Em uma rara convergência diplomática, o Brasil conquistou, nesta quarta-feira (23), o apoio de cerca de 40 países — incluindo membros estratégicos dos BRICS como China, Rússia e Índia — contra as tarifas comerciais impostas pelo governo do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A manifestação ocorreu durante a principal reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra.
A informação foi publicada pelo colunista Jamil Chade, do UOL, e confirmada por fontes diplomáticas. O posicionamento firme do Brasil, apresentado pelo embaixador Philip Fox-Drummond Gough, gerou forte repercussão entre os países-membros da OMC e escancarou o crescente incômodo da comunidade internacional com o uso político e arbitrário das tarifas pelos EUA.
Sem mencionar diretamente Trump, o representante brasileiro criticou duramente as medidas protecionistas, chamando-as de “arbitrárias e caóticas” e alertando para os riscos ao sistema multilateral de comércio. “Estamos testemunhando um ataque sem precedentes ao Sistema de Comércio Multilateral e à credibilidade da OMC”, afirmou Gough. “Tarifas arbitrárias estão desestruturando cadeias globais de valor e ameaçam lançar a economia mundial numa espiral de estagnação e inflação.”
Em resposta, representantes dos EUA alegaram que as tarifas visavam corrigir desequilíbrios históricos e responsabilizaram outros países por não cumprirem as regras do comércio internacional. O Brasil, no entanto, rebateu com firmeza, argumentando que tais ações violam princípios fundamentais da OMC, como a não discriminação e o tratamento de nação mais favorecida, além de minarem décadas de avanços desde o GATT.
O Itamaraty foi além: denunciou que os EUA estariam instrumentalizando tarifas como ferramenta de ingerência em assuntos internos de nações soberanas. “Assistimos a uma perigosa escalada no uso de tarifas como instrumento de pressão política”, alertou o embaixador.
Apesar do tom duro, o Brasil reafirmou seu compromisso com a diplomacia e a cooperação multilateral, deixando claro que, se necessário, recorrerá ao sistema de solução de controvérsias da OMC. “Defenderemos nossa economia e nosso povo com todos os instrumentos disponíveis”, disse Gough.
A intervenção brasileira foi bem recebida por países que, nos últimos anos, também têm sido alvo de barreiras comerciais unilaterais. A articulação com membros dos BRICS reforça a postura do bloco em defesa do multilateralismo, da legalidade internacional e de uma ordem comercial mais justa e equilibrada. “Negociações baseadas em jogos de poder são um atalho perigoso para a instabilidade e a guerra”, concluiu o embaixador.