Apenas 3% dos eleitores de Lula não gostam de seu governo

Segundo a pesquisa Ipec divulgada ontem, apenas 1% dos eleitores de Lula classificavam seu governo como péssimo, e 2% como ruim, o que dá um total de 3% de avaliação negativa

Por outro lado, 26% de seus eleitores deram nota “ótima” à sua administração e 43% optaram por “boa”, somando 69% de aprovação. Outros 28% a classificaram como “regular”.

Dentre os eleitores de Bolsonaro, 61% consideram o governo Lula como ruim ou péssimo. Destaque para os 44% de péssimo, revelando um gigantesco e perigoso núcleo duro bolsonarista.

Entretanto, 29% dos eleitores de Bolsonaro classificaram a administração Lula como “regular”, 7% deram a nota “boa”, e 2% a consideram ótima.

Essa é a maior conquista de Lula em 2023: manter uma alta aprovação junto a seu eleitorado, e provocar algumas fissuras no bolsonarismo.

Datafolha e Ipec: boas notícias, mas um ponto preocupante

Ontem foram publicadas duas pesquisas importantes de avaliação de governo, a Ipec (formada por técnicos do antigo Ibope) e a Datafolha. As duas sondagens fizeram entrevistas presenciais com um pouco mais de 2000 pessoas, na primeira semana de dezembro.

Ambas trouxeram boas notícias para o governo, que manteve uma aprovação alta, estável ao longo de todo o ano.

O ponto preocupante pode ser visto na estratificação por renda da pesquisa Ipec: a classe média, ou o que se convencionou chamar assim na cultura política brasileira, voltou a se afastar do governo Lula.

Dentre famílias com renda mensal superior a 5 salários, a imagem de Lula está muito negativa: 64% desaprovam sua gestão.

Este setor social reúne um grande poder de influência sobre o debate político brasileiro, em virtude da hegemonia que exerce nas redes. O governo precisa melhorar a sua comunicação com a classe média, sob o risco de perder a disputa narrativa.

Lula tem uma poderosa carta na manga, todavia, que é o seu prestígio descomunal junto às camadas mais humildes da população. Ainda segundo a Ipec, 64% dos brasileiros com renda familiar até 1 salário aprovam a gestão do presidente Lula.

A razão principal desse trunfo é a seguinte. As famílias mais abastadas, com renda superior a 5 salários, representam apenas 11% do eleitorado, ou aproximadamente 17 milhões de eleitores. Já a turma do andar de baixo, com renda até 1 salário, corresponde a 26% de todos os brasileiros aptos a votar, ou 40 milhões de eleitores.

Por mais que a turma mais rica tenha mais tempo para se dedicar à internet, ela ainda forma um percentual pequeno da população. Além disso, Lula tem a vantagem de gozar de forte prestígio junto a classe artística e a juventude, o que ajuda a neutralizar essa rejeição alta na classe média.

Entre eleitores com idade de 16 a 24 anos, a aprovação de Lula está em 54%, acima da média geral, que é de 51%.

A linha do tempo da aprovação de Lula na Ipec, abaixo, deve ser interpretada com o seguinte cuidado: a piora de Lula se concentrou exclusivamente entre os eleitores de Bolsonaro, e possivelmente também entre alguns eleitores de Lula na classe média. O cruzamento dos dados nos permitem inferir que Lula pode ter perdido algum apoio entre setores da classe média que votaram nele, ao mesmo tempo que ganhou eleitores pobres que votaram em Bolsonaro.

Datafolha mostra impressionante estabilidade

A pesquisa Datafolha é mais positiva que a Ipec no sentido de que ela não detectou nenhuma variação negativa na aprovação do governo. A administração Lula tinha 38% de ótimo/bom em março, na primeira pesquisa, e hoje tem exatamente… 38%. Tinha 29% de ruim e péssimo e hoje tem 30%.

A linha do tempo do nível de confiança na palavra do presidente Lula, por sua vez, aponta uma modesta melhora: em setembro, 42% disseram que nunca confiavam em Lula, número que caiu para 40% hoje. Os que disseram sempre confiar em Lula, por sua vez, são 24%, contra 23% na pesquisa anterior.

 Conclusão

Uma leve piora na avaliação do governo já era esperada, em virtude de uma certa estagnação econômica observada nos últimos meses. Lula não conseguiu ainda colocar em marcha um conjunto relevante de obras públicas e isso frustou algumas expectativas.

O pagamento do décimo terceiro, mais o relativo sucesso do programa Desenrola, talvez produzam um fim de ano positivo para o setor de serviços e, por consequência, para o mercado de trabalho, o que poderá se refletir na próxima avaliação do governo.

Entretanto, o maior desafio de Lula, a meu ver, o seu calcanhar de Aquiles, ainda é o setor de infra-estrutura, aí incluindo mobilidade, tecnologia, comunicações e indústria pesada.

O governo precisa oferecer um plano audacioso de modernização do país. Seria a melhor maneira, aliás, de interromper essa tendência, que é o ponto mais preocupante na pesquisa Ipec, de perda de prestígio junto às camadas de renda média. Uma das características psicológicas e culturais mais marcantes da classe média é sua maior tendência para o abstrato, o que a deixa vulnerável a oportunistas e reacionários.

Essa primeira etapa é a parte mais simples e mais barata de todo o processo: produzir um material visual, tipo um programa em realidade virtual, do que o Brasil pode vir a se tornar, caso seja possível elevar, em várias ordens de magnitude, o investimento público e privado em obras de infra-estrutura. Os brasileiros precisam voltar a sonhar, até porque o desejo é um manancial enorme de energia produtiva!

Clique aqui para baixar o relatório da pesquisa Ipec. O relatório do Datafolha ainda não foi divulgado. Quando o for, divulgo o link. A fonte de números e gráficos estão em reportagem da Folha, aqui.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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