ONG denuncia envio contínuo de armas canadenses para Israel, mesmo após proibição oficial; registros alfandegários expõem contradições do governo
Enquanto o governo canadense insiste que suspendeu o envio de armamentos para Israel, dados revelados por organizações pacifistas indicam que as exportações militares continuam fluindo — e de forma constante — para o país desde a implementação da suposta proibição, no ano passado. O relatório “Expondo as Exportações Militares Canadenses para Israel”, divulgado nesta terça-feira por um grupo de ONGs pró-Palestina, apresenta evidências de que produtos militares canadenses seguem chegando ao território israelense em grande escala. A pesquisa, baseada em registros da Autoridade Tributária de Israel, mostra o envio de munições, peças de aviões de combate, tanques e outros equipamentos militares mesmo após o governo canadense ter anunciado publicamente o fim das transferências de armas.
“Este relatório expõe, sem sombra de dúvida, a verdadeira extensão do apoio material contínuo do Canadá a Israel em meio a este genocídio”, declarou Yara Shoufani, do Movimento Palestino da Juventude (PYM), durante uma coletiva de imprensa em Ottawa na segunda-feira (29).
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Para as organizações signatárias — World Beyond War, Palestinian Youth Movement (PYM), Canadians for Justice and Peace in the Middle East e Independent Jewish Voices — o documento revela uma realidade oposta à narrativa oficial do governo canadense. “Isso ilustra que, apesar das declarações enganosas do governo, o fluxo de carga militar do Canadá para Israel tem sido ininterrupto”, completou Shoufani.
Rachel Small, do World Beyond War, destacou que os produtos militares canadenses estão profundamente integrados à infraestrutura de defesa israelense. “Apesar das tentativas do nosso governo de nos apaziguar, a realidade é que esses equipamentos continuam chegando”, afirmou.
Fluxo contínuo de munições e equipamentos
De acordo com os registros analisados, carregamentos de munições canadenses chegaram a Israel em fevereiro, julho e dezembro de 2024. Em abril deste ano, foi registrado o desembarque de um lote que a alfândega israelense classificou como “tanques e outros veículos blindados de combate, motorizados, equipados ou não com armas, e peças de tais veículos”.
Além disso, em agosto e novembro do ano passado, foram enviados do Canadá para Israel diversos “acessórios e peças” de armas de fogo. Outras remessas incluíram componentes de aeronaves, equipamentos de laser, câmeras e “aparelhos de transmissão” — itens que, segundo os ativistas, têm uso potencialmente militar.
O relatório, que totaliza 58 páginas, documenta mais de 390 remessas provenientes de 21 fabricantes canadenses localizados em seis cidades diferentes. Entre os itens identificados estão mais de 420 mil balas, 735 peças de cartuchos, componentes do jato F-35 — como sistemas de radar e sensores de navegação — além de equipamentos de uso duplo, como antenas de GPS.
A proibição que não parou as exportações
O governo canadense anunciou oficialmente em março de 2024 a suspensão das transferências de armas para Israel. No entanto, os dados compilados pelas ONGs sugerem que a medida não foi efetiva na prática. Meses após a suposta proibição, por exemplo, foi noticiado que munições avaliadas em US$ 60 milhões, parte de uma venda de armas de US$ 20 bilhões aprovada pelos Estados Unidos, teriam sido fabricadas no Canadá.
Os ativistas também apontam que algumas dessas remessas teriam sido encaminhadas indiretamente por meio de países como os EUA, o que dificulta o rastreamento e a fiscalização do tráfego de armamentos.
Para especialistas em direitos humanos, o relatório levanta sérias dúvidas sobre a transparência e a coerência da política externa canadense diante do conflito no Oriente Médio. “Se o Canadá realmente quer distanciar-se do apoio militar a Israel, precisa ir além das declarações públicas e agir de forma concreta e verificável”, afirmou um analista internacional que prefere não se identificar.
Com a publicação do documento, grupos pacifistas esperam pressionar o governo canadense a rever sua postura e garantir que as exportações de armas para Israel sejam, de fato, interrompidas — como prometido ao público.
