Carla Zambelli finalmente é presa pela polícia italiana

A parlamentar passou pelos EUA antes de seguir para a Itália, onde foi encontrada após entrar na lista da Interpol como foragida da Justiça brasileira / Estadão Conteúdo

Condenada a 10 anos de prisão pelo STF, deputada foi localizada pela polícia italiana após denúncia de parlamentar europeu e teve prisão confirmada pelo MJ


A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) foi presa nesta terça-feira (29) em Roma, na Itália, conforme informou o Ministério da Justiça brasileiro. A prisão ocorreu em um apartamento onde ela estava se escondendo desde que deixou o Brasil no fim de maio.

Segundo relatos, agentes da polícia italiana localizaram o imóvel após receberem informações do parlamentar local Angelo Bonelli, que divulgou publicamente no X (antigo Twitter) o endereço onde a deputada estaria. “Carla Zambelli está em um apartamento em Roma. Forneci o endereço à polícia. Neste momento, a polícia está identificando Zambelli”, escreveu Bonelli.

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Carla Zambelli havia sido condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 10 anos de prisão em decorrência de sua participação num caso de invasão cibernética ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ocorrida em janeiro de 2023. Na ocasião, ela foi apontada como cúmplice do hacker Walter Delgatti, que também cumpre pena no Brasil.

Após a condenação, a então parlamentar deixou o país, passando pelos Estados Unidos antes de se estabelecer na Itália, onde possui cidadania. Com isso, passou a ser considerada foragida pela Justiça brasileira. O nome dela constava da lista da Interpol, e o Ministério da Justiça já havia feito um pedido formal de extradição ao governo italiano.

Agora, com a prisão confirmada, inicia-se oficialmente o processo judicial para que ela seja enviada de volta ao Brasil. Segundo especialistas, porém, esse caminho pode ser longo. O prazo legal para que as autoridades italianas definam se vão ou não aceitar a extradição é de até 48 horas, mas o processo completo pode levar anos, dependendo da complexidade jurídica e das decisões dos tribunais locais.

Enquanto isso, no Brasil, o STF ainda precisa julgar a perda do mandato de Carla Zambelli, uma vez que a condenação criminal já foi proferida. A Câmara dos Deputados também deve se manifestar sobre o caso, em momento ainda a ser definido.

A trajetória de fuga da parlamentar chamou atenção pela rapidez com que ela deixou o país após a condenação e pela facilidade em se locomover entre continentes, usando sua dupla cidadania como vantagem estratégica.

Apesar de ainda não haver data marcada para a volta de Carla Zambelli ao Brasil, a prisão na Itália marca um novo capítulo em um caso que já mobilizou a opinião pública e coloca em xeque a relação entre política, justiça e o uso da tecnologia como ferramenta de crime ou de defesa.

Motta encaminha à CCJ processo de cassação de Carla Zambelli

Decisão foi tomada em junho de 2025, após condenação da deputada pelo STF / Agência Brasil

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), encaminhou para apreciação da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) o processo de cassação do mandato da deputada Carla Zambelli (PL-SP) no dia 12 de junho de 2025. A medida representou o início do processo formal para que o plenário da Casa pudesse se manifestar sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de declarar a perda do mandato da parlamentar.

A então deputada havia sido condenada a dez anos de prisão por ter participado da invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em janeiro de 2023, ao lado do hacker Walter Delgatti. Após a condenação definitiva proferida pela Primeira Turma do STF em 15 de maio de 2025, o ministro Alexandre de Moraes determinou a perda automática do mandato e comunicou oficialmente o presidente da Câmara.

Na terça-feira, 10 de junho de 2025, Hugo Motta havia anunciado que caberia ao plenário da Casa decidir sobre a cassação, revertendo sua posição inicial de que acataria automaticamente a determinação do STF sem consulta aos demais deputados. Um dia antes, em 9 de junho, o presidente havia informado que seguiria a orientação do Supremo sem submeter o caso à deliberação dos parlamentares.

De acordo com o regimento interno da Câmara, Carla Zambelli, que na época já estava licenciada do cargo e foragida do país, teria direito a um prazo de até cinco sessões ordinárias da CCJ para apresentar sua defesa formal contra a cassação. Após a análise dos argumentos na comissão, o parecer técnico seria encaminhado para votação em plenário.

Na mesma semana, Hugo Motta também comunicou ao Supremo Tribunal Federal que havia determinado o bloqueio do pagamento de verbas parlamentares da deputada Carla Zambelli. O ofício com a medida foi enviado na terça-feira, 10 de junho, em cumprimento à determinação do ministro Alexandre de Moraes, proferida no dia 4 daquele mês.

Além das verbas parlamentares, todos os ativos financeiros de Carla Zambelli também haviam sido bloqueados por ordem do STF, incluindo contas bancárias e outros bens de valor.

A decisão de converter a prisão preventiva em definitiva havia sido tomada pelo ministro Moraes no dia 7 de junho de 2025, após a Primeira Turma do STF rejeitar os recursos apresentados pela defesa da deputada na tentativa de reverter a sentença. A pena foi aplicada considerando as provas de que Zambelli e Walter Delgatti haviam invadido o sistema eletrônico do CNJ e inserido documentos falsos, entre eles um mandado de prisão contra o próprio ministro Moraes.

Na quarta-feira seguinte, 11 de junho de 2025, o ministro Alexandre de Moraes enviou oficialmente ao então ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, o pedido formal de extradição da deputada, que já se encontrava na Itália desde o início do mês.

O processo de cassação seguiu tramitação normal na CCJ nos dias seguintes, mesmo após a prisão de Carla Zambelli em Roma, ocorrida em 29 de julho de 2025, encerrando sua fuga que havia durado quase dois meses.

Moraes oficializa pedido de extradição de Carla Zambelli

Documento foi encaminhado ao Ministério da Justiça em junho de 2025 / Agência Brasil

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), formalizou no dia 11 de junho de 2025 o pedido oficial de extradição da deputada Carla Zambelli (PL-SP) perante o governo federal brasileiro. O documento foi enviado ao ministro da Justiça e Segurança Pública da época, Ricardo Lewandowski, iniciando o processo diplomático-jurídico para que o Brasil pudesse solicitar a entrega da parlamentar às autoridades italianas.

Na semana anterior, em 7 de junho, Moraes havia determinado a conversão da prisão preventiva de Zambelli em prisão definitiva, após a Primeira Turma do STF rejeitar por unanimidade todos os recursos apresentados pela defesa da deputada na tentativa de anular a condenação. A decisão veio pouco tempo depois de Carla Zambelli ter deixado o Brasil no final de maio, dirigindo-se inicialmente para a Argentina antes de seguir para os Estados Unidos e, finalmente, chegar à Itália em 5 de junho.

O documento protocolado continha a íntegra da decisão condenatória proferida pelo STF em 15 de maio, os artigos do Código Penal brasileiro que embasaram a sentença, e um resumo detalhado das circunstâncias do caso para facilitar o pedido de extradição junto ao governo italiano.

“A Sra. Carla Zambelli Salgado de Oliveira, de maneira livre, consciente e voluntária, comandou a invasão a sistemas institucionais utilizados pelo Poder Judiciário, mediante planejamento, arregimentação e comando de pessoa com aptidão técnica e meios necessários ao cumprimento de tal mister, com o fim de adulterar informações, sem autorização expressa ou tácita de quem de direito”, constava do texto oficial da decisão.

No documento, Moraes também especificou as garantias que o Estado brasileiro estava disposto a oferecer caso a Itália autorizasse a extradição da deputada, atendendo aos requisitos exigidos por tratados internacionais de direitos humanos:

  • Não submeter Zambelli a prisão ou processo por fato anterior ao pedido de extradição;
  • Não impor pena perpétua;
  • Não agravar a pena por motivos políticos;
  • Não submeter a parlamentar a tortura ou a tratamentos desumanos ou degradantes.

A decisão de Moraes em 7 de junho havia determinado a execução imediata da condenação de dez anos de prisão em regime fechado, após comprovação de que a deputada havia deixado o território nacional para escapar do cumprimento da pena. A fuga foi confirmada pelas autoridades brasileiras no início de junho, quando se tornou público que Zambelli havia utilizado seu passaporte italiano para entrar no país europeu.

O hacker Walter Delgatti também havia sido condenado a 8 anos e 3 meses de prisão no mesmo processo, sendo considerado o executor material das invasões aos sistemas do CNJ ocorridas em janeiro de 2023. Segundo as investigações conduzidas pela Polícia Federal, a invasão eletrônica foi planejada e comandada por Zambelli, que teria contratado os serviços de Delgatti para executar as ações técnicas necessárias.

O pedido de extradição formalizado por Moraes em 11 de junho representou o primeiro passo oficial no processo que culminaria com a prisão de Carla Zambelli em Roma em 29 de julho de 2025, encerrando sua fuga que havia durado quase dois meses.

Com informações do G1 e Agênca Brasil*

Rhyan de Meira: Rhyan de Meira é jornalista, escreve sobre política, economia, é apaixonado por samba e faz a cobertura do carnaval carioca. Instagram: @rhyandemeira
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