se recorda do momento em que Marta e Dilma se tornaram definitivamente inimigas. Pouco antes da indicação de Dilma para sua sucessora, Lula foi procurado por Marta.

– Lula, conheço bem as mulheres. A candidatura de Dilma vai liquidar com você e o PT.

Mas Dilma era uma competentíssima Ministra-Chefe da Casa Civil. Tinha seus problemas, especialmente com os Ministros que tinham acesso direto a Lula. Mas Lula fazia a mediação, chamava os Ministros, ajudava a superar as mágoas com sua Ministra.

(…)

E entra no ponto central: a falta de figuras referenciais do lado da direita. Com quem negociar? Alguém menciona sugestão do próprio GGN, de que caberia a Lula empoderar o interlocutor. Mas quem seria ele?

Surge o nome de Tasso Jereissatti, Lula se recorda da boa convivência com ele em outros tempos, depois de um período em que Tasso assumiu um discurso bastante autoritário. Na conversa, surge muito o nome do senador Oto Alencar, da Bahia.

Apesar da flexibilidade para novos pactos, Lula ainda tem resistências contra hipocrisias da política. Como o movimento “direitos já”, um evento político ocorrido na PUC-SP, que visava juntar centro-esquerda e centro-direita e para o qual Gleise Hoffmann foi convidada.

– Falei para a Gleise levar a Dilma e dizer: vocês tiraram o mandato de uma presidente legitimamente eleita, através de um golpe. Antes de continuar, peçam desculpas a ela.

(…)

Grande parte da conversa é sobre o impeachment e sua decisão de não concorrer em 2014, quando ficou claro a corrosão na popularidade de Dilma Rousseff. Marta chegou a organizar uma reunião em sua casa com parte do empresariado paulista pedindo para que Lula se candidatasse. Mas Lula ficou firme na posição de que a decisão cabia a Dilma que tinha o direito de postular sua reeleição.

Atribui o isolamento de Dilma especialmente ao marqueteiro João Santana. Alguém se lembra de uma reunião no Palácio, quando as pesquisas apontavam um índice de ótimo-bom de apenas 8% para Dilma. Na reunião, o prognóstico terrível:

– Com 8%, corre até o risco de impeachment.

Ainda havia possibilidade de Lula assumir a candidatura, mas nenhum movimento aconteceu da parte de Dilma, dona incontestável do direito de se candidatar. Santana tratava de minimizar os riscos, de enxergar perspectivas que ninguém via, explorando um ponto muito vulnerável nos mandatários: a solidão do poder, que faz com que as pessoas criem resistências contra quem traz problemas, e se abram para quem só bajula.

Depois da eleição, a corrida para impedir a corrosão do governo.

(…)

Foi procurado por Dilma dois meses após as eleições, para se aconselhar sobre o novo mandato. Sua primeira sugestão foi para a Economia. Precisava alguém de peso e confiável. Sugeriu que procurasse Luiz Trabucco, presidente do Bradesco, e Henrique Meirelles, que ainda estava preservado pelo mercado. Trabuco consultou o presidente do Conselho de Administração do banco, Lázaro Brandão, que apresentou a sugestão fatal, Joaquim Levy.

(…)

Lula vai se recordando da enorme dificuldade que encontrou quando tentou deter a avalanche do impeachment. Exemplo de lealdade, para ele, é o ex-presidente José Sarney, que, além de leal, é educado e sabe fazer política. Lembra-se de um político colocando as diferenças entre Sarney e FHC.

(…)

O assunto envereda para as relações com empresários. Lula diz que nenhum outro presidente ouviu tanto os empresários quanto ele. Levava empresários em cada viagem internacional, chamava ao Palácio para conversar, acatava conselhos. E, agora, se queixa da solidão.

– Abílio Diniz me ligava diariamente e me ajudou muitas vezes. Foi só sair do governo para não receber mais um telefonema dele.

Alguém menciona que Abílio é isso mesmo: sempre esteve a favor de todos os presidentes, mas enquanto presidentes.

A conversa termina um pouco nostálgica. Olhando para frente, Lula coloca na raiz de todos os problemas o profundo preconceito brasileiro, herança da escravidão.

– Quando comprei o apartamento em que moro até hoje, era líder sindical e o apartamento era cobertura. E os vizinhos ficavam incomodados por ter um sindicalista morando em cima deles.

O símbolo máximo desse preconceito foi a atitude da juíza Gabriela Hard, da Lava Jato.

– A pessoa faz um curso de direito que a família proporciona. Não precisa ser brilhante. Aí participa de um concurso. Quando vê na sua frente um trabalhador semi-analfabeto, que chega onde cheguei, o preconceito aparece na hora.

(…)

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