Inflação alta e juros em 15%: Galípolo diz que BC não será leniente com meta de 3%

AGÊNCIA SENADO

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta quarta-feira, 10, que a inflação segue elevada e disseminada no país, pressionando a autoridade monetária a manter a taxa básica de juros em 15% ao ano. Em audiência na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, ele defendeu o cumprimento rigoroso da meta de inflação definida por decreto, de 3%, e descartou qualquer flexibilização nesse objetivo.

“Tenho visto que a maior parte das críticas à elevada taxa de juros, de 15%, muitas vezes está associada a uma sugestão, vamos dizer assim, de que não se deveria cumprir a meta”, afirmou Galípolo. Em seguida, reforçou: “Não é uma sugestão, a meta decorre de um decreto, a meta é 3%. A meta não é 3% com 1,5 ponto (de tolerância) para cima e 1,5 ponto para baixo no sentido de que eu posso perseguir a meta de maneira leniente.”

Segundo o presidente do Banco Central, os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) estão “bastante incomodados” com a desancoragem das expectativas do mercado, que se afastam do centro da meta estabelecida. A autoridade monetária projeta manutenção da taxa Selic no patamar atual por um período prolongado, após ter elevado o juro básico em 0,25 ponto percentual em junho.

A taxa de 15% é a mais alta em duas décadas e foi definida como necessária para conter uma inflação que, segundo Galípolo, permanece espalhada entre diversos itens da cesta de consumo. De acordo com os dados mais recentes, 72,5% dos componentes do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estão acima da meta, o que configura um quadro de pressão inflacionária ampla, segundo avaliação do Banco Central.

As projeções do mercado financeiro, conforme o Boletim Focus divulgado pelo BC, apontam inflação de 5,18% em 2025 e de 4,50% em 2026 — ambas acima do centro da meta de 3%, ainda que dentro do intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual.

Galípolo também destacou que a política monetária praticada ao longo de 2024 não foi suficientemente contracionista para reverter o cenário de inflação elevada. “Os dados de inflação corroboram a ideia de que a taxa básica de juros não estava em patamar suficientemente contracionista ao longo de 2024 para se atingir a meta”, disse, justificando a retomada do ciclo de alta da Selic iniciado em setembro do ano passado.

Desde então, a taxa subiu de 10,50% para os atuais 15%, em resposta à persistência inflacionária e à necessidade de reancorar as expectativas do mercado. A elevação dos juros também tem impacto sobre o mercado de câmbio. Segundo Galípolo, o real foi uma das moedas que mais se valorizou em 2025 em comparação com pares internacionais, impulsionado pelo chamado “carry trade” — rentabilidade obtida por investidores estrangeiros ao manter posições em ativos brasileiros.

“O aumento da taxa Selic elevou o carry do real”, afirmou, ao explicar que a atratividade da moeda brasileira cresceu em razão da taxa de juros elevada. O fenômeno contribui para a entrada de capital estrangeiro e valorização do real, embora também gere efeitos sobre o crédito e o consumo interno.

Durante a audiência, o presidente do BC ressaltou que a economia brasileira vem registrando crescimento robusto, mesmo com a exclusão dos efeitos do agronegócio, que deverá ter nova safra recorde em 2025. A análise leva em conta o dinamismo observado no mercado de trabalho e em setores não agrícolas, que vêm surpreendendo em relação às projeções anteriores.

A manutenção da taxa Selic no atual nível foi sinalizada na última reunião do Copom como o cenário mais provável, caso não haja mudanças significativas nas expectativas de inflação ou nos indicadores de atividade econômica. A decisão final será tomada no próximo encontro do colegiado, agendado para o fim deste mês.

O Banco Central também acompanha de perto os efeitos da política monetária sobre o crédito, o câmbio e o comportamento dos preços administrados. A atuação da autoridade monetária é feita com base no regime de metas de inflação, e o compromisso com o centro da meta tem sido reiterado em todas as comunicações recentes.

As declarações de Galípolo ocorrem em meio a críticas sobre o impacto da taxa de juros elevada sobre a atividade econômica, o investimento e o endividamento das famílias. No entanto, o Banco Central tem argumentado que o cenário inflacionário atual exige uma postura firme para evitar que as expectativas se desancorem de forma mais permanente.

A política monetária brasileira continuará a ser guiada pela meta de 3%, e eventuais decisões futuras dependerão da evolução dos indicadores econômicos e das projeções para os próximos trimestres. A próxima reunião do Copom será decisiva para definir se o atual patamar da Selic será mantido por mais tempo ou se novas medidas serão adotadas para garantir o controle da inflação.

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