Quaest: Ciro cai para 0% entre eleitores da direita

Os candidatos do PDT, Ciro Gomes, e do PL, o presidente Jair Bolsonaro, durante debate da TV Globo Reprodução/Twitter

Lula consolida recuperação nas pesquisas e se distancia na liderança.

Vamos começar por um dado curioso da pesquisa Genial/Quaest divulgada hoje: Ciro Gomes conseguiu o que parecia impossível e caiu para 0%.

Tudo bem que esse não é o número de intenção de voto para o primeiro turno, mas é emblemático. Quando perguntados qual nome poderia ocupar o lugar de Jair Bolsonaro, zero entrevistados escolheram Ciro Gomes.

Como ele se posiciona como oposição radical a Lula, seu único espaço seria como herdeiro político do bolsonarismo. Porém, nessa situação, ele despenca de uma média de 8% a 12% nas intenções de voto para o primeiro turno, para 0%.

Ou seja, os votos de Ciro vêm de pessoas que ainda o veem como alguém que poderia ser apoiado por Lula – cenário impossível. Isso significa que seus percentuais de primeiro turno tendem a migrar para o petista conforme a campanha se acirrar.

O dado revela o fracasso da estratégia antipetista de Ciro. Apesar de todo esforço para ocupar o espaço da direita desde 2022, não conseguiu se estabelecer como alternativa viável. Seus ataques hediondos a Lula e ao PT o fizeram ser mal visto na esquerda, ao mesmo tempo em que permanece solenemente desprezado pela direita (embora seus xingamentos a Lula sejam instrumentalizados pelo bolsonarismo).

Tem causado certo estranhamento ainda o seu silêncio diante dos ataques de Trump ao Brasil. É uma postura suspeita para quem sempre defendeu o patriotismo e o nacionalismo – bandeiras históricas do PDT, legenda da qual ainda é vice-presidente nacional.

A recuperação consistente de Lula

A pesquisa Genial/Quaest confirma uma tendência que já vínhamos observando nas últimas semanas: as placas tectônicas da política brasileira se moveram.

A crise diplomática deflagrada por Trump e amplificada por seus aliados no Brasil – Bolsonaro, Tarcísio de Freitas e Romeu Zema – acabou por entregar a Lula o mais valioso dos presentes políticos: a apropriação legítima da bandeira do nacionalismo e do patriotismo. Trata-se de uma força mobilizadora que transcende divisões ideológicas e supera até mesmo o apelo democrático.

Os dados da pesquisa confirmam essa guinada. Lula conseguiu se posicionar como o defensor natural da soberania brasileira, conquistando um terreno político que será extremamente difícil para a direita reconquistar.

Na intenção de voto espontânea, a trajetória ascendente é inequívoca: de 9% em março para 11% em maio, chegando a 15% em julho – um crescimento de seis pontos percentuais em apenas quatro meses. Para dimensionar essa performance, Bolsonaro registrou no mesmo período um aumento de apenas quatro pontos (de 7% para 11%), o que significa que Lula cresceu 50% mais que seu principal adversário.

O movimento se repete na aprovação da candidatura à reeleição, onde Lula protagonizou uma recuperação notável: saiu do ponto mais baixo registrado em maio (32%) para 38% em julho, sinalizando uma clara reversão de tendência.

A questão nacional unificou a esquerda

A análise por posicionamento político mostra como a defesa da soberania unificou toda a esquerda em torno de Lula.

Quando perguntados se Lula deveria se candidatar à reeleição em 2026, o segmento “Não é Lulista/Petista, mas mais à esquerda” teve o maior crescimento: de 61% para 72% em dois meses. Onze pontos de aumento.

A esquerda não-lulista, que vinha se distanciando, voltou a apoiar com força total a candidatura de Lula.

Entre os próprios lulistas, o apoio à reeleição cresceu de 84% para 90%. Até nos segmentos de centro e direita moderada, Lula registrou crescimentos pequenos mas consistentes na aprovação de sua candidatura.

A defesa da soberania nacional tem se mostrado capaz de formar uma coalizão política mais ampla e coesa do que a frente democrática de 2022. Diferentemente dos temas ideológicos tradicionais – que frequentemente dividem mais do que unem -, a questão patriótica emerge como um denominador comum natural, transcendendo as habituais clivagens políticas e sociais.

Cenários eleitorais: Lula lidera todas as simulações

Nos cenários estimulados para o primeiro turno, Lula ampliou a liderança em todas as simulações. Contra Bolsonaro: 32% a 26%. Contra Michelle Bolsonaro: 30% a 19%. Contra Tarcísio: 32% a 15%.

No segundo turno, as vantagens variam entre 5 e 10 pontos. Contra Bolsonaro: 43% a 37%. Contra outros nomes da direita, margens similares. Igualmente houve ampliação da vantagem em favor de Lula em relação a pesquisas anteriores.

Um dado técnico importante: os indecisos caíram de 80% para 68% na pesquisa espontânea. Lula foi quem mais capturou esses votos.

Tarcísio emerge como principal alternativa da direita

Quando perguntados sobre possíveis herdeiros de Bolsonaro na direita, os entrevistados apontaram Tarcísio de Freitas como primeira opção: 15% das menções.

O governador de São Paulo aparece à frente de Michelle Bolsonaro (13%) e Ratinho Júnior (9%), consolidando-se como o nome mais viável para suceder o bolsonarismo.

Nos cenários de primeiro turno, Tarcísio registra 15% contra 32% de Lula. No segundo turno, a diferença se estreita: 37% contra 41% do presidente.

Essa é a menor vantagem de Lula em qualquer cenário de segundo turno, indicando que Tarcísio pode ser o adversário mais competitivo em 2026.

Conclusões: o novo mapa político de 2026

A pesquisa Genial/Quaest captura um momento de inflexão na política brasileira.

A bandeira do patriotismo, que havia sido apropriada pela direita bolsonarista (de forma falsa e enganosa) caiu no colo de Lula e gerou efeito importante na sua aprovação e nas suas intenções de voto. Isso se reflete em todos os indicadores desta pesquisa e de outras recentes.

Do lado da oposição, o cenário evoluiu da fragmentação para a confusão. Com Bolsonaro inelegível – fato que merece constante destaque -, o campo conservador ainda busca definir sua liderança sucessória. Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, emerge como principal alternativa, mas pode optar pela reeleição estadual, deixando em aberto seus planos presidenciais. Os demais nomes cotados, como Michelle e Eduardo Bolsonaro, carecem de densidade eleitoral e enfrentam o desafio de superar a percepção de radicalismo que limita sua capacidade de formar coalizões mais amplas.

Embora Lula lidere todos os cenários, 2026 ainda será disputada. As margens no segundo turno são significativas, mas não definitivas.

O que esta pesquisa deixa claro: a questão nacional mudou o jogo, e Lula soube aproveitar melhor que qualquer outro.

Metodologia da Pesquisa: A 15ª rodada da pesquisa Genial Quaest foi realizada entre 10 e 14 de julho de 2025, com 2.004 entrevistas face a face com brasileiros de 16 anos ou mais. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. A pesquisa utilizou dados do IBGE PNADC 2025 – 1º trimestre e Censo 2022 como fonte para a composição da amostra.

Clique aqui para baixar a íntegra da pesquisa.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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