Relatório aponta falhas na transparência sobre exportações militares do Canadá para Israel
Apesar das declarações oficiais do governo canadense de que interrompeu o envio de armas para Israel desde janeiro de 2024, um novo relatório baseado em dados públicos e registros israelenses indica que produtos militares canadenses continuam chegando ao país. A inconsistência entre a narrativa governamental e os dados levantados por ONGs pró-Palestina tem gerado crescente pressão por mais transparência.
O relatório, elaborado por pesquisadores do World Beyond War, Palestinian Youth Movement, Canadians for Justice and Peace in the Middle East e Independent Jewish Voices, utilizou informações da Autoridade Tributária de Israel e registros comerciais disponíveis publicamente. Os dados mostram importações de munições, peças de armas e equipamentos militares descritos como originários do Canadá mesmo após a suposta suspensão.
“Este relatório expõe, sem sombra de dúvida, a verdadeira extensão do apoio material contínuo do Canadá a Israel em meio a este genocídio”, afirmou Yara Shoufani, do Movimento da Juventude Palestina, durante uma coletiva em Ottawa. Para ela, a situação demonstra que “políticos canadenses enganaram deliberadamente o público”.
Complexidade das licenças e lacunas na transparência
O governo canadense esclarece que não vende diretamente armas ao governo israelense, mas regula as vendas entre empresas privadas dos dois países. As empresas canadenses precisam obter licenças individuais para exportar produtos militares. Embora o Ministério das Relações Exteriores (Global Affairs Canada – GAC) afirme que não aprovou novas autorizações para itens que poderiam ser usados no conflito em Gaza desde janeiro de 2024, muitas licenças antigas ainda permanecem válidas.
Essas licenças anteriores, emitidas principalmente nos meses seguintes ao início da guerra em outubro de 2023, podem cobrir um período de três a quatro anos. O relatório ao Parlamento canadense lista as licenças concedidas, mas não revela os nomes das empresas envolvidas, dificultando o acompanhamento público.
Rachel Small, do World Beyond War, destacou que os produtos militares canadenses estão profundamente integrados à infraestrutura de defesa israelense. “Há uma falta de transparência, principalmente sobre quais licenças ainda estão ativas, quais licenças não estão ativas e a lógica por trás de tudo isso”, complementou Shoufani. “O governo canadense não está nos fornecendo o tipo de dados que precisaríamos para produzir este relatório. Tivemos que recorrer a todos os lugares, menos ao governo canadense.”
Dados contraditórios e ausência de explicações
Os dados compilados mostram importações israelenses de itens como 175.000 unidades de munições de guerra canadenses em abril de 2025 e 15.000 unidades de “peças e acessórios de armas militares” em junho do mesmo ano. Além disso, foram registradas dezenas de remessas aéreas de várias cidades canadenses, incluindo Montreal e Toronto, com cargas descritas como “peças de aeronaves militares”, “antenas de GPS” e equipamentos de radar.
Um carregamento de cartuchos partiu do Aeroporto Dorval em Montreal em 17 de julho, passou por Nova York e foi entregue em Bnei Brak, Israel, no dia 24 de julho. O código postal de origem (J5Z 2P4) corresponde a uma fábrica da General Dynamics Ordnance and Tactical Systems em Repentigny, Quebec.
A própria General Dynamics foi questionada sobre uma remessa específica de cartuchos de morteiro para Israel em setembro de 2024. A empresa afirmou à imprensa que os paletes continham “munição simulada”, ou munição de treinamento não letal, que não exigiria licença de exportação. No entanto, a empresa não pôde detalhar o calibre ou o destinatário final.
Até o momento, o governo canadense não apresentou uma explicação clara para a discrepância entre as negações oficiais e os dados que indicam a continuidade das exportações. Questionada sobre como garante que o material militar não chega a Gaza, a porta-voz do GAC, Charlotte MacLeod, reiterou que o governo não comenta sobre acordos individuais devido à confidencialidade comercial.
Diante da pressão crescente, ativistas defendem a implementação de um embargo abrangente sobre armas. “Em um momento em que grande parte do mundo está apontando para o que está acontecendo em Gaza e chamando isso de genocídio, o governo canadense deveria ir além das confusões sobre quais licenças estão ativas e quais não estão, e realmente implementar um embargo abrangente de armas”, concluiu Shoufani.


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