Lula aciona OMC e vai liderar reação global ao tarifaço de Trump

AGêNCIA BRASIL

O governo brasileiro decidiu acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC) após a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos nacionais por parte dos Estados Unidos. A medida foi anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista à TV Record nesta quinta-feira, 10. Lula afirmou que o país buscará apoio de outras nações afetadas para formar um bloco comum contra as políticas comerciais adotadas por Washington.

“Vamos mobilizar todos os instrumentos legais e diplomáticos disponíveis para defender nossos interesses”, declarou Lula. Ele classificou a medida como uma violação das regras internacionais de comércio e anunciou que o Brasil vai recorrer formalmente à OMC nas próximas semanas.

O Palácio do Planalto já iniciou articulações por meio do Itamaraty e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) para estruturar a queixa técnica à entidade internacional. Além disso, estão sendo avaliadas alternativas de cooperação no âmbito do Mercosul, dos BRICS e de outros fóruns multilaterais.

O presidente ainda propôs a criação de uma frente conjunta com os países que também sofreram sanções comerciais dos EUA. Segundo ele, a intenção é transformar a reação brasileira em uma iniciativa de articulação mais ampla. “O Brasil não aceitará passivamente esse tipo de retaliação comercial”, disse Lula. “Nossa política externa é baseada no respeito mútuo, mas também na firmeza quando nossos direitos são violados.”

A tarifa afeta especialmente o setor siderúrgico, que exporta aproximadamente US$ 3 bilhões por ano para os Estados Unidos. O Ministério da Fazenda acompanha os impactos econômicos da decisão e avalia possíveis compensações ao setor produtivo.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração (ABM) manifestaram apoio à iniciativa do governo federal. Em nota, a CNI afirmou que “o empresário brasileiro está unido na defesa de um ambiente comercial justo e previsível, conforme preconizado pelos tratados multilaterais”. O presidente da entidade, Ricardo Alban, destacou a importância de uma resposta coordenada.

A decisão dos EUA reaqueceu o debate sobre o papel do Sul Global no comércio internacional e a necessidade de reformar os mecanismos multilaterais. Lula tem reiterado, em fóruns internacionais como G20 e BRICS, a defesa de uma nova governança econômica global baseada em equilíbrio entre as nações.

Durante a entrevista, o presidente também voltou a defender a criação de uma moeda comum entre os países em desenvolvimento. “Eu não sou obrigado a comprar dólar para fazer relação comercial com a Venezuela, com a Bolívia, com a Suécia, com a China. A gente pode fazer nas moedas nossas”, declarou.

A proposta de desdolarização vem sendo discutida em fóruns como os BRICS e é vista por aliados do governo como uma forma de reduzir a dependência de economias centrais. O governo brasileiro entende que o atual cenário abre espaço para um novo realinhamento de forças no sistema internacional.

Sem citar diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro, Lula também comentou a postura de setores políticos que, segundo ele, adotam um discurso nacionalista, mas se alinham a interesses estrangeiros. “Tem gente que se diz patriota, mas se ajoelha diante dos interesses estrangeiros. Nós vamos defender o Brasil com firmeza e dignidade”, disse o presidente.

Além do setor industrial, movimentos sociais, sindicatos e organizações populares também manifestaram apoio à resposta do governo. Entidades realizaram atos públicos em várias cidades, defendendo a soberania econômica e a integração entre países latino-americanos como reação às medidas dos EUA.

A Associação Brasileira da Indústria do Agronegócio (Abia) e a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) também se posicionaram. Ambas apontam que o impacto das tarifas vai além da indústria e pode prejudicar cadeias produtivas inteiras, com reflexo em empregos e competitividade.

A medida dos EUA é interpretada por analistas como parte de uma política externa mais agressiva da administração Trump. Segundo fontes ouvidas por veículos como o Valor Econômico, a iniciativa tem forte viés político e se encaixa na estratégia protecionista do governo norte-americano.

Lula afirmou que o Brasil está disposto a dialogar, mas ressaltou que isso deve ocorrer em fóruns adequados. “Se o presidente americano tem divergências, ele deve levar a questão a um fórum internacional, para discutir o tema civilizadamente”, disse.

O governo também anunciou que vai continuar monitorando o cenário e manterá consultas com os setores econômicos afetados. A ideia é estruturar um pacote de medidas que envolvam, além da ação na OMC, apoio jurídico e institucional às empresas brasileiras atingidas.

A ofensiva brasileira sinaliza uma tentativa de reforçar o papel do país como defensor do comércio multilateral e articulador entre nações emergentes. A expectativa é que o caso leve à intensificação dos debates sobre as regras internacionais e os limites das ações unilaterais.

Com o apoio de entidades industriais, sociais e setores diplomáticos, o governo brasileiro indica que pretende ir até o fim nas ações legais contra os EUA. Internamente, a decisão também é vista como uma oportunidade para reafirmar uma política externa baseada na autonomia e na integração regional.

A disputa comercial ainda está no início, mas o posicionamento do Brasil aponta para uma estratégia de confronto jurídico e diplomático, sem adesão a retaliações imediatas. A meta é fortalecer canais internacionais de resolução de conflitos, ao mesmo tempo em que busca manter estabilidade econômica e institucional.

O governo Lula sinaliza, assim, que pretende transformar a crise em oportunidade para questionar os mecanismos atuais do comércio global e reafirmar seu compromisso com a soberania econômica nacional.

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