Mercado engole a margem da Shell em um só trimestre

Oscilações no petróleo e pressão geopolítica testam a força do setor de trading da Shell, que enfrenta seu trimestre mais fraco em anos / Reprodução

Shell registra queda de 32% no lucro enquanto traders enfrentam mercado volátil; os comerciantes da Shell não perderam dinheiro em nenhum trimestre na última década


A Shell Plc, maior empresa de energia da Europa, divulgou nesta quinta-feira (31) um lucro líquido ajustado de US$ 4,26 bilhões no segundo trimestre, uma redução de 32% em relação aos US$ 6,29 bilhões registrados no mesmo período do ano anterior. A queda se deu em meio a um ambiente de mercado extremamente volátil, onde oscilações bruscas nos preços do petróleo e gás dificultaram a atuação dos comerciantes da companhia.

O resultado, embora abaixo do esperado em comparação com o ano anterior, superou a estimativa média dos analistas, que projetavam lucro de US$ 3,74 bilhões para o período. A empresa manteve seu programa de recompra de ações em US$ 3,5 bilhões no trimestre, demonstrando confiança em sua posição financeira mesmo diante do cenário desafiador.

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Mercado turbulento testa operações da companhia

A Shell enfrentou um trimestre marcado por uma sucessão de eventos que agitaram os mercados globais de energia. Desde as ameaças comerciais do presidente americano Donald Trump até a inesperada decisão da OPEP+ de acelerar o aumento da produção, sem esquecer o breve conflito no Oriente Médio, a volatilidade se tornou a principal característica do período.

Os preços do petróleo bruto encerraram o trimestre com queda de aproximadamente 10%, impactando diretamente os negócios da companhia. O setor de trading, tradicionalmente um dos principais impulsionadores de lucro da Shell, enfrentou dificuldades sem precedentes.

O lendário negócio de negociação interna da Shell, que segundo o CEO Wael Sawan não havia registrado prejuízos em nenhum dos últimos dez trimestres, viu seus lucros significativamente afetados. A empresa alertou no início do mês que os ganhos com a negociação de petróleo e gás no período foram “significativamente menores” do que nos três meses anteriores.

Estratégia de reestruturação mostra resultados

Apesar dos desafios do trimestre, a estratégia de reestruturação liderada por Sawan começa a mostrar resultados concretos. Nos últimos dois anos, o executivo tem focado em cortar custos, melhorar a confiabilidade operacional e desfazer-se de ativos de baixo desempenho, em um esforço para reduzir a lacuna de avaliação em relação às rivais americanas.

A abordagem tem dado frutos: a Shell tem superado suas concorrentes do setor petrolífero no acumulado de 2025. Analistas destacam a melhora consistente no balanço patrimonial da companhia, que em maio afirmou possuir solidez financeira suficiente para manter o ritmo de recompra de ações acima de US$ 3 bilhões por trimestre, mesmo em um cenário pessimista com o petróleo bruto cotado a US$ 50 o barril — valor consideravelmente abaixo dos níveis atuais.

A dívida líquida da empresa aumentou de US$ 41,5 bilhões para US$ 43,2 bilhões no período, um incremento que a administração considera controlado diante da geração de caixa consistente.

Rumores de fusão chegam ao fim

Os resultados foram divulgados apenas um mês após a Shell oficializar que não tinha interesse em fazer uma oferta pela concorrente britânica BP Plc, encerrando um longo período de especulações no mercado. O anúncio põe fim às discussões sobre uma possível fusão entre as duas gigantes do setor energético britânico e impede que a Shell tome qualquer iniciativa nesse sentido pelos próximos seis meses, conforme determinam as regras de aquisição do Reino Unido.

A decisão reflete a estratégia atual da companhia de focar em sua própria transformação e criação de valor para acionistas, em vez de buscar crescimento através de grandes operações de consolidação.

Desafios no horizonte

Enquanto a Shell demonstra resiliência diante da volatilidade do mercado, os desafios persistem. A natureza imprevisível das oscilações de preços, agravada por tensões geopolíticas e decisões de política energética de governos ao redor do mundo, continua a testar a capacidade dos traders de gerar retornos consistentes.

Para especialistas, o segundo trimestre serve como um teste real da adaptabilidade das grandes companhias de energia em um ambiente cada vez mais complexo. A capacidade da Shell de manter sua política de retorno aos acionistas mesmo em cