Terrorismo de extrema direita assombra o país

Jair Bolsonaro fazendo arminha: mentor intelectual do terrorismo de extrema direita. Foto: Reuters/Paulo Whitaker

George Washington de Oliveira Sousa é o nome do bolsonarista que foi preso por tentar explodir um caminhão de combustível em uma rua próxima ao Aeroporto de Brasília, nesta véspera de Natal.

Em seu depoimento à polícia, o terrorista de extrema direita disse que elaborou um plano “com os manifestantes do QG do Exército para provocar a intervenção das forças armadas e a decretação de estado de sítio para impedir a instauração do comunismo no Brasil”.

“Seria uma tragédia jamais vista”, segundo o diretor da Polícia Civil do DF. A tragédia só não aconteceu porque o motorista do caminhão percebeu que uma caixa fora largada no interior do veículo e acionou a polícia.

O plano tinha outra fase, segundo o terrorista detido: instalar “uma bomba na subestação de energia em Taguatinga para provocar a falta de eletricidade e dar início ao caos que levaria à decretação do estado de sítio”.

Está claro o roteiro, portanto: a ideia era fomentar o caos para que Bolsonaro decretasse estado de sítio, o que justificaria a entrada em cena do Exército, para quem sabe impedir a posse de Lula e manter Bolsonaro no poder por sabe-se-lá quanto tempo.

É terrorismo golpista de extrema direita na veia, tentado e confessado – e ainda assim os grandes veículos de mídia não usam a óbvia expressão “extrema direita” em suas matérias sobre o caso, provavelmente para não queimar o filme do campo ideológico ao qual pertencem. Uma atitude canalha, para dizer o mínimo.

O golpismo e o armamentismo, duas das pautas preferidas da gestão de Bolsonaro, estão na raiz do quase atentado. Não se fomenta um movimento golpista impunemente – ainda mais quando você está no cargo político supremo do país, o de presidente.

O atentado terrorista frustrado é responsabilidade direta, portanto, de Jair Bolsonaro.

O próprio terrorista afirmou à polícia que adquiriu seu arsenal de armas (pistolas, revólveres, fuzis, carabinas e munições) motivado pelas “palavras do presidente Bolsonaro, que sempre enfatizava a importância do armamento civil dizendo o seguinte: ‘Um povo armado jamais será escravizado'”.

Duas questões merecem ser discutidas nesse momento.

A primeira é acerca da segurança para a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. Flávio Dino, que será o novo ministro da Justiça, foi no ponto ao escrever que “os graves acontecimentos de ontem em Brasília comprovam que os tais acampamentos “patriotas” viraram incubadoras de terroristas”.

Acontece que o QG do Exércio em Brasília onde os bolsonaristas permanecem acampados fica a poucos quilômetros do local onde será a cerimônia de posse. Estas incubadoras de terroristas vão continuar operando, sob o beneplácito do Exército, do Ministério Público e do Judiciário? Vão esperar que uma tragédia se consume para agir com efetividade?

A segunda questão é que o extremismo bolsonarista continuará nas ruas, assombrando o país, por algum tempo. O quanto de tempo dependerá da qualidade do enfrentamento que os setores democráticos do país estão dispostos a fazer.

É preciso atacar o terrorismo bolsonarista em todas as frentes.

Na frente ideológica os atores políticos, jornalistas e pessoas influentes no debate público deveriam trabalhar diariamente para expor a violência da extrema direita o máximo possível. Isolar o bolsonarismo até reduzi-lo a uma porcentagem insignificante da população é uma tarefa histórica que se impõe a todos nós neste momento.

O governo Lula será parte fundamental dessa ofensiva, pois uma melhora consistente na vida da população deixará evidente, para os que ainda não perceberam, o quão desastroso foi o governo Bolsonaro. Especial atenção deverá ser dada às nomeações para o STF: coragem para enfrentar o fascismo e comprometimento com as causas populares são requisitos básicos para as futuras escolhas. Dados os acontecimentos dos últimos anos, é quase desnecessário dizer que Lula não tem mais o direito de errar.

O novo governo precisa também agir com inteligência e efetividade na questão das armas. Revogar os decretos de Bolsonaro e recolher o máximo de armas possível em mãos de civis é uma tarefa civilizatória e questão de segurança nacional.

É preciso, ainda, ir para cima dos terroristas materialmente. Punir os responsáveis pelas agitações golpistas, sejam financiadores ou tresloucados que fecham estradas e acampam em quarteis, é urgente.

Uma tentativa de atentado terrorista em Brasília, a poucos dias da posse de Lula, é grave demais. A resposta precisa ser rápida e à altura.

Os memes dos ‘patriotas’ foram engraçados, mas a fase da palhaçada (com todo respeito aos palhaços) já passou. Agora, e nos próximos anos, é guerra contra o terrorismo de extrema direita.

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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