Presidente Lula sobe o tom contra mandatário americano: “Não precisamos de imperador do mundo”
“Respeito é bom e a gente gosta de respeito”, declarou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista à CNN Internacional, deixando claro que o Brasil não tolerará desrespeito às suas instituições democráticas e soberania nacional. A frase, carregada de firmeza diplomática, resume o tom adotado pelo chefe do Executivo brasileiro diante das recentes declarações e medidas do presidente americano Donald Trump.
Em entrevista concedida à renomada jornalista Christiane Amanpour, uma das mais respeitadas profissionais do jornalismo internacional e âncora da CNN Internacional – emissora com maior visibilidade nos Estados Unidos e no mundo -, o presidente Lula deixou claro que não irá tolerar nenhum desrespeito ao Brasil, às instituições democráticas brasileiras e a ele próprio, presidente da República eleito com mais de 60 milhões de votos.
A entrevista ocorreu em um momento de alta tensão nas relações bilaterais, após Trump impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e fazer declarações sobre o sistema judiciário brasileiro, especificamente sobre o caso envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Ele não foi eleito para ser imperador do mundo”
A crítica mais contundente do presidente brasileiro veio quando questionado sobre as tarifas impostas pelos Estados Unidos. “O que não podemos ter é um presidente Trump esquecendo que ele foi eleito para governar os EUA. Ele não foi eleito para ser o imperador do mundo”, declarou Lula, em uma das passagens mais marcantes da entrevista.
O presidente brasileiro demonstrou indignação com a forma como as medidas foram anunciadas, sem qualquer diálogo diplomático prévio. “Para nossa surpresa, ao invés de uma resposta à carta que enviamos, recebemos a notícia publicada no site do presidente Trump. Não foi uma carta enviada oficialmente por meios diplomáticos”, explicou Lula, classificando a atitude como “um erro, um grande erro”.
Defesa da independência do Judiciário
Quando confrontado com as declarações de Trump sobre o caso Bolsonaro, Lula foi enfático na defesa da independência do sistema judiciário brasileiro. “O ramo judicial do poder no Brasil é independente. O presidente da República não tem influência alguma sobre o Supremo Tribunal Federal e seus ministros”, afirmou.
O presidente brasileiro fez questão de esclarecer que Bolsonaro não está sendo julgado por ser um oponente político, mas pelos atos que cometeu. “Ele não está sendo julgado pessoalmente. Ele está sendo julgado pelos atos; ele tentou organizar um golpe de Estado. Ele ameaçou secretamente, planejou as mortes do vice-presidente, de mim e do presidente do Supremo Tribunal Federal”, declarou Lula.
Tarifas de 50%: “Foi uma surpresa”
Questionado por Christiane Amanpour sobre como se sentia ao receber uma tarifa de 50% dos Estados Unidos, a maior economia do mundo, Lula não escondeu sua surpresa. “Para mim, foi uma surpresa, não apenas o valor dessa tarifa, mas também como foi anunciada, a forma como foi anunciada”, respondeu o presidente.
Lula criticou duramente a falta de multilateralismo na abordagem de Trump. “Acho que está faltando um pouco de multilateralismo na mentalidade do presidente Trump. E ele sabe que um problema desse tipo é resolvido em uma mesa de negociação”, afirmou.
O presidente brasileiro revelou que o Brasil vinha negociando com os Estados Unidos há meses, com participação do ministro das Relações Exteriores e do vice-presidente da República, que também é ministro da Indústria e Desenvolvimento. “Desde março, enviamos uma proposta ao governo americano. Após 10 reuniões, enviamos uma proposta em 7 de maio, dizendo o que queríamos e qual era um possível acordo de restauração”, explicou.
Dados contestados e soberania nacional
Lula contestou veementemente as informações apresentadas por Trump para justificar as tarifas. “A carta do presidente Trump está cheia de coisas que não são verdadeiras”, declarou. “Primeiro, o sistema judiciário no Brasil é independente. O presidente da República não pode interferir no ramo judicial do poder.”
O presidente também corrigiu dados sobre o déficit comercial: “Segundo, o déficit comercial não é verdadeiro. Os Estados Unidos, nos últimos 15 anos, têm um superávit de 410 bilhões de dólares em relação ao Brasil.”
“Se Trump fosse brasileiro, também estaria sendo julgado”
Em uma das passagens mais provocativas da entrevista, Lula fez uma comparação direta entre Trump e Bolsonaro. “Gostaria de dizer algo ao povo americano. Se Trump fosse brasileiro, e se ele tivesse feito o que aconteceu no Capitólio, ele também estaria sendo julgado no Brasil e teria violado a Constituição, segundo os ministros. Ele também poderia ser preso se tivesse feito isso aqui no Brasil”, declarou.
Resposta diplomática e possíveis retaliações
Apesar do tom firme, Lula sinalizou que o Brasil buscará primeiro o diálogo. “O que tenho dito publicamente é que usaremos todas as palavras que existem no dicionário tentando negociar”, afirmou o presidente.
No entanto, caso as negociações não prosperem, o Brasil está preparado para retaliar. “Se não conseguirmos chegar a um acordo, posso assegurar que iremos à Organização Mundial do Comércio ou podemos reunir um grupo de países para responder, ou podemos usar a lei de reciprocidade que foi aprovada pelo Congresso Nacional”, advertiu Lula.
“Respeito é algo muito bom”
O presidente encerrou suas declarações reafirmando a importância do respeito mútuo nas relações internacionais. “Vamos enviar uma carta diplomática oficial do presidente da República do Brasil ao presidente Trump para que ele saiba que respeito é algo muito bom. E eu gosto de demonstrar respeito, e gosto de receber respeito”, concluiu.
A entrevista deixou claro que, sob a liderança de Lula, o Brasil não se curvará a pressões externas e defenderá com firmeza sua soberania nacional e a independência de suas instituições democráticas, mesmo diante da maior potência mundial.