O desempenho dos partidos de esquerda em 2020

Os números das eleições ainda estão incompletos.

É preciso esperar o resultado em cerca de 234 municípcios, além do segundo turno em outras 57 cidades.

Os resultados do segundo turno nessas 57 cidades serão fundamentais para se entender, de fato, a vontade das urnas. Por isso, as análises mais precisas apenas poderão ser feitas daqui a duas semanas.

Nas tabelas abaixo, pode ser que haja alguma inconsistência aqui e ali, pelo uso de fontes diferentes. Por exemplo: segundo algumas fontes, o PSOL já garantiu 5 prefeituras; segundo outras, apenas 4.

Mas podemos antecipar algumas análises. Os câmaras de vereadores, por exemplos, estão eleitas e já podemos julgar o desempenho dos partidos.

Em número de vereadores, o partido de esquerda que saiu à frente é o PDT, que elegeu 3.375 vereadores. Esse número representa uma pequena queda sobre os 3.769 vereadores que havia eleito em 2016.

O PSB veio em segundo lugar, com 2.969 vereadores eleitores, contra 3.631 vereadores eleitores em 2016.

O PT ficou em terceiro lugar, com 2.601 vereadores eleitores, contra 2.809 vereadores eleitores em 2016.

O PSOL elegeu 75 vereadores em todo país, contra 56 em 2016. Ou seja, apesar da enorme visibilidade do PSOL, em função de seu bom desempenho em capitais importantes, como Rio, Porto Alegre, BH e São Paulo, a legenda ainda tem um longo caminho para se capilarizar pelo interior do país.

Por outro lado, vale notar que há, evidentemente, diferenças políticas, em termos de relevância e projeção nacional entre eleger vereadores em cidades do interior e eleger quadros ideológicos em capitais e grandes cidades.

O PT fez uma grande bancada em São Paulo, por exemplo, aumentando o número de vereadores de 9 para 11. Eduardo Suplicy, do PT, foi o vereador mais bem votado do país.

O PSOL tem bancadas grandes no Rio e São Paulo.  No Rio, Tarcísio Mota foi o vereador mais bem votado do município.

O PDT não conseguiu eleger vereador em São Paulo ou Recife, o que representou uma dura derrota para a legenda. No Rio, o PDT elegeu apenas um vereador. Por outro lado, a legenda teve um bom desempenho em BH, onde elegeu 3 vereadores. Em BH, Duda Salabert, do PDT, foi a vereadora mais bem votada da cidade.

Agora vejamos o desempenho dos partidos progressistas nas eleições majoritárias.

A maior queda foi de PV e PCdoB, que perderam 55% e 43% de suas prefeituras.

Entretanto, a julgar pelas circunstâncias difíceis, até que o PCdoB não foi tão mal em manter 46 prefeituras.

A legenda que, por enquanto, elegeu o maior número de prefeitos foi o PDT, com 307 eleitos no primeiro turno, com uma queda de 8% sobre 2016. O PDT está muito perto ainda de conseguir dois prefeitos de capital, em Fortaleza e Aracaju, pois seus candidatos são favoritos.

O PSB sofreu um recuo forte, caindo quase 40% em relação a 2016. Essa queda talvez se explique pela guinada à esquerda da legenda, que fez um expurgo interno e uma autocrítica. Diante desse movimento, o PSB também não está mal na fita, com 251 prefeituras. O partido ainda disputa o segundo turno no Recife e Rio Branco.

O PT é o partido sobre o qual é mais difícil fazer uma análise, porque ele ainda disputa o segundo turno em muitas cidades importantes. A depender do resultado nessas localidades, será possível afirmar que a legenda conseguiu resistir (caso ganhe algumas dessas disputas) ou sofreu um novo baque.

O PSOL ainda não conseguiu superar uma espécie de armadilha que criou para si mesmo, a armadilha da eleição proporcional. A legenda cresceu em 2020, e já garantiu 5 prefeituras. Pode ainda ganhar em Belém, capital do Pará. É um número muito pequeno, todavia, visto que o Brasil tem mais de 5 mil municípios.

Outro dado interessante de ser analisado é o desempenho de cada partido em quantidade votos para prefeito. Esse dado reflete a participação dos partidos nas cidades maiores, com mais eleitorado. 

Com participação melhor em cidades grandes, que se refletiu em sua participação em várias disputas de segundo turno, o PT obteve 6,97 milhões de votos para seus candidatos a prefeito em 2020, um desempenho melhor do que o registrado em 2016 (um pouco mais de 100 mil votos a mais). Já o PDT perdeu quase 1 milhão de votos, caindo de 6,4 milhões de votos em 2016 para 5,3 milhão em 2020. O PSB perdeu 3 milhões de votos, saindo de 2016 para 2020.  

Olhando para o quadro de todos os partidos, o MDB foi o partido que mais elegeu prefeitos, com 755 eleitos, seguido de PP, PSD, PSDB, DEM e PL.

O PDT ficou em sétimo, PSB em oitavo, e PT, em décimo primeiro.

Conclusão: Se o PDT ganhar em Fortaleza e Aracaju, emergirá muito fortalecido para 2022.

Assumindo a posição de legenda de esquerda com maior número de vereadores e prefeitos, estará em melhores condições para oferecer uma parceria com o PSB.  E se isso acontecer, será mais fácil atrair outras legendas, criando um centro gravitacional com capacidade de furar a barreira ideológica e estabelecer parcerias com legendas de centro e centro-direita. 

O desempenho vitorioso do “centrão”, por sua vez, fortalece muito esse campo, que tem o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, como um de seus líderes. Maia já fez declarações de que pretende costurar uma candidatura de “centro-direita”, o que afasta, à princípio, a possibilidade de um acordo com Ciro Gomes ou PT.  Mas o mesmo Maia andou dando entrevistas, recentemente, afirmando que tentou puxar o apoio dos partidos de centro para a candidatura de Ciro Gomes, em 2018, então ainda há alguma chance por aí. 

A única maneira de Ciro ganhar o apoio desse campo, de qualquer forma, seria aparecer nas pesquisas com uma força muito grande, e para isso, o pedetista precisará superar as muitas resistências que encontra na própria esquerda, a maioria das quais criadas por ele mesmo. 

A melhor maneira de derrotar Bolsonaro seria a formação de uma frente ampla que incluísse a centro-direita, porque isso neutralizaria os ataques ideológicos histéricos do bolsonarismo, além de assegurar a governabilidade da próxima administração. 

O tamanho do PT, por sua vez, ainda está em jogo, a depender dos resultados que obtiver no segundo turno. Se o PT ganhar em Recife, Juiz de Fora, se ajudar Manuela e Boulos a vencerem a eleição, a legenda terá marcado muitos pontos.

Muitas águas ainda irão rolar nas próximas duas semanas!

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.