Tarifa sobre aço, alumínio e autopeças imposta por Trump deve custar à Ford US$ 2 bilhões em 2025, afetando suas margens e sua presença internacional
A montadora americana Ford divulgou nesta quarta-feira (30) que as tarifas impostas pelo presidente Donald Trump devem impactar negativamente suas finanças em cerca de US$ 2 bilhões neste ano — um valor significativamente maior do que as projeções anteriores. Apesar de a maior parte de sua produção ocorrer nos Estados Unidos, a empresa ainda enfrenta custos elevados devido à sua presença em mercados como México e Canadá, além da dependência de materiais importados.
Segundo a diretora financeira da companhia, Sherry House, o aumento da estimativa se deve principalmente à manutenção por mais tempo do que o esperado das tarifas mais altas sobre operações no México e no Canadá. Além disso, a empresa foi afetada pelas taxas aplicadas sobre importações de aço e alumínio, produtos fundamentais para a fabricação de veículos.
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“Revisamos nossas projeções para refletir o ambiente tarifário atual, que permanece mais desafiador do que o previsto anteriormente”, afirmou House durante uma apresentação aos investidores.
A notícia veio junto com os resultados financeiros do segundo trimestre, quando a Ford revelou ter pago US$ 800 milhões a mais em impostos apenas nos três meses encerrados em junho. A empresa também registrou perdas relacionadas ao cancelamento de um programa de veículos elétricos, o que agravou ainda mais o cenário financeiro.
O impacto das tarifas de Trump tem sido sentido por diversas empresas dos EUA, especialmente aquelas que operam internacionalmente ou dependem de cadeias de suprimento globais. A medida faz parte da estratégia do governo americano de reconfigurar as relações comerciais internacionais, incentivando a produção local como forma de fortalecer a indústria nacional.
Apesar do ônus tarifário, a Ford está em uma posição relativamente melhor do que alguns concorrentes. A General Motors, por exemplo, informou recentemente que já gastou mais de US$ 1 bilhão com tarifas, enquanto a Volkswagen calculou prejuízos de aproximadamente US$ 1,5 bilhão devido às mesmas políticas comerciais.
Jim Farley, presidente-executivo da Ford, afirmou que a empresa mantém contato constante com a administração Trump em busca de reduções tarifárias, especialmente em componentes automotivos. “Vemos que há muitas vantagens dependendo de como a negociação for com a administração”, declarou ele.
Trump tem ampliado as tarifas sobre uma ampla gama de produtos, com ênfase especial em veículos e peças automotivas, bem como em materiais estratégicos como aço e alumínio. O objetivo declarado do presidente é pressionar empresas norte-americanas e estrangeiras a transferirem suas operações para território dos EUA, fortalecendo a indústria local.
A perspectiva de aumento de custos e a pressão sobre as margens de lucro fizeram com que as ações da Ford recuassem cerca de 1,5% no pregão estendido na Bolsa de Nova York, após a divulgação dos resultados trimestrais.
Para especialistas, o caso da Ford ilustra os desafios enfrentados por grandes corporações em um ambiente de comércio cada vez mais protecionista. Mesmo empresas com forte base doméstica precisam lidar com complexidades globais, especialmente em um setor como o automotivo, onde as cadeias de produção são altamente integradas internacionalmente.
Com as eleições presidenciais americanas se aproximando, o debate sobre comércio e políticas tarifárias deve permanecer em evidência, colocando empresas como a Ford no centro das atenções dos investidores e formuladores de política econômica.
Trump impõe tarifa de 50% ao Brasil e classifica país como ameaça “incomum e extraordinária”
Em um movimento inédito e de grande repercussão internacional, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quarta-feira (30) uma Ordem Executiva que eleva para 50% as tarifas sobre produtos brasileiros exportados para os EUA. A medida classifica o Brasil como uma ameaça “incomum e extraordinária” à segurança nacional americana — uma designação normalmente reservada a países considerados hostis, como Cuba, Venezuela e Irã.
A decisão, anunciada pela Casa Branca, visa responder ao que o governo estadunidense chama de “políticas, práticas e ações recentes” do governo brasileiro que, segundo Washington, comprometem a segurança, a política externa e a economia dos Estados Unidos. Entre os motivos apontados está a perseguição política ao ex-presidente Jair Bolsonaro e a milhares de seus apoiadores.
“O presidente Donald J. Trump assinou uma Ordem Executiva implementando uma tarifa adicional de 40% sobre o Brasil, elevando o valor total da tarifa para 50%, para lidar com políticas, práticas e ações recentes do governo brasileiro que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos”, informou a Casa Branca em comunicado oficial.
Acusações políticas e tensão diplomática
A ordem executa baseia-se na Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA) de 1977, que permite ao presidente americano tomar medidas econômicas excepcionais em situações de emergência nacional. O documento acusa o governo brasileiro de perseguir e intimidar opositores políticos, incluindo Bolsonaro, que é investigado por sua suposta participação em uma tentativa de golpe de Estado após a derrota nas eleições presidenciais de 2022.
Segundo as autoridades americanas, o governo brasileiro teria realizado “ações imprudentes” que violam direitos humanos e minam o Estado de Direito. O governo Trump afirma seguir a versão de Bolsonaro, que nega as acusações e afirma ser vítima de perseguição política.
“O Presidente Trump está protegendo a segurança nacional, a política externa e a economia dos Estados Unidos de uma ameaça estrangeira”, disse o comunicado. “Em linha com seu mandato eleitoral, o presidente Trump também tomou outras medidas para alcançar a paz por meio da força e garantir que a política externa reflita os valores, a soberania e a segurança dos EUA.”
Censura digital e conflitos com redes sociais
Além das acusações políticas, o governo americano também reforçou críticas à atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro em relação às plataformas digitais. A Casa Branca alega que o Brasil teria coagido empresas americanas a censurar discursos políticos e alterar políticas de moderação de conteúdo.
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, tem determinado a suspensão de redes sociais ligadas a Trump, como a Rumble e a X (antiga Twitter), por não cumprirem decisões judiciais brasileiras e por não apresentarem representantes legais no país, conforme exigido pela legislação local.
Analistas consultados pela Agência Brasil destacam que a extrema-direita tanto no Brasil quanto nos EUA tem distorcido a realidade dos processos judiciais brasileiros para sustentar a narrativa de perseguição política. “Essa estratégia tem como objetivo tentar desmoralizar as investigações de responsabilizações contra os ataques ao Estado Democrático de Direito no Brasil com informações incompletas e superficiais”, afirmou Pedro Kelson, do Programa de Democracia da Washington Brazil Office (WBO).
Exceções e produtos isentos
Apesar da ampla abrangência da tarifa, a ordem executa lista cerca de 700 exceções, incluindo produtos estratégicos como suco e polpa de laranja, combustíveis, minérios, fertilizantes e aeronaves civis — incluindo motores, peças e componentes. Também ficaram de fora da taxação a polpa de madeira, celulose, metais preciosos, energia e produtos energéticos.
No entanto, produtos como café, frutas e carnes não foram incluídos nas exceções e serão taxados em 50%. A medida entra em vigor em sete dias, ou seja, a partir do dia 6 de agosto. Mercadorias que já estiverem em trânsito para os EUA também ficarão de fora da taxação.
Retaliação e possíveis ajustes
Trump reservou-se o direito de alterar a lista de exceções caso o Brasil “tome medidas significativas para lidar com a emergência nacional e se alinhe suficientemente com os Estados Unidos em questões de segurança nacional, economia e política externa”. Além disso, o presidente americano advertiu que poderá aumentar ainda mais as tarifas caso o governo brasileiro adote medidas de retaliação.
“Por exemplo, se o governo do Brasil retaliar aumentando as tarifas sobre as exportações dos Estados Unidos, aumentarei a alíquota ad valorem estabelecida nesta ordem em um montante correspondente”, declarou Trump.
A medida promete impactar significativamente o comércio bilateral entre os dois países, que movimenta bilhões de dólares anualmente. Enquanto setores da indústria brasileira se preparam para lidar com os novos custos, especialistas alertam que a decisão pode agravar ainda mais as tensões diplomáticas entre Brasília e Washington.
Com informações de BBC e Agências de Notícias*