Putin reafirma a Netanyahu que soberania da Síria deve ser respeitada em meio a tensões regionais; Putin pressiona Netanyahu e diz que a integridade territorial da Síria não está aberta à negociação
O presidente russo, Vladimir Putin, reiterou ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em uma conversa telefônica na segunda-feira (28), que a soberania e a integridade territorial da Síria devem ser preservadas. A declaração do Kremlin ocorre em um momento de crescente tensão na região, após intensos bombardeios israelenses no interior da Síria.
Segundo comunicado divulgado pelo Kremlin, Putin destacou a importância de resolver as tensões regionais por meios exclusivamente pacíficos e ressaltou a necessidade de fortalecer a estabilidade política dentro da Síria, protegendo “os direitos e interesses legítimos de todas as minorias”.
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“No contexto da recente escalada nas tensões entre Irã e Israel, a Rússia expressou sua prontidão em fornecer toda a assistência possível para facilitar uma solução diplomática para a questão nuclear iraniana”, afirmou o texto.
A ligação entre os dois líderes aconteceu poucos dias após uma reunião em Paris entre representantes de Damasco e Tel Aviv, mediada por Washington. O encontro abordou não apenas a possibilidade de normalização das relações entre os dois países, mas também a situação crítica em Suwayda, província síria onde eclodiram violentos combates entre combatentes drusos e milícias ligadas ao governo.
Intervenção israelense gera rejeição em Damasco
O conflito em Suwayda se intensificou após uma ofensiva do autoproclamado presidente sírio Ahmad al-Sharaa contra comunidades drusos locais. Segundo testemunhos, dezenas de civis drusos foram mortos durante a operação, que faz parte de uma campanha mais ampla para fragmentar o país e justificar uma presença militar israelense permanente no sul da Síria.
Em resposta, o exército israelense lançou uma série de ataques contra posições governamentais em Suwayda e bombardeou prédios estatais em Damasco, alegando estar “protegendo civis drusos”. A intervenção gerou forte rejeição do governo sírio, que responsabilizou Israel pela escalada dos conflitos e exigiu a retirada completa das posições ocupadas durante os distúrbios.
Representantes sírios que participaram das negociações em Paris deixaram claro que “a unidade e a soberania da Síria não são negociáveis” e caracterizaram Suwayda e seus habitantes como uma “parte integrante” da nação síria. Em entrevista à Al Jazeera, autoridades sírias acusaram Israel de usar a situação como pretexto para manter sua presença militar na região.
A TV estatal síria Ekhbariya informou que nenhum acordo final foi alcançado durante o encontro em Paris, mas indicou que as negociações seriam retomadas em breve. Uma fonte diplomática próxima ao processo qualificou as discussões como “honestas e responsáveis”, apesar das divergências.
Rússia busca manter influência na Síria
Desde a queda do antigo governo sírio em dezembro do ano passado, Moscou tem intensificado os esforços para manter sua influência na região, especialmente nas áreas costeiras do país. O país tem realizado uma série de consultas com os novos líderes sírios na tentativa de preservar sua presença militar no território.
A declaração de Putin reafirma a posição russa de apoio ao governo sírio e demonstra preocupação com a crescente intervenção israelense no conflito interno do país. Para especialistas, o episódio revela a complexidade do cenário geopolítico no Oriente Médio, onde interesses regionais e internacionais se chocam em busca de influência e estabilidade.
Com as tensões continuando a crescer, a comunidade internacional acompanha de perto os desdobramentos da crise — e as possíveis consequências para a estabilidade da região.
Massacre de drusos na Síria: relatórios apontam envolvimento de EUA e Israel com novo governo sírio
À medida que vídeos chocantes de atrocidades se espalham pelas redes sociais saindo da província de Suwayda, na Síria, crescem as evidências de que o massacre da minoria religiosa drusa foi orquestrado pelo governo sírio com o apoio indireto dos Estados Unidos e Israel. Os horrores registrados em imagens revelam uma campanha brutal que pode ter como objetivo forçar os drusos a buscarem proteção israelense, justificando uma ocupação ainda maior do sul da Síria.
O presidente sírio Ahmad al-Sharaa, que assumiu o poder em Damasco com o apoio de potências ocidentais, teria executado um plano calculado para fragmentar ainda mais a já devastada nação síria. Al-Sharaa, um ex-comandante ligado ao antigo ISIS e preparado há anos por agentes dos EUA e Reino Unido, mostrou-se um parceiro confiável na implementação dessa estratégia, segundo analistas regionais.
Campanha de violência em Suwayda
A onda de violência começou no domingo, 13 de julho, quando beduínos locais sequestraram um vendedor de frutas druso na estrada entre Suwayda e Damasco. O incidente rapidamente se transformou em confrontos entre milícias beduínas e grupos armados drusos. Na terça-feira, 15 de julho, o presidente Sharaa ordenou o envio do exército sírio e das forças de segurança interna para a região, alegando querer conter os distúrbios e restaurar a ordem.
No entanto, ao invés de mediar o conflito, as forças governamentais se aliaram aos grupos beduínos. Testemunhos locais indicam que as tropas sírias, identificadas por seus uniformes e insígnias, participaram diretamente de um massacre brutal de centenas de civis drusos. Além das execuções em massa, houve ataques a símbolos culturais da comunidade e saques sistemáticos às residências drusas.
“Na manhã de terça-feira, unidades dos Ministérios da Defesa e do Interior da Síria invadiram a cidade de Suwayda, alegando esforços para conter um surto de violência comunitária. Em vez disso, o que se seguiu foi uma escalada sangrenta”, relatou o Media Line. Jornalistas da Reuters confirmaram que a violência se intensificou após a chegada das forças governamentais.
Atrocidades filmadas e negação de responsabilidade
Vídeos e fotos circularam amplamente mostrando civis drusos sendo executados, decapitados e humilhados. Forças leais ao governo filmaram a si mesmas decapitando cadáveres, executando homens desarmados nas ruas e massacrando famílias inteiras em suas casas. Um vídeo particularmente impactante mostrou os corpos de 15 drusos desarmados na casa da família Al-Radwan, todos mortos enquanto tomavam café.
O jornalista palestino Wael Essam, que cobriu a guerra síria por mais de uma década, relatou que, segundo fontes do governo, o massacre no Hospital Nacional de Suwayda foi realizado por membros da facção ligada ao governo Ansar al-Tawhid (Divisão 82) contra milicianos drusos feridos e civis que os acompanhavam.
Intervenção israelense e mobilização tribal
Diante do agravamento da situação, Israel interveio na quarta-feira, 16 de julho, com bombardeios contra prédios governamentais no centro de Damasco, incluindo o Ministério da Defesa, alegando estar defendendo os drusos. Tanques sírios enviados para Suwayda também foram alvo dos ataques aéreos israelenses.
Apesar da intervenção, a violência continuou. Cerca de 500 drusos foram mortos somente na manhã de quinta-feira, 17 de julho, segundo informações da agência Al-Daraj. Paradoxalmente, uma campanha midiática começou a responsabilizar os próprios drusos pelos massacres, divulgando fotos falsas que supostamente mostravam atrocidades cometidas por eles contra beduínos.
Quase simultaneamente, cerca de 7.000 a 10.000 combatentes árabes das tribos Al-Oqaydat e Al-Nu’aim, viajaram mais de 1.120 quilômetros desde Deir Ezzor até Suwayda. Essas tribos, que não tinham ligação com as comunidades locais, foram lideradas por altos comandantes sírios, incluindo Mohammed Al-Jassim “Abu Amsha” e Youssef Al-Hajr, importante líder do grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), aliado do governo Sharaa.
Coordenação internacional suspeita
Relatos indicam que essa mobilização tribal não foi espontânea, mas parte de um plano prévio. Wael Essam escreveu que as forças do governo estavam se preparando para invadir Suwayda havia uma semana, usando o sequestro como pretexto. Ele afirmou que o ataque foi encorajado por autoridades americanas, que teriam informado Sharaa de que Israel não interviria.
Dois dias após os primeiros bombardeios israelenses, detalhes adicionais surgiram indicando que os EUA e Israel haviam instado Sharaa a atacar Suwayda. A agência Reuters informou que Damasco acreditava ter “sinal verde” tanto dos EUA quanto de Israel para enviar suas forças para o sul, apesar de advertências anteriores.
A Axios relatou que, de acordo com uma autoridade dos EUA, a Síria notificou Israel com antecedência sobre o envio de tanques e garantiu que sua ação não era direcionada ao Estado judeu. Mesmo com essa coordenação, Israel bombardeou os tanques, alegando que eles haviam entrado em uma zona desmilitarizada.
A estratégia de fragmentação
Na sexta-feira, 18 de julho, Israel anunciou que permitiria a “entrada limitada” de forças sírias em Suwayda por “48 horas”. Na mesma noite, Sharaa anunciou o envio de uma força para “acabar com os confrontos”, repetindo a narrativa de que buscava proteger os civis. No entanto, repórteres da Reuters observaram comboios de combatentes da Segurança Geral da Síria aguardando autorização para entrar em Suwayda, mesmo após o suposto cessar-fogo.
Um jornalista sírio que visitou a região no domingo, 19 de julho, relatou que forças de segurança permitiram que combatentes tribais árabes e beduínos passassem por seus postos de controle. Alguns desses combatentes, embora informalmente organizados em milícias, portavam armas fornecidas pelo Ministério da Defesa, incluindo drones e mísseis Grad. Vídeos também mostraram alguns deles usando emblemas do antigo ISIS.
Interpretações geopolíticas
Apesar das declarações de autoridades sírias, israelenses e norte-americanas alegando preocupação com a segurança dos drusos, analistas questionam a capacidade dessas potências de impedir os massacres. A versão mais contundente é de que Israel e os EUA não apenas permitiram, mas orquestraram diretamente os eventos em coordenação com o governo Sharaa.
A lógica por trás dessa estratégia seria forçar os drusos, cada vez mais aterrorizados, a buscarem proteção junto a Israel. Essa aproximação poderia legitimar uma ocupação permanente do sul da Síria e o estabelecimento do chamado “Corredor de David”, conectando as colinas de Golã ocupadas por Israel à base militar dos EUA em Al-Tanf e às forças curdas no nordeste sírio.
A Reuters observou que, com mais sangue derramado e a desconfiança crescendo entre as minorias em relação ao governo de Sharaa, há “receios reais de que a Síria esteja caminhando para uma fragmentação em pequenos estados”. Isso se alinharia ao objetivo declarado de Israel de manter a Síria “fraca e descentralizada”.
Na visão de alguns analistas, Israel teria usado uma tática comparável à de organizações criminosas: criar o caos e depois se apresentar como o salvador, usando o sofrimento dos drusos para justificar uma intervenção de longo prazo e redesenhar as fronteiras da região a seu favor.
Com informações de The Cradle*