Negociações em Roma devem definir os rumos de um novo pacto, com o Irã pressionado por sanções e Trump disposto a evitar confronto militar
As negociações entre o governo do ex-presidente americano Donald Trump e a República Islâmica do Irã sobre um possível novo acordo nuclear começaram sob um clima surpreendentemente positivo, segundo fontes de ambos os lados. Apesar das persistentes divergências e da falta de transparência sobre as exigências específicas de cada parte, observadores internacionais detectaram um otimismo incomum nas conversas, marcando um contraste gritante com as tentativas fracassadas da administração Biden.
Um novo cenário geopolítico favorece Washington
Enquanto o governo Biden enfrentou resistência tanto do Irã quanto de críticos domésticos ao tentar reviver o acordo nuclear de 2015, Trump se beneficia de uma posição significativamente mais forte. “Os iranianos estão mais desesperados agora do que em 2022, com uma economia em frangalhos”, analisou Gregory Brew, especialista em Irã da consultoria Eurasia Group.
A situação interna do Irã se deteriorou drasticamente desde que Trump retirou os EUA do JCPOA (Plano de Ação Integral Conjunto) em 2018, reimpôs sanções severas e isolou o país internacionalmente. Protestos populares, inflação galopante e a desvalorização da moeda criaram uma crise sem precedentes para o regime teocrático.
Pressão máxima e oportunidades estratégicas

A posição regional do Irã sofreu golpes devastadores nos últimos anos. A queda do regime de Bashar al-Assad na Síria – principal aliado de Teerã – e os ataques israelenses que eliminaram líderes do Hezbollah no Líbano enfraqueceram sua rede de influência. Enquanto isso, o programa nuclear iraniano avançou perigosamente, com o país enriquecendo urânio a 60% de pureza – um pequeno passo técnico da marca de 90% necessária para armas.
“O Irã continua sendo o único país sem armas nucleares que enriquece urânio nesse nível”, alertou recentemente a Agência Internacional de Energia Atômica. Apesar das insistências de Teerã sobre fins pacíficos, a comunidade internacional permanece cética.
O jogo de xadrez nuclear
Trump deixou claro que não tolerará um Irã nuclear. “Prefiro fechar um acordo do que bombardeá-los”, declarou ao New York Post, mantendo a ambígua estratégia de “pressão máxima” combinada com abertura a negociações. Essa abordagem parece estar surtindo efeito, forçando até mesmo o conservador aiatolá Ali Khamenei a reconsiderar sua oposição histórica ao diálogo com os EUA.
Analistas como Ryan Bohl, da RANE Network, acreditam que o Irã busca urgentemente uma saída diplomática: “Eles precisam de qualquer alívio econômico para acalmar o descontentamento popular e evitar ações militares que Trump claramente colocou sobre a mesa”.
Desafios e incógnitas no caminho do acordo
As próximas rodadas de negociações em Roma testarão a real disposição de ambas as partes. Enquanto os EUA exigem garantias contra a militarização do programa nuclear, o Irã considera seu direito ao enriquecimento uma linha vermelha intransponível.
O papel de Israel como fator desestabilizador também preocupa. Pouco antes das negociações, Trump declarou que permitiria que Israel liderasse qualquer ataque militar caso as conversas fracassassem – uma ameaça que paira como espada de Dâmocles sobre o processo diplomático.
Enquanto isso, a economia iraniana continua seu colapso lento, criando um relógio biológico que pode determinar o sucesso ou fracasso dessas negociações históricas. Como resumiu Nader Itayim, editor da Argus Media: “Tudo se resume a uma questão: os EUA querem desmantelar o programa nuclear iraniano ou apenas impedir que vire uma bomba?”


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