Em entrevista ao NYT, Lula diz que o Brasil não aceitará ser tratado como país menor diante das tarifas impostas por Trump e cobra respeito entre nações
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou, nesta quarta-feira (30), a postura de resistência do Brasil diante das novas tarifas de 50% impostas pelo governo norte-americano, liderado por Donald Trump. Em entrevista ao jornal The New York Times, Lula destacou que o Brasil não aceitará ser tratado como uma nação menor diante de um gigante econômico como os Estados Unidos.
“Em nenhum momento o Brasil negociará como se fosse um país pequeno contra um país grande”, declarou o presidente, em resposta direta às medidas anunciadas por Trump no dia 9 de julho. A nova tarifa está prevista para entrar em vigor já nesta sexta-feira (1º), o que tem gerado tensão nas relações diplomáticas entre os dois países.
Leia também:
Carla Zambelli finalmente é presa pela polícia italiana
Apoio americano a Israel desmorona, revela pesquisa
Trump planeja virar as costas ao G-20 na África
Lula ressaltou que o governo brasileiro está tratando o assunto com seriedade, mas fez questão de frisar que isso não significa submissão. “Seriedade não exige subserviência”, pontuou. A declaração é a mais clara até agora do presidente brasileiro sobre o impasse comercial aberto pelo governo Trump, que justificou as tarifas como uma forma de proteger a indústria norte-americana.
O petista concedeu a entrevista ao The New York Times pela primeira vez em 13 anos, em um momento delicado das relações bilaterais. Desde o início do mandato de Trump, Lula afirmou que tem sido difícil estabelecer um canal de diálogo direto com o presidente norte-americano. “O que está impedindo é que ninguém quer conversar”, disse. “Todos sabem que pedi para fazer contato.”
Mesmo reconhecendo a força econômica, militar e tecnológica dos Estados Unidos, Lula ressaltou que isso não intimida o Brasil. “Conhecemos o poder econômico dos Estados Unidos, reconhecemos o poder militar dos Estados Unidos, reconhecemos a dimensão tecnológica dos Estados Unidos. Mas isso não nos deixa com medo. Nos deixa preocupados”, declarou.
Na última segunda-feira (28), durante agenda em São João da Barra, no Rio de Janeiro, o presidente voltou a fazer um apelo direto a Trump, pedindo que ele refletisse sobre o papel estratégico do Brasil no cenário internacional. “Reflete sobre a importância do Brasil. Resolve as suas divergências por negociação, como fazem os países civilizados”, afirmou.
Diante da ameaça comercial, o governo brasileiro tem defendido a soberania nacional como pilar central de sua resposta. No entanto, até o momento, não divulgou detalhes sobre quais medidas específicas poderão ser tomadas caso as tarifas sejam efetivamente aplicadas.
Enquanto isso, uma comitiva de senadores brasileiros está nos Estados Unidos desde o início da semana, realizando reuniões com parlamentares e empresários norte-americanos para tentar amenizar os ânimos e buscar soluções negociadas.
Na terça-feira (29), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, concedeu entrevista à CNN e reforçou que o Brasil aguarda uma resposta concreta dos Estados Unidos antes de tomar qualquer decisão mais drástica. “Estamos à espera de uma manifestação mais clara do governo americano. Não queremos agravar uma situação que pode ser resolvida por meio do diálogo”, disse Haddad.
Com as tensões comerciais em alta, o Brasil tenta manter um equilíbrio entre firmeza e diplomacia. A postura de Lula, dessa vez, parece apostar na construção de uma narrativa de igualdade e respeito mútuo — mesmo diante de um adversário de peso no tabuleiro internacional.
Governo planeja proteger pequenos negócios com subsídios diante de tarifas dos EUA
Diante da ameaça representada pelas tarifas de 50% anunciadas pelo governo norte-americano, o ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, Márcio França, revelou que o governo brasileiro está estudando medidas de apoio direto aos pequenos produtores afetados. Entre as estratégias em análise está o subsídio à comercialização desses produtos no mercado interno.
“A gente tem que estar preparado para todos os tipos de situações”, afirmou o ministro em entrevista ao programa “Bom Dia, Ministro”, exibido nesta quarta-feira (30) pelo Canal Gov. Para ele, as tarifas impostas por Donald Trump configuram, na prática, um boicote ao comércio brasileiro. “Porque com 50% você proíbe a venda. Você inviabiliza”, destacou.
França ressaltou que os impactos serão mais sentidos pelos pequenos empreendedores, que não possuem a mesma capacidade de resistência financeira das grandes empresas. “O problema é que os grandes têm como aguentar esse fôlego e os pequenos nem sempre têm”, explicou, usando como exemplo produtos perecíveis como peixe, manga e outros alimentos que perderiam mercado externo.
Solução emergencial para produtos perecíveis
O ministro sugeriu que produtos que não conseguirem ser exportados por conta das tarifas sejam subsidiados para serem vendidos internamente a preços acessíveis. “A minha sugestão ao vice-presidente Geraldo Alckmin e também ao presidente Lula é que, neste caso, como os valores são pequenos perto do todo, perto de um avião, perto da laranja, que a gente possa subsidiar e colocar na rede pública de ensino, na merenda, ou faz a manga a R$ 1 que certamente todo mundo compraria”, argumentou.
Segundo ele, o custo de armazenamento e conservação desses produtos muitas vezes supera seu próprio valor comercial. “É difícil para as pessoas no Brasil poderem comprar. Agora, faz R$ 10 reais que todo mundo compra. Então, a gente subsidia”, justificou.
Experiência com desastres naturais como base
Márcio França lembrou que o governo já adotou medidas semelhantes em situações de emergência, como após as enchentes no Rio Grande do Sul no ano passado. Na ocasião, 38 mil empresas fecharam temporariamente, mas com apoio governamental, 37 mil já reabriram. “Naquela época da questão da enchente, fecharam 38 mil empresas no Rio Grande do Sul e lá nós subsidiamos a abertura. Nós demos R$ 100 mil reais e a pessoa saiu do banco devendo R$ 60 mil para pagar daqui a dois anos”, relatou.
Diminuição da dependência dos EUA
O ministro destacou que, embora os Estados Unidos ainda sejam um importante destino para as exportações brasileiras, a dependência desse mercado já não é tão grande quanto no passado. “É bom lembrar, eu acho isso muito relevante, os americanos já foram 50% de todo o destino de quem exportava. Foi exatamente o presidente Lula, com uma visão estratégica correta, que foi abrindo mercado. Só neste mandato agora, ele abriu mais de 200 mercados diferentes”, afirmou.
Hoje, segundo França, os Estados Unidos respondem por cerca de 15% a 16% das exportações totais do Brasil. “Então é relevante, mas já não é um absurdo”, avaliou.
Medidas prontas para implementação
O ministro confirmou que o governo já tem preparadas respostas imediatas para serem implementadas assim que as tarifas entrarem em vigor. “As respostas mais urgentes estão preparadas, prontas para o presidente poder assinar também. Muitas delas nem dependem de lei”, disse.
França ressaltou que o Congresso Nacional tem sido colaborador em momentos de crise, citando a recente aprovação da Lei da Reciprocidade. No entanto, alertou para os cuidados necessários para não gerar inflação ao país. “Para nós não adianta fazer uma reciprocidade pura e simples, porque, por exemplo, aí você traz a inflação para cá”, ponderou.
Preparação para resistir à pressão externa
Para o ministro, a atual situação demonstra a maturidade do Brasil para lidar com pressões externas. “Serve para a gente poder demonstrar que o Brasil não é mais uma colônia, um país pequeno. Nós estamos preparados para situações graves, como aconteceu com a Covid, por exemplo, como aconteceu com a estrutura do SUS, como acontece com enchentes”, afirmou.
Ele destacou ainda a importância de proteger primeiramente os produtos perecíveis, mas ressaltou que nada impede que outras categorias de pequenos empreendedores também sejam beneficiadas. “Nada impede de acudir também todos os pequenos, que formam poucos no Brasil”, concluiu.
Com as tarifas previstas para começar no dia 1º de agosto, o governo brasileiro intensifica os esforços para minimizar os impactos sobre o setor produtivo, especialmente nas camadas mais vulneráveis da economia. A expectativa agora é pela definição formal das medidas norte-americanas, que até o momento, segundo o ministro, ainda não foram oficializadas por decreto ou lei.
Com informações da CNN Brasil* e Agência Gov