A esquerda precisa se preparar para que atos não virem erros

(foto: GAZETA DO POVO/REPRODUÇÃO)

Assuntos apaixonantes como estratégias de guerra tentem a ser polêmicos. Por isso, gostaria de deixar registrado logo no começo desse texto que meu interesse não é impor um ponto de vista, mas apenas contribuir para o debate.

Primeiramente, vamos partir da premissa que estamos inseridos numa guerra híbrida e que estamos perdendo. Os confrontos entre as partes em disputa se dá em todos locais possíveis, inclusive (e sobretudo) no mundo virtual.

E nosso histórico nesse campo não é bom.

O desastre das eleições em 2018 já foi muito doído, mas não foi pior que a derrota de não conseguirmos cumprir o isolamento social por aqui, mesmo com diversos exemplos espalhados pelo mundo, como o adiamento das Olimpíadas ou o Vaticano vazio.

Ou seja, na fatia “remota” da guerra híbrida podemos dizer que teremos enormes dificuldades para um grande confronto, como derrubar o presidente. 

Em segundo lugar, vale lembrar que a disputa institucional pelo poder hoje é majoritariamente disputada pela direita neoliberal (Dória e Maia) contra a direita fascista (Bolsonaro). Na possível queda da familícia, a esquerda é apenas coadjuvante no campo institucional.

Ou seja, corremos o risco de colocar nosso exército na rua, certamente arriscando as vidas, para deixar Maia receber as batatas da vitória. E nós, enfraquecidos pela disputa contra sociopatas e um vírus mortal, não teríamos pernas para enfrentar a pauta neoliberal logo no momento de reconstrução de uma cultura econômica que pode durar décadas.

A União Soviética derrotou o Nazismo, mas com décadas de organização e trabalho. Já o Brasil parece estar mais perto de ser a próxima Bolívia do que ser o próximo Chile ou EUA.

Alguns cenários para ajudar na reflexão

Vamos pensar aqui algumas situações factíveis e como as enfrentaríamos.

Se a extrema direita colocar uma pessoa infiltrada nos atos da esquerda (vai estar todo mundo de máscara, né?) com Covid19 para infectar as pessoas, ou mesmo para explodir alguma coisa, como vamos trabalhar a narrativa dos nossos atos?

Vale considerar que estamos falando de uma direita que está acostumada a inventar falsos atentados pra nos culpar (Riocentro, foto do texto) e tem a máquina de inteligência institucional do país na mão.

Se morrer alguém por Covid19 que tenha pegado o vírus nos protestos da esquerda, o governo assumirá uma postura de comparação e irá tentar se livrar da responsabilidade pelo genocídio que criou (sem falar que perderíamos a vida de um(a) militante, né?).

Além disso, um ato violento localizado pode fazer um grande estrago na nossa narrativa. Basta lembrar que o ato mais lindo dos últimos anos, o Ele Não, foi totalmente desvirtuados e serviu de combustível para a pauta conservadora que nos derrotou nas eleições.

(Um adendo aqui: acho que o valor do Ele Não é histórico, por isso não se mede com derrota eleitoral. No longo prazo, o ato terá sido um dos grandes momentos da nossa história, portanto, foi bem necessário).

Não perco essa guerra por nada

Estou há dias chorando a morte de companheiros, petroleiros que morreram no trabalho pois o país não pode parar. Hoje, meu grande amigo e mentor na vida sindical perdeu um sobrinho de 29 anos e a dor tomou conta do meu corpo (meus pêsames, Bredinha. Você é um grande exemplo pra mim).

Quero muito derrotar esses genocidas psicopatas que tomaram conta do país.

Contudo, reafirmo que nossas ações também precisam contemplar o comportamento da esquerda no campo virtual. E isso, podemos fazer em quarentena e começar agora, enquanto acompanhamos o cenário do vírus.

Bom, Pensamentos são abstratos e a realidade material pode ser outra, por isso essa é apenas uma contribuição para o debate. A única certeza que eu tenho é que enquanto eu tiver 1 Joule de energia eu vou dedicar a combater o fascismo.

Tadeu Porto: Petroleiro e Secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil
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