Sem Cristina, qual é a saída para a esquerda peronista na Argentina?

Militância peronista no Ferro Carril Oeste. Foto de Bruno Falci/ Cafezinho

Milhares lotam o estádio Ferro Carril Oeste em apoio a candidatura presidencial de Juan Grabois

Por Bruno Falci, de Buenos Aires, para o Cafezinho

Determinado a disputar as eleições presidenciais da coalizão de esquerda Frente de Todos (FdT), o líder do Movimento dos Trabalhadores Excluídos (MTE) e líder da Frente Pátria Grande, Juan Grabois, na última sexta-feira (19/06), lançou sua candidatura presidencial acompanhado de milhares de militantes populares e organizações sociais que lotaram o Estádio Héctor Etchart do clube Ferro Carril Oeste, localizado no bairro de Caballito, em Buenos Aires.

Grabois ficou conhecido no Brasil devido a um episódio em que ele foi impedido de visitar o presidente Lula, na condição de assessor do Papa Francisco e consultor do Conselho de Justiça e Paz da Santa Sé, na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, em 11 de junho de 2018. Diante disso, ele deixou um bilhete escrito à mão junto com um terço na recepção da PF. “Lamento não poder dialogar com pessoa tão querida pelo povo latino-americano”, afirmou.

A candidatura de Juan Grabois abre um novo capítulo na disputa eleitoral e gera expectativas sobre como se desenvolverá o processo interno da Frente de Todos. No cenário da esquerda argentina, que se encontra no limbo das desistências das candidaturas do presidente Alberto Fernandes e da vice-presidenta Cristina Kirchner, a presença do líder social Juan Grabois abre uma nova perspectiva nas prévias eleitorais da coalização pluripartidária Frente de Todos.

“Com o lema “Argentina Humana, Juan 23”, o líder popular apresentou as principais linhas orientadoras do seu programa político e assegurou que o movimento nacional “não pode continuar a ter o coração à direita”. Em seu pronunciamento, ele assinalou que fará “uma opção política e um programa de governo verdadeiramente transformador e revolucionário”. Grabois alertou, que a FdT tem “um projeto de país”, que o seu espaço não ambiciona “obter apenas deputados e vereadores” e que tem “uma batalha contra a direita obsoleta e neoliberal”.

O dirigente destacou a necessidade de se aprofundar as politicas de distribuição de renda para assim buscar maior justiça social, combater à pobreza e gerar empregos decentes, estes são os eixos centrais de sua proposta política. Sua abordagem se baseia na necessidade de construir um modelo inclusivo que garanta direitos para todos os argentinos, promovendo a participação ativa dos setores populares na tomada de decisões.

Grabois mencionou por inúmeras vezes a Cristina Kirchner, as recentes declarações da vice-presidenta e a carta que ela publicou nas redes sociais para o povo argentino, que lhe serviram de subsídio para muitas reflexões. «Já não há desculpas para fugir à responsabilidade histórica que nos toca», assegurou. “Isso não é um exercício, aqui não estamos brincando, aqui está um candidato a presidente. Nós, os filhos, as filhas da geração dizimada vamos assumir. Junto com os novos descamisados e a juventude da Argentina vamos assumir o posto”, afirmou. Há poucos dias, ele expressou em sua conta no Twitter:

“Não vamos perdê-la porque não vamos abandoná-la. À Cristina todo nosso respeito e gratidão. Sempre colocaremos nossa cara, corpo e coração por ela, pelo povo e pela Argentina

Foto: Bruno Falci / Cafezinho

O anúncio da candidatura de Grabois tem gerado expectativas e debates no Frente de Todos, pois sua incursão na disputa eleitoral traz uma perspectiva mais ligada à luta pelos direitos dos setores mais vulneráveis e excluídos da sociedade. Tendo sua trajetória como referência no movimento social e sua participação em diversas organizações populares, Grabois busca trazer a voz dos trabalhadores e as reivindicações dos setores negligenciados para o centro do debate político nacional.

O líder da Frente Pátria Grande propõe uma economia trinitária. Primeiro, um setor público eficiente que cuide de questões estratégicas, como saúde e educação de qualidade. Em segundo lugar, um setor privado eficiente e competitivo, mas ao mesmo tempo totalmente protegido e subsidiado. A terceira parte é o setor comunitário, uma diversidade que é um ecossistema inteiro.

Hoje, segundo o dirigente sindical, a economia popular está dispersa, ele trabalha por conta própria em atividades de subsistência: ambulantes, cartoneros, trabalhadores que vivem de recolher o lixo reciclável. Nesse sentido, defende que essa economia popular precisa se inserir no sistema e sair dessa economia informal de subsistência para uma economia popular comunitária organizada.

Juan Grabois, natural de San Isidro, 39 anos, é advogado, escritor, líder social, político e fundador do Movimento dos Trabalhadores Excluídos (MTE), da Confederação dos Trabalhadores da Economia Popular (CTEP) -atual UTEP – e da Grande Frente Pátria. Além disso, é membro do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano. Ele trabalha como professor de Teoria do Estado na Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires.

No ano de 2001, a atividade do cartonero se popularizou nas ruas dos grandes centros urbanos da Argentina. Por essa razão Grabois fundou o Movimento dos Trabalhadores Excluídos em 2002. Dedicou sua militância à organização sindical de catadores, ambulantes, costureiras, pequenos agricultores, indígenas, trabalhadores de empresas coletivizadas, ex-presidiários, entre outros. Esses personagens são a razão de sua pré-candidatura à presidência, lançada oficialmente anteontem, com o lema “Argentina Humana”.

Foto de Bruno Falci / Cafezinho

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