Uma nova rodada da pesquisa Genial/Quaest revelou uma reversão importante na avaliação do governo Lula (PT) entre maio e julho deste ano. O levantamento indica que o embate diplomático com o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teve papel central na recuperação da imagem do presidente brasileiro, especialmente junto a setores que antes se mostravam mais críticos.
A taxa de aprovação do governo subiu de 40% para 43%, enquanto a desaprovação caiu de 57% para 53%. O saldo negativo caiu de -17 para -10 pontos percentuais. Os dados foram publicados nesta quarta-feira (16) por Felipe Nunes, diretor da Quaest, na rede social X (antigo Twitter). “O que chama atenção é que a melhora na popularidade se deu principalmente fora das bases de apoio tradicionais do governo”, escreveu Nunes.
Entre as regiões, o Sudeste foi o principal destaque. A diferença negativa entre avaliação positiva e negativa, que era de -32 pontos percentuais, caiu para -16. Entre eleitores com ensino superior completo, o saldo passou de -31 para -8 pontos. Entre brasileiros da classe média, a rejeição caiu de -19 para -9 pontos.
O levantamento mostra ainda que a base de apoio do presidente entre eleitores de esquerda permanece sólida, com aprovação acima de 80%. Já entre os bolsonaristas, o apoio segue abaixo de 12%. A mudança mais expressiva ocorreu entre os eleitores sem posicionamento ideológico definido. Nesse grupo, o saldo negativo caiu de -28 para -16 pontos. “A mudança mais significativa foi captada nos setores moderados”, apontou Nunes.
Segundo a Quaest, três fatores explicam a recuperação do governo: o confronto com Trump, a leve melhora na percepção sobre a economia e a campanha de comunicação do Planalto baseada na lógica de “nós contra eles”. A pesquisa mostra que 66% da população tomou conhecimento da carta enviada por Trump a Lula, e 79% acreditam que as tarifas anunciadas pelos EUA vão impactar negativamente suas vidas. Outros 72% disseram que Trump errou ao justificar as taxas com base em uma alegada perseguição a Jair Bolsonaro (PL).
Para Felipe Nunes, a repercussão do episódio foi determinante. “O tarifaço contra o Brasil conseguiu unir a esquerda, os lulistas e os moderados (sem posicionamento); mas dividiu a direita e os bolsonaristas. Ou seja, empurrou o ‘centro’ para o colo do Lula”, afirmou. O levantamento também mostra que 53% da população aprovam a reação de Lula, que defendeu a adoção de medidas equivalentes contra os Estados Unidos.
Na comparação direta com Bolsonaro, Lula também levou vantagem. Entre os entrevistados, 44% disseram que o atual presidente está se saindo melhor na disputa política, enquanto 29% preferem o ex-presidente. A avaliação da economia, por outro lado, mostrou apenas variações leves. Houve pequena redução na percepção de alta nos preços dos alimentos, acompanhando os indicadores de inflação do período. No entanto, 43% dos entrevistados acreditam que a economia vai piorar nos próximos 12 meses. A Quaest aponta que esse dado está diretamente ligado ao receio provocado pelas ações de Trump.
Outro tema investigado pela pesquisa foi a campanha do governo em favor da taxação dos super-ricos. A proposta ainda é pouco conhecida: apenas 43% dos entrevistados ouviram falar da “justiça tributária”, e só 17% afirmaram ter assistido aos vídeos divulgados com uso de inteligência artificial.
Apesar da baixa penetração, o apoio à proposta é majoritário. Segundo a pesquisa, 63% dos brasileiros apoiam o aumento de impostos sobre os mais ricos como forma de aliviar a carga tributária dos mais pobres. A ideia de isentar do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil tem aprovação de 75%. A elevação da carga sobre os super-ricos tem apoio de 60%.
A forma de comunicação, no entanto, pode ser um entrave. De acordo com o levantamento, 53% dos entrevistados acreditam que campanhas com apelo direto à divisão entre “ricos e pobres” aumentam a polarização. “É a escolha tática que o governo vai ter que fazer assim que retomar o assunto”, afirmou Nunes.
A pesquisa Genial/Quaest foi realizada entre os dias 10 e 14 de julho com 2.004 entrevistas presenciais em 120 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais e o nível de confiança é de 95%. O levantamento foi encomendado pela Genial Investimentos.