Bolsonaro passa vergonha em Roma

“Em 21 anos cobrindo cúpulas e reuniões de chefes de estado, nunca havia visto uma cena tão constrangedora. Num canto daquela sala em Roma, não era um homem que parecia isolado. Mas um país que tinha perdido seu lugar no mundo”.

O comentário é de Jamil Chade, um dos mais longevos correspondentes internacionais da imprensa brasileira. Ele acompanhou e filmou o presidente Jair Bolsonaro no local onde ocorreu o encontro de chefes de Estado do G20, grupo que reúne, como diz o nome, as vinte maiores economias do planeta.

No vídeo, vemos um Bolsonaro deslocado, constrangido, ignorado por todos os outros chefes de Estado, que conversam animadamente entre si, trocando impressões sobre a economia global e a pandemia.

Sem ter com quem interagir, o presidente se dirige decididamente para o balcão onde se servia água, e tenta entabula uma conversa com os garçons. O intérprete traduz o que o presidente fala. Ele pergunta se eles são italianos. Eles respondem que sim. Bolsonaro então diz que é descendente de italianos.

Terminada a “conversa”, que certamente não resultou em nenhum novo investimento ao país, Bolsonaro se esgueira pelos cantos, senta-se, rodeado apenas por assessores.

Em determinado momento, os assessores de Bolsonaro buscam o presidente da Turquia, Erdogan, para uma conversa com Bolsonaro.

Erdogan se aproxima, constrangido, e pergunta a Bolsonaro como está o Brasil.

Bolsonaro repete algumas mentiras, como a de que a economia está indo muito bem. Não está. O Brasil está na lanterninha no ranking das principais economias em termos de recuperação econômica.

O presidente da Turquia então comenta um fato positivo sobre o Brasil, lembrando que agora possuímos abundantes recursos petrolíferos.

Ao invés de responder que sim, e falar de algum projeto de governo, Bolsonaro responde falando mal da principal estatal do país, a Petrobrás, dizendo que ela é um “problema”. Diz ainda que ela pertencia a u “partido político”, o que é uma coisa bizarra. Um chefe de Estado não diz a outro sobre as lutas partidárias doméstica. O estrangeiro não apenas será incapaz de entender do que se trata, não poderá responder, visto que, na eleição seguinte, os partidos no poder poderão ser outros.

Não tenho a experiência de correspondente internacional de Jamil Chade, mas tenho alguma leitura, e suspeito de que há séculos o mundo não testemunhava um chefe de Estado tão despreparado.

E isso tem consequências. A razão de ser dessas reuniões é justamente aproximar os chefes de Estado, para que eles troquem impressões e abram caminho para parcerias comerciais, acordos de transferência tecnológica, convênios científicos, acadêmicos, militares, etc.

Bolsonaro é incapaz de levar iniciativas assim adiante, porque ele se tornou um pária no mundo. A imprensa internacional o retrata como um extremista ignorante, que passou a pandemia toda disseminando fake news.

Um dos principais jornais italianos, o La Repubblica, noticiou que o presidente italiano distribuiu apertos de mão a vários chefes de Estado, mas não a Bolsonaro, porque o presidente brasileiro dissera, recentemente, que vacina dá Aids.

Trecho da reportagem do La Repubblica (traduzido por matéria da BBC Brasil sobre o isolamento de Bolsonaro):

“(O presidente italiano) Mario Draghi deu a mão a muitos dos primeiros-ministros que chegaram nesta manhã à Nuvola, onde ocorrem os trabalhos destes dois dias. Mas não para o presidente Bolsonaro, que disse que será a última pessoa no Brasil a se vacinar – afinal, ele acredita que as vacinas causam a Aids: algo dito por ele em um vídeo que as redes sociais nos deram a graça de censurar.”

Draghi teve reuniões com diversos líderes mundiais, entre eles Joe Biden (EUA) e Narendra Modi (Índia).

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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