Radicalismo suicida de Milei faz setor de construção desabar 30% na Argentina

A queda mais dramática desde a pandemia, impulsionada por declínios de 30 pontos na Construção, 16,7 no Comércio e 19,6 na Indústria. Os dados de abril e maio indicam números ainda piores.

Em cinco meses, a gestão econômica de Javier Milei e do ministro da Economia, Luis Caputo, conseguiu romper, negativamente, todos os recordes numéricos da atividade. Enquanto o Presidente se preparava para cantar na apresentação de seu livro no Luna Park, o INDEC divulgava que, em março, o Estimador Mensal de Atividade Econômica (EMAE) registrou uma queda de 8,4 por cento na comparação interanual e de 1,4 por cento em relação a fevereiro na medição dessazonalizada. A cifra é alarmante porque mostra que a recessão não encontrou um piso, já vindo de uma queda de 3 pontos em fevereiro.

Para encontrar estatísticas de tamanha magnitude, não basta voltar a 2001, a que até agora era a pior crise socioeconômica da história. Hoje, esses números só são superados pelos primeiros meses da pandemia de COVID, quando a economia se fechou completamente. Um dado extra: as cifras de atividade e consumo observadas em abril e maio mostram que a queda do PIB continuará, distante da recuperação em “V” que pregam a Casa Rosada e o Ministério da Fazenda.

Durante a pandemia, em março de 2020, a atividade caiu 11,5 por cento, 26,4 em abril, 20,6 em maio e 12,3 em junho. Naquele ano, o PIB desabou 10 pontos. Com os números atuais, os economistas estimam que este ano a economia da Argentina estaria mais perto de cair 5 ou 6 pontos do que os 3 previstos pelos organismos internacionais.

Setor por setor
A base da recessão sustentada está confirmada, segundo o INDEC, pela paralisação dos três motores da economia: consumo de massa, indústria e construção. A contração não foi maior devido ao impacto do setor agropecuário e da mineração.

Em relação ao mesmo mês de 2023, seis setores de atividade que compõem o EMAE registraram aumentos em março, destacando-se Agricultura, Pecuária, Caça e Silvicultura (+14,1% ia) e Exploração de Minas e Pedreiras (+5,9% ia). O setor de Agricultura, Pecuária, Caça e Silvicultura (+14,1% ia) foi, por sua vez, o de maior impacto positivo na variação interanual do EMAE, seguido pela Exploração de Minas e Pedreiras (+5,9% ia).

A nota negativa é que nove setores da atividade registraram quedas na comparação interanual, destacando-se Construção (-29,9%) e Indústria de Transformação (-19,6%). Além disso, o Comércio Atacadista, Varejista e Reparações caiu -16,7%. Todos esses setores contribuíram com 6,6 pontos percentuais para a queda interanual do EMAE.

Perspectivas futuras
Os indicadores industriais, de construção e de consumo observados em abril e maio refletem que a queda continuará. “Maio continua igualmente ruim”, disse a este jornal um grande supermercadista, que observa que as vendas não aumentam. Um dado preocupante é que, por exemplo, as vendas de leite convencional estão caindo 12 pontos este mês.

O setor de bebidas, que já havia registrado uma queda de 20 pontos na alta temporada, começou a cair 30 pontos em maio. O impacto será visto, principalmente, nas bebidas alcoólicas, como vinho e cerveja. Algo semelhante foi comunicado pela Confederação Argentina da Média Empresa (CAME), que reportou quedas acentuadas tanto na produção quanto nas vendas de pequenas e médias empresas. Essas cifras de consumo também se conectam com o colapso da produção industrial, que se aprofunda.

Na União Industrial Argentina (UIA), asseguram que as quedas “continuam sustentadas”, exceto nas atividades petrolíferas. Na sexta-feira, a entidade presidida por Daniel Funes de Rioja realizará seu evento anual em Mendoza, ao qual Milei solicitou participar. “Vai ser pesado”, preveem alguns industriais, que já começaram a demitir funcionários devido ao impacto da queda na atividade. Em Mendoza, província onde Milei ganhou com facilidade e o governador Cornejo apoia os libertários, estão preparando uma logística amigável caso se confirme a visita do presidente.

Na Câmara Argentina da Construção (CAMARCO), já estão resignados, pois sem obras públicas, os números de queda do setor ficarão em torno de 40 pontos. Com esses três setores em baixa, além da decisão do governo de conter aposentadorias e salários, a recuperação em “V” já é praticamente impossível. “Estamos indo para a falência”, confessou um empresário do setor alimentício. A maioria, diante desse contexto, tentou falar com Caputo sobre a necessidade de sustentar a demanda, mas não conseguiram quórum. O governo está decidido a gerar uma recessão para que seja, junto aos salários contidos, a âncora de uma inflação que permanece alta apesar da crise.

Título original: Cantando sobre os escombros da economia argentina
Artigo publicado originalmente no Página 12, em 23 de maio de 2024.

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