Waack: Tarifa de Trump por causa de Bolsonaro pode afundar direita brasileira

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O jornalista William Waack publicou, nesta quinta-feira, 10, um artigo no jornal O Estado de S. Paulo em que analisa os impactos políticos e diplomáticos da nova tarifa de 50% anunciada pelos Estados Unidos sobre todos os produtos brasileiros.

Segundo ele, a decisão do presidente norte-americano, Donald Trump, representa uma intervenção inédita nas relações bilaterais e atinge diretamente a direita brasileira associada ao ex-presidente americano.

De acordo com Waack, a postura adotada por Trump rompe com a tradição diplomática entre os dois países e deve causar consequências eleitorais significativas. “A direita brasileira identificada com Trump vai sofrer graves danos eleitorais”, afirmou.

O aumento tarifário foi acompanhado de uma carta enviada por Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na qual o chefe da Casa Branca expressa insatisfação com medidas do Judiciário brasileiro contra Jair Bolsonaro e com decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que afetaram o funcionamento de redes sociais americanas. A correspondência marca um agravamento na relação entre os dois países e, para Waack, trata-se de um gesto guiado por motivações ideológicas.

“Trump era com a prepotência de quem, de fato, escolheu dividir o mundo em esferas onde os fortões fazem o que querem, e os fracos — como o Brasil — que se virem”, escreveu o jornalista, ao comentar o teor da retaliação anunciada.

No texto, Waack faz um paralelo com outro momento de tensão diplomática entre os dois países. Ele recorda que, na década de 1970, o então presidente Jimmy Carter impôs pressões sobre o Brasil por questões ligadas a violações de direitos humanos durante a ditadura militar e ao acordo nuclear firmado entre Brasil e Alemanha. Para o jornalista, no entanto, as situações não são comparáveis. “As semelhanças são remotas dadas a brutalidade — e a irracionalidade ideológica — exibida por Trump neste momento”, avaliou.

Waack também analisa a decisão de Trump do ponto de vista estratégico e econômico. Segundo ele, a retaliação é contraproducente tanto para os interesses comerciais dos EUA quanto para a estabilidade geopolítica global. “Do ponto de vista exclusivamente comercial e geopolítico, o tratamento que o presidente dos EUA dá ao Brasil é simplesmente burrice”, afirmou.

Embora reconheça que o impacto econômico possa ser negociado no futuro, como já ocorreu em outros contextos diplomáticos, Waack considera que o dano político é mais profundo. Em sua visão, Trump tem historicamente enfraquecido os mesmos grupos políticos que busca apoiar.

Ele cita casos em países como Canadá, Austrália, México e Alemanha, onde a interferência direta do ex-presidente norte-americano teve efeito contrário ao pretendido. “Trump desmoralizou, enfraqueceu e tirou o potencial eleitoral das forças políticas que queria ‘proteger’. No caso brasileiro, o clã Bolsonaro e todo agente político que aderiu ao fã clube de Trump”, escreveu.

A análise também abordou a falta de canais diplomáticos eficazes entre o governo brasileiro e a atual administração dos Estados Unidos. Waack comparou a postura do Brasil à do governo mexicano, que teria estabelecido linhas diretas de diálogo com a Casa Branca. Segundo ele, essa ausência de articulação aumentou a vulnerabilidade do país.

“O Brasil é uma potência menor, com escassa capacidade de retaliação que não nos torne ainda mais vulneráveis, sobretudo em relação aos insumos”, alertou o jornalista.

Ao concluir o artigo, Waack afirmou que os vínculos institucionais entre Brasil e Estados Unidos tendem a sobreviver às disputas pontuais, mas ressaltou que o momento é de instabilidade política e diplomática. Segundo ele, o cenário futuro será determinado pelas decisões e reações que ocorrerem nos próximos dias.

“Os ‘Trumps’ podem passar, mas os laços permanecem”, observou. Para o jornalista, o verdadeiro teste à racionalidade das ações diplomáticas brasileiras será imposto pela forma como o governo e os atores políticos reagirão às medidas norte-americanas.

A análise de William Waack aponta para um cenário de instabilidade com implicações além da esfera econômica. A nova tarifa imposta por Trump amplia a crise entre os dois países e expõe os custos de uma política externa brasileira que, segundo o jornalista, se aproximou de forma incondicional ao ex-presidente dos EUA.

O artigo também amplia o debate interno sobre os efeitos dessa aproximação para os grupos políticos ligados ao bolsonarismo, que passaram a enfrentar um desgaste público após a decisão do governo norte-americano. Com isso, a medida de Trump se insere no centro das disputas políticas que antecedem o calendário eleitoral brasileiro e pode redesenhar parte do cenário político nos próximos meses.

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