Extra! Novo estudo sobre o Covid-19 analisa falta de leitos, UTIs e aparelhos de ventilação no Brasil

Enquanto o presidente da república faz pronunciamentos repletos de deboche, pedindo o fim das medidas de contenção, e zomba de jornalistas à sua espera diante do Palácio da Alvorada, um novo estudo, divulgado há pouco, traz previsões preocupantes sobre a capacidade do sistema brasileiro de saúde diante do avanço do Covid-19 no país.

Segundo o estudo, assinado por pesquisadores da UFMG e do Ipea, instituições do próprio governo federal, haverá colapso do sistema público de saúde em algumas regiões, sobretudo em relação à disponibilidade de UTIs e aparelhos de respiração, caso a pandemia atinja apenas 0,1% da população em 30 dias.

A íntegra do estudo pode ser baixada aqui.

Abaixo, trecho do resumo divulgado no site do Cedeplar.

Principais Resultados das simulações 

Leito UTI
• Mesmo em um cenário mais otimista, seria observada uma sobrecarga em várias microrregiões de saúde;
• Considerando que uma taxa de infecção igual a 0,1% fosse alcançada em 1 mês, o número de microrregiões com oferta comprometida para o tratamento de casos mais graves seria igual a 192 (44%);
• Em torno de 47% dessas 192 microrregiões não possuem oferta de leitos UTI, nem público, nem privado. Por ser de maior complexidade, a oferta de leitos UTI é organizada em nível macrorregional, não sendo prevista em todas as microrregiões de saúde;
• No entanto, a presença de microrregiões contíguas com déficit de leitos para atender a demanda esperada de sua população coloca em xeque a capacidade do município polo da macrorregião de suprir toda a demanda de sua população de referência;
• O cenário mais dramático é observado quando a taxa de infecção de 1% é alcançada em apenas 1 mês. Nesse caso, o sistema praticamente entraria em colapso na medida em que 53% das microrregiões estariam operando além de sua capacidade (demanda estimada maior do que a quantidade disponível de leitos UTI);
• Esses resultados são especialmente graves, uma vez que a oferta de leitos UTI é fundamental para a recuperação dos casos mais vulneráveis à doença;

Aparelhos de ventilação mecânica
• Apesar de menos severa do que o estimado para leitos UTI, a situação da oferta de aparelhos de ventilação mecânica para atender a pacientes mais graves por COVID- 19 também é preocupante;
• Independentemente do cenário, as microrregiões com déficit de oferta estariam concentradas no Norte e Nordeste do país;
• Considerando o cenário em que a taxa de infecção de 1% fosse alcançada em 6 meses, 26% das microrregiões estariam operando a uma taxa superior à sua capacidade, comprometendo com isso o atendimento dos pacientes mais graves;
• Se a taxa de infecção alcançar 1% em apenas 1 mês, o percentual de microrregiões de saúde com capacidade comprometida de atendimento aumentaria para 38%.

(4) Principais Limitações

• Há incertezas com relação à propagação e duração da pandemia no Brasil e em cada uma de suas microrregiões;
• A estimação da demanda por internações gerais, internações em leitos UTI e aparelhos de respiração mecânica por grupos etários foi baseada em parâmetros norte- americanos;
• As estimativas não levam em consideração diferenças na propagação do SARS-Cov- 2 segundo presença de aglomerados subnormais, composição e tamanho dos domicílios no Brasil. A co-residência de grupos de risco (idosos e indivíduos com outras morbidades) com grupos de idade que têm maior probabilidade de desenvolverem a forma assintomática da doença (crianças, jovens e adultos jovens) pode afetar as taxas de infecção e sua distribuição regional e temporal. O efeito dependerá das políticas de controle adotadas pelas autoridades públicas, em especial o distanciamento social;
• Estimativas de leitos hospitalares (geral e UTI) e aparelhos de ventilação mecânica disponíveis para o atendimento dos pacientes com COVID-19 foram realizadas utilizando-se a taxa de ocupação média no SUS observada em 2019 para dos leitos gerais e UTI da microrregião de saúde. Essa taxa foi aplicada também para os leitos privados, uma vez que não dispomos de informações de internações hospitalares para esse setor;
• Oferta de leitos hospitalares e aparelhos de ventilação mecânica neste trabalho é mantida constante, independentemente do choque de demanda gerado em função da pandemia. A análise não contempla possível realocação de internações eletivas nem a criação de novos leitos ou disponibilização de aparelhos;
• A base de dados utilizada para estimar os leitos hospitalares e aparelhos de ventilação mecânica apresenta potencial de subestimação, principalmente em relação a leitos hospitalares. Nossas estimativas, portanto, refletem um cenário mais pessimista;
• As estimativas não consideram a capacidade de oferta por porte dos hospitais e questões de escala;
• Não foi considerada a pressão de demanda pelo COVID-19 sobre a oferta de profissionais envolvidos na assistência, suporte, higienização e outros insumos essenciais para o funcionamento adequado dos hospitais na resposta à pandemia.

Redação:
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