STF acerta ao confrontar Bolsonaro: o golpe ainda está em curso

Os incendiários não vão recuar enquanto não provocarem uma ruptura institucional. O que está em jogo é o futuro da democracia brasileira.

Churchill imortalizou uma ideia perspicaz em tempos de disputa: a verdade seria tão valiosa que estaria protegida por um batalhão de mentiras. Assim, encontrá-la equivale a atingir a raiz de um sistema, revelar seus princípios fundadores. Como a política é um jogo, ocultar intenções faz parte de qualquer estratégia.

Isso nos leva aos últimos acontecimentos que incendiaram o cenário político brasileiro — com destaque para a rebeldia dos nepo babies militares em crise de meia-idade. Sob a máscara de “conservadores”, essa parte do bolsonarismo clama por ruptura e demonstra disposição para ir até as últimas consequências.

E essa é a verdade que precisa ser considerada.

Eduardo e Paulo, que decidiram apostar alto à revelia do próprio núcleo do bolsonarismo, viraram a chave e atacam o Brasil sem margem para recuo (ou “acordo caracu”, como dizem). Não são atores irrelevantes — demonstraram capacidade de mobilização. E, sobretudo, deixaram claro que “não há volta” e que irão até o fim. São sinais inequívocos de que buscam uma ruptura.

A história comprova que esse segmento sempre buscou desmantelar as conquistas democráticas recentes do Brasil. Aqueles que pedem intervenção militar desde 2013, também acamparam em quartéis, bloqueiaram estradas, planejaram atentados, invadiram os Três Poderes e ameaçaram invadir até refinarias de petróleo.

Esse projeto não surge no vácuo. Vivemos uma crise democrática global, com a extrema-direita autoritária avançando em múltiplas frentes. Tampouco se trata de um fenômeno passageiro — a escalada autoritária patrocinada pelos EUA (justamente os mesmos que apoiaram Bolsonaro na desestabilização do Brasil) demonstra que o risco é estrutural e permanente.

O ataque à República e à democracia brasileira é real e sistêmico. Não podemos abdicar de defendê-las. Por isso, o STF está correto em monitorar e rebater in loco as investidas bolsonaristas. Motivado pela autopreservação da Nova República, o tribunal compreende que a ala radical do bolsonarismo não vai desistir enquanto não causar uma ruptura institucional no Brasil.

Como estamos longe de imaginar essa ruptura como uma revolução, só conseguimos imagina-la como um Golpe de Estado, como já tivemos diversos no país, inclusive aquele que levou o avô do Paulo Figueiredo ao poder no regime que sempre foi admirado por Jair Bolsonaro.

Tadeu Porto: Petroleiro e Secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil
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