Chico D’Angelo: o que fazer para conter o horror?

Por Chico D’Angelo, deputado federal (PDT-RJ)

Hoje é o Dia Mundial da Saúde, mas infelizmente, no Brasil vivemos um tempo de ataques sistemáticos a saúde: à nossa saúde mental, política, moral, física e institucional.

Tudo está abalado pela militância da morte do governo Bolsonaro.

Bolsonaro faz ataques diários, sistemáticos, à saúde política do país e à saúde física dos brasileiros.

Hoje mesmo Bolsonaro fez ataques em ambas as frentes: atacou a imprensa, dizendo que poderia resolver o problema da Covid em minutos, caso pagasse a Globo e a Folha. A imprensa brasileira merece críticas, como a imprensa de qualquer país do mundo, mas daí a delirar ao ponto de atribuir a crise da Covid à ela, vai uma distância entre a sanidade e o mais completo delírio. A Covid já matou quase 340 mil brasileiros e isso, definitivamente, não é culpa da Globo.

E também atacou a saúde pública, voltando a maldizer as medidas de isolamento social, que são as únicas ações que podem reduzir a escalada dos contágios e das mortes, desafogando hospitais e cemitérios, e dando tempo ao SUS para vacinar todos e salvar milhares e milhares de vidas. Trata-se de um oportunismo criminoso do presidente, porque evidentemente nenhuma autoridade tem prazer em proibir atividades comerciais ou impedir que os cidadãos se divirtam: tratam-se de medidas totalmente excepcionais, tomadas em virtude de um pandemia terrível, com altíssimo poder de contágio. É muito mais objetivo e inteligente tomar medidas duras de contenção, apressar a vacinação, para que possamos voltar mais rapidamente à normalidade, do que negarmos a realidade, permitir que o vírus se propague, fazendo com que o Brasil permaneça como campeão mundial no número de mortos!

Com isso, o governo Bolsonaro não ajuda a resolver nem o problema econômico, nem o problema sanitário!

Nunca houve na história do Brasil um momento similar ao que estamos vivendo agora. A conjunção do horror beira o inacreditável: misturamos a crise sanitária mais impactante do país, o colapso do sistema hospitalar em diversas cidades, um Ministério da Saúde que mais parece da doença, um governo negacionista que apostou no caos e flerta sistematicamente com soluções autoritárias, e os desvarios de um ministro como Paulo Guedes, paparicado pelo mercado, obcecado por reformas e delirante a ponto de dizer que é cumprimentado em supermercados enquanto a economia derrete, e as pesquisas apontam que 65% da população entende que ela está no “caminho errado”.

Não bastasse a trágica situação nacional, o estado do Rio de Janeiro tem em Cláudio Castro um governador em exercício que, chegando ao poder depois da catástrofe do curto mandato de Wilson Witzel, embarca da canoa do obscurantismo bolsonarista, nega a ciência e declara-se inimigo de políticas públicas responsáveis de isolamento social, sugeridas por cientistas de renome, no contexto de explosão da Covid-19.

Não é concebível que uma doença para a qual já existe vacina mate tanta gente. É inadmissível que não tenhamos adotado uma política baseada na compra de vacinas, testagem em massa, isolamento social e auxílio financeiro aos mais necessitados; uma equação óbvia que poderia ter evitado o quadro de horror que temos agora.

O governo Bolsonaro foi incompetente? A coisa é pior. O que está acontecendo não é só incompetência, mas um projeto de destruição ancorado no rancor, na morte, no esgarçamento das instituições republicanas, no delírio persecutório e na aproximação com grupos extremistas paramilitares capazes de levar ao Brasil a uma situação-limite. O presidente aposta no caos porque é dele que se alimenta. Não há surpresa nenhuma nisso, porém. A trajetória política de Bolsonaro, um contumaz defensor da tortura e da ditadura empresarial-militar de 1964, é absolutamente coerente com o show de horrores que está em curso.

Precisamos agir. Já passou da hora do Congresso Nacional admitir que não há saída com esse governo, que há inúmeros motivos para um impeachment do presidente e um afastamento do cargo seria até pouco. O caso é de responsabilização penal. O que está em jogo ultrapassa os limites das divergências ideológicas; temos um governo que viola os princípios fundamentais da Declaração dos Direitos Humanos.
Insisto mais uma vez, e venho lutando para isso, na absoluta necessidade de superarmos divergências (o que não significa não admitir que elas existam) em nome da defesa de valores civilizatórios, do respeito à vida, da preservação da democracia e da justiça social. Lembrando da famosa sentença atribuída a Martin Luther King: neste momento, o silêncio dos bons é ainda mais preocupante que o grito dos maus. Quando a tormenta passar, as futuras gerações nos cobrarão: de que lado estivemos e como agimos para combater o horror?

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