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Luis Fernandes: Jogador não é gladiador

Por Luís Manuel Rebelo Fernandes (Cientista político, professor do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, ex-presidente da FINEP, ex-Secretário Executivo do Ministério dos Esportes e membro do Conselho Deliberativo do Vasco da Gama) Em meio à escalada descontrolada da pandemia da COVID-19 no Brasil – e no mesmo dia em que o Rio de Janeiro […]

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Por Luís Manuel Rebelo Fernandes (Cientista político, professor do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, ex-presidente da FINEP, ex-Secretário Executivo do Ministério dos Esportes e membro do Conselho Deliberativo do Vasco da Gama)


Em meio à escalada descontrolada da pandemia da COVID-19 no Brasil – e no mesmo dia em que o Rio de Janeiro se torna recordista de mortes causadas pela doença no país e o sistema de saúde do Estado entra em colapso por falta de leitos de UTI, respiradores, equipamento de proteção e profissionais qualificados e treinados – a Diretoria do Vasco assinou uma nota com outros clubes e a Federação de Futebol do Estado em que declara desejar o “retorno às atividades em poucos dias” e estar pronto para “reiniciar os treinamentos”. Esse posicionamento não poderia ser mais infeliz.
O atleta profissional de futebol (assim como todos os profissionais envolvidos nas atividades esportivas) não é um gladiador que coloca a vida em risco, para deleite da plateia que assiste o seu desempenho no Coliseu. É jogador de um esporte que exige contato físico e interação próxima com outros jogadores e pessoas, tanto nos treinamentos quanto nas partidas.
Em meio à pandemia de um novo vírus que se mostra tão mortal quanto traiçoeiro, porque transforma pessoas sem qualquer sintoma em fonte ativa de contaminação, retomar as atividades (ainda que a portões fechados) representa um risco de saúde e de vida não só para os profissionais envolvidos, mas também para os seus familiares. Isso em um contexto em que o sistema de saúde do Estado já não consegue dar vazão à demanda de pacientes acometidos de COVID-19 em estado grave, multiplicando os falecimentos em casa ou em ambulâncias à espera de atendimento. Por mais que sejamos apaixonados pelo esporte, e pelo futebol em particular, não se trata de atividade essencial diante do desafio maior que é preservar vidas. É inaceitável expor os atletas, demais profissionais do futebol e seus familiares a esse risco, que é tanto de morte quanto de sequelas de saúde incapacitantes.
Para além de adotar medidas e práticas para defender a vida e a saúde dos profissionais do esporte e de seus familiares, o foco da atenção dos clubes e da Federação deveria estar centrado em encontrar soluções para enfrentar as graves perdas econômicas enfrentadas pelas agremiações (e que atingem os seus profissionais e funcionários) no período da pandemia.
Além de garantir o pagamento das cotas de televisionamento devidas, um caminho viável seria a constituição de um Fundo de Emergência formado com parte da receita recorde arrecadada pela CBF em 2019 (quase um bilhão de reais), e com possível contrapartida de recursos públicos, para abrir linhas de financiamento facilitado para as agremiações atravessarem o período de necessária paralisação de atividades.
Esse fundo poderia usar como garantia as próprias cotas devidas pela CBF a essas agremiações em função da sua participação em competições futuras.
Não se trata, certamente, da única solução possível. Mas para viabilizar qualquer solução que seja, é necessário foco e ação determinada. Acima de tudo, é preciso sempre ter em mente o valor principal – a defesa da vida!

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