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Sinergias de Brasil e Rússia, e as relações com os EUA

No último encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler russo, Sergei Lavrov, em Brasília, na quinta-feira (22), foram discutidos temas da agenda bilateral, além de debates ocorridos na reunião de chanceleres do G20 e questões globais. Esse encontro reflete a cooperação existente entre Rússia e Brasil, evidenciando a sinergia entre […]

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Ueslei Marcelino/Reuters

No último encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler russo, Sergei Lavrov, em Brasília, na quinta-feira (22), foram discutidos temas da agenda bilateral, além de debates ocorridos na reunião de chanceleres do G20 e questões globais. Esse encontro reflete a cooperação existente entre Rússia e Brasil, evidenciando a sinergia entre as posições desses países em questões internacionais.

De acordo com o pesquisador em ciência política Boris Zabolotsky, entrevistado pela Sputnik Brasil, ambos os países compartilham princípios como a não interferência em assuntos internos, a condenação ao unilateralismo e a busca por um desenvolvimento sustentável. Essa visão de desenvolvimento sustentável defendida pela Rússia e pelo Brasil difere da abordagem proposta pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e inclui a busca por uma redistribuição de renda e a diminuição das desigualdades.

Essa agenda está alinhada com os objetivos do BRICS (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que surgiu com a proposta de reforma do sistema de governança global. Zabolotsky destaca a sinergia importante entre a presidência brasileira no G20, o BRICS e a presidência russa do BRICS, ressaltando a proximidade das pautas desses dois agrupamentos. A Rússia, nesse sentido, defende a inclusão do Brasil no conselho de Segurança da ONU como forma de promover a reforma da governança global.

A presidência brasileira no G20 até novembro proporcionará a oportunidade de discutir questões fundamentais para a agenda nacional e internacional do país, como o conflito na Ucrânia. É importante mencionar que a Rússia apoia os esforços brasileiros na mediação do conflito e a proposta de criação de um grupo para buscar a paz. No entanto, segundo Zabolotsky, existem obstáculos que impedem o avanço de uma agenda de paz e mediação na Ucrânia. Enquanto as potências ocidentais exigem uma paz unilateral, impondo sua perspectiva à Ucrânia, a Rússia busca uma abordagem construtiva que vise verdadeiramente à paz no país.

Além disso, o pesquisador destaca a posição de liderança do Brasil no G20 como uma oportunidade para pautar outras questões cruciais, como a repercussão das declarações do ex-presidente Lula sobre o genocídio em Gaza em comparação com o Holocausto. Zabolotsky enxerga nessas declarações de Lula uma exposição da hipocrisia ocidental e ressalta a necessidade de uma abordagem mais equitativa para os conflitos globais.

Embora o Brasil esteja se aproximando cada vez mais dos Estados Unidos, como é observado nos acontecimentos recentes, as relações entre o Brasil e a Rússia não são afetadas. E essa sinergia política entre os dois países em questões internacionais não impede o fortalecimento das relações entre Brasil e Estados Unidos. Pelo contrário, o Brasil, ao estabelecer parcerias com diferentes nações, demonstra uma postura pragmática e aberta ao diálogo com diversos atores internacionais.

Vale salientar que o Brasil mantém sua autonomia e capacidade de agir no cenário internacional de acordo com seus interesses nacionais. As relações entre países são complexas e envolvem diversos aspectos, e o Brasil tem demonstrado habilidade em gerir suas relações com diferentes países, buscando construir uma política externa equilibrada e benéfica para seus objetivos e valores.

Podemos sim fazer algumas comparações de gestões. A atual gestão brasileira, de Lula possui algumas discrepâncias com a gestão anterior, de Jair Bolsonaro, principalmente em questões de diplomacia. Se por um lado a postura extremista de Bolsonaro levou o Brasil ao quase isolamento diplomático, a postura equilibrada de Lula permite que o Brasil se insira até nas questões mais delicadas do globo, como a guerra na Ucrânia ou de Israel em Gaza.

No cenário internacional, as posturas extremistas de líderes políticos têm gerado crises diplomáticas e fragilizado o diálogo entre nações. Os exemplos de Bolsonaro, Javier Milei na Argentina, Donald Trump nos Estados Unidos e Benjamin Netanyahu em Israel, só para citar os principais, têm adotado abordagens polarizadoras, resultando em tensões e impactos nas relações internacionais, quando não verdadeiras guerras, como o caso de Israel.

Em contrapartida, líderes equilibrados como Lula, e podemos citar também neste aspecto Emmanuel Macron na França,Vladimir Putin na Rússia e Xi Jinping na China; líderes que têm se destacado por buscar o diálogo mesmo com as partes mais difíceis. Eles compreendem a importância do entendimento mútuo e da negociação para promover a estabilidade e o avanço nas relações internacionais.

Um exemplo dessa abordagem equilibrada ocorreu durante a gestão de Lula. Mesmo com posições políticas diferentes, Lula priorizou o fortalecimento do diálogo com países vizinhos na América Latina, buscando soluções pacíficas para conflitos regionais. Sua atuação como mediador resultou, por exemplo, no apoio aos esforços brasileiros na mediação do conflito na Ucrânia, e de Israel, conforme mencionado anteriormente.

Emmanuel Macron, por sua vez, tem buscado construir alianças e consensos multilaterais, mesmo diante de líderes de diferentes ideologias. Um caso recente foi seu papel nas negociações sobre a crise climática, quando Macron se esforçou para manter o diálogo com governos que resistiam a algumas medidas de combate às mudanças climáticas. Sua postura de equilíbrio e abertura ao diálogo contribuiu para avanços significativos nas negociações. Macron também tem se esforçado muito em território europeu, defendendo a causa do fortalecimento da União Europeia, mantendo o diálogo até com grupos liquidacionistas. Recentemente a França vive uma crise diplomática fortíssima na África Ocidental, e apesar das perspectivas negativas, Macron conseguiu manter o diálogo com os novos líderes africanos que tinham em sua bandeira posições anti-frança.

Vladimir Putin, líder russo, também têm sido um exemplo de busca pelo diálogo, mesmo em momentos de tensões com o Ocidente. Ele tem demonstrado uma abordagem pragmática e assertiva na política externa russa, buscando resolver conflitos por meio do diálogo e da diplomacia. Um exemplo é o seu envolvimento nas negociações para o acordo nuclear com o Irã, buscando um equilíbrio entre os interesses das diferentes partes envolvidas, sem falar nas negociações com a Turquia, a França, Arábia Saudita e Egito, todos países tipicamente da órbita ocidental, aliados dos EUA, a Turquia e a França como membros chaves da OTAN, e mesmo assim Putin conseguiu abrir muitas pontes de diálogo e cooperações de alto nível.

Xi Jinping, presidente chinês, é outro líder que tem se destacado por sua diplomacia hábil e assertiva. A China é conhecida por sua abordagem pragmática, priorizando o desenvolvimento econômico e a estabilidade regional. Embora enfrentasse divergências com países como os Estados Unidos, o governo chinês tem buscado preservar o diálogo e trabalhar para resolver disputas comerciais por meio de negociações e ações bilaterais.

Comparado a essas posturas equilibradas, líderes extremistas tendem a adotar discursos inflamados e agressivos, prejudicando o diálogo e arriscando a estabilidade internacional. As crises diplomáticas causadas por líderes extremistas têm consequências negativas e dificultam o alcance de soluções duradouras para os desafios globais.

Nesse sentido, tanto o Brasil quanto a Rússia têm demonstrado a importância de promover a diplomacia e a cooperação internacional em seus respectivos papéis no G20 e no BRICS. Essas ações não impedem o fortalecimento das relações entre Brasil e Estados Unidos, que têm se aproximado cada vez mais, como indicado pelos acontecimentos recentes. O Brasil, ao estabelecer parcerias com diversas nações, demonstra sua intenção de manter um diálogo aberto e pragmático com diferentes atores internacionais, enquanto preserva sua autonomia e busca avançar seus interesses nacionais.

Em um mundo cada vez mais complexo, é fundamental valorizar líderes que compreendem a importância da diplomacia e buscam manter o diálogo mesmo com as partes mais difíceis. A busca por soluções negociadas e a promoção da estabilidade internacional são fundamentais para construir um futuro harmonioso entre as nações.

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