O governo da Rússia declarou nesta quarta-feira, 9, que acompanha de forma sistemática os recentes movimentos dos Estados Unidos em matéria de política comercial, especialmente no que se refere à possibilidade de novas tarifas unilaterais que possam atingir países que integram o grupo BRICS. A afirmação foi feita pela porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, durante um pronunciamento à imprensa.
“Estamos monitorando de perto as ações dos Estados Unidos no contexto de sua política comercial, incluindo a introdução de novas tarifas contra vários países, em particular, nossos parceiros do BRICS”, afirmou Zakharova, segundo informações da agência Sputnik.
De acordo com a diplomata, as medidas anunciadas pelos Estados Unidos representam um desrespeito aos princípios do livre comércio. Ela argumentou que decisões unilaterais nesse campo têm potencial para gerar desequilíbrios na economia global. “As tarifas unilaterais impostas por Washington ferem as normas do livre comércio e representam um risco significativo à estabilidade da economia mundial”, acrescentou.
A manifestação do governo russo ocorre um dia após o ex-presidente norte-americano Donald Trump afirmar, durante uma reunião com membros do gabinete na Casa Branca, que pretende adotar uma tarifa de 10% contra países do BRICS. “Qualquer um que faça parte do Brics receba uma tarifa de 10% muito em breve”, declarou Trump na ocasião.
O bloco BRICS, atualmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, foi recentemente ampliado com a inclusão de novos membros. A possível imposição de tarifas comerciais dos Estados Unidos sobre todos os integrantes do grupo pode gerar tensões econômicas e diplomáticas em escala global.
Críticas à política externa dos EUA sobre a Ucrânia
Durante o mesmo briefing, Maria Zakharova também comentou a atuação dos Estados Unidos no conflito envolvendo a Ucrânia. A porta-voz criticou o fornecimento contínuo de armamentos por parte do governo norte-americano às forças lideradas por Kiev, alegando que essa política agrava o cenário internacional de instabilidade e dificulta o avanço de propostas diplomáticas.
“Temos afirmado repetidamente que o fornecimento de armas ao regime terrorista de Zelensky leva ao prolongamento das hostilidades, literalmente à destruição da Ucrânia e dos ucranianos”, afirmou Zakharova, referindo-se ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
Segundo ela, o envio de armamentos por parte dos aliados ocidentais, especialmente os Estados Unidos, contribui para o prolongamento do conflito e aumenta o risco de consequências que escapem ao controle. “Esse apoio bélico aumenta o risco de uma escalada descontrolada do conflito, da vigilância descontrolada de armas e de sua queda nas mãos de terroristas internacionais”, declarou.
A diplomata reiterou que tais práticas dificultam a construção de qualquer solução negociada e agravam o cenário no Leste Europeu. Para o governo russo, a manutenção do apoio militar ocidental à Ucrânia representa um obstáculo direto aos esforços de estabilização da região. “Tais práticas não eram restritas para a construção de soluções pacíficas e apenas agravavam a crise em curso no Leste Europeu”, concluiu.
Contexto internacional e impactos geopolíticos
As declarações de Zakharova refletem o aumento das tensões geopolíticas envolvendo grandes potências, em um contexto de redefinição de alianças estratégicas e disputas comerciais em múltiplas frentes. A sinalização de Donald Trump sobre a imposição de tarifas ao BRICS ocorre em meio a seu esforço para retomar protagonismo político, com foco em medidas protecionistas já adotadas durante seu mandato anterior.
Especialistas internacionais avaliam que medidas desse tipo podem afetar diretamente as cadeias globais de valor, principalmente em setores industriais e energéticos. Países do BRICS têm papel relevante no fornecimento de matérias-primas e produtos estratégicos, e a adoção de tarifas pode provocar reações em bloco por parte das nações afetadas.
No campo militar, o prolongamento do apoio dos Estados Unidos à Ucrânia continua sendo um dos principais pontos de atrito entre Moscou e Washington. Desde o início da ofensiva militar russa em território ucraniano, os Estados Unidos têm fornecido recursos financeiros, armamentos e equipamentos ao governo de Zelensky, com respaldo de aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
A Rússia, por sua vez, classifica essa política como fator que contribui para o prolongamento do conflito, e acusa os países ocidentais de interferirem diretamente na soberania regional.
Próximos passos diplomáticos
Até o momento, os Estados Unidos não responderam formalmente às declarações da diplomacia russa. Também não há detalhes sobre quando as supostas tarifas anunciadas por Donald Trump poderiam ser implementadas, tampouco se há base legal ou apoio legislativo para tal medida no curto prazo.
O cenário continua em observação por parte de entidades multilaterais e mercados internacionais, que acompanham os desdobramentos das declarações tanto na esfera comercial quanto militar. As próximas semanas devem ser marcadas por novos pronunciamentos dos países envolvidos, inclusive em fóruns como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Conselho de Segurança das Nações Unidas.