Atlas‑Bloomberg mostra virada na aprovação de Lula após tarifaço de Trump e Bolsonaro

Ricardo Stuckert/PR

A série histórica da aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva registrou nova mudança, segundo levantamento Atlas‑Bloomberg divulgado nesta terça‑feira, 15 de julho. O índice de entrevistados que aprovam o trabalho do chefe do Executivo chegou a 49,7 %, enquanto a desaprovação recuou para 50,3 %. Os dois percentuais configuram empate técnico dentro da margem de erro informada pelo instituto e sinalizam continuidade da trajetória de recuperação iniciada no primeiro trimestre deste ano.

A sondagem traz o maior nível de aprovação presidencial desde outubro de 2024, período que antecedeu sequência de quedas registrada nos meses seguintes. Naquele momento, a avaliação positiva encontrava‑se em 48,9 %, de acordo com séries anteriores também divulgadas pela Atlas‑Bloomberg. Entre novembro de 2024 e fevereiro de 2025, a desaprovação superou a aprovação por diferenças de até seis pontos percentuais. O quadro começou a se reverter nos levantamentos de março e abril, quando a distância caiu pela metade.

O estudo avaliou também a percepção sobre o conjunto da administração federal. O percentual de entrevistados que classifica o desempenho do governo como “ótimo ou bom” alcançou 43,4 %, avanço de 1,8 ponto percentual em relação ao último inquérito. Já a fatia que descreve a gestão como “ruim ou péssimo” recuou para 49,4 %, queda na mesma proporção. A opção “regular” manteve‑se em 7,2 %. É a primeira vez desde abril que as avaliações negativas deixam de formar maioria expressiva entre os respondentes.

Impacto do embate comercial com os Estados Unidos

Os pesquisadores atribuem parte da melhora à forma como o Planalto reagiu às tarifas anunciadas pelo ex‑presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros. Na sondagem, 45 % dos participantes afirmaram que a resposta do governo foi “adequada”. Para 27,5 %, houve “excesso”, e 25 % consideraram a reação “fraca”. As alternativas foram apresentadas tal como aparecem no questionário do instituto, sem adjetivos adicionais, para evitar interpretação fora do contexto original.

O tema não ficou restrito à avaliação subjetiva. Quando questionados sobre as perspectivas de negociação, 48 % declararam acreditar que a gestão Lula conseguirá firmar acordo com Washington para reduzir ou revogar as tarifas. Outros 29 % disseram não confiar em tal resultado, enquanto 23 % preferiram não opinar. O grau de expectativa sugere impacto direto na percepção sobre a condução da política externa e econômica.

Tendência de recuperação pós‑queda

Analistas de mercado financeiro e de ciência política têm destacado que a confiança em acordos comerciais costuma influenciar índices de popularidade, sobretudo quando envolve setor exportador relevante.

Dados da Secretaria de Comércio Exterior mostram que a corrente de comércio bilateral com os Estados Unidos representou 14 % do total brasileiro no último ano. Tarifas sobre aço, alumínio e produtos do agronegócio foram apresentadas pela equipe de Trump em 20 de junho, com vigência a partir de agosto. O Ministério das Relações Exteriores divulgou nota em 3 de julho informando que buscaria “diálogo direto” antes de recorrer a organismos internacionais.

Desde então, o Palácio do Planalto publicou boletins semanais sobre consultas técnicas com representantes do Departamento de Comércio norte‑americano. Em 9 de julho, o ministro das Relações Exteriores relatou, em audiência no Senado, que há “caminho possível” para entendimento antes da data‑limite para vigência plena das tarifas. Embora essa declaração não figure como citação direta na pesquisa, especialistas ouvidos pelo Atlas‑Bloomberg apontam correlação entre a divulgação de tratativas e o aumento de confiança detectado entre os entrevistados.

Metodologia do levantamento

O estudo coletou respostas entre 10 e 13 de julho por meio de questionário online aplicado a painel de usuários recrutado pela plataforma AtlasIntel. A amostra foi de 3 512 pessoas, distribuídas em todos os estados e no Distrito Federal. As respostas foram ponderadas segundo gênero, faixa etária, escolaridade, renda e região de residência, utilizando dados do Censo 2022 do IBGE como referência. A margem de erro máxima é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, dentro de um intervalo de confiança de 95 %. A pesquisa não recebeu patrocínio partidário e teve o financiamento declarado da agência Bloomberg.

Outros indicadores monitorados

A Atlas‑Bloomberg incluiu questões sobre situação econômica doméstica, desemprego, inflação e segurança pública. Os resultados completos serão publicados no portal da consultoria após auditoria estatística, conforme procedimento padrão estabelecido pela empresa. Ainda não há divulgação dos demais números, mas a empresa informou, em nota, que eles serão liberados até o fim desta semana. Esses dados costumam compor análises de tendência que balizam relatórios enviados a clientes do mercado financeiro e a veículos de comunicação.

Próximos passos do governo

Dentro do Planalto, auxiliares próximos do presidente avaliam que a margem alcançada na aprovação cria ambiente favorável para tramitação de propostas econômicas no Congresso na volta do recesso parlamentar, em agosto. Fontes do Ministério da Fazenda afirmam que as discussões sobre o novo arcabouço fiscal poderão ganhar impulso se a percepção de competência na área internacional se mantiver positiva. A equipe de articulação política, contudo, planeja manter agenda de viagens regionais para reforçar presença em redutos eleitorais onde, segundo pesquisas internas, a avaliação ainda aparece abaixo da média nacional.

Contexto eleitoral e históricos anteriores

Embora a disputa presidencial de 2026 permaneça distante no calendário, cientistas políticos observam que trajetórias de aprovação em períodos intermediários costumam influenciar estratégias de reeleição ou de sucessão governista. Em série comparável do segundo mandato de Lula, realizada em 2008, a aprovação rondava 58 % no mesmo ponto do ciclo. Especialistas alertam, entretanto, que variáveis econômicas globais e domésticas podem alterar o quadro rapidamente, tornando prematura qualquer projeção eleitoral baseada apenas em índices de julho de 2025.

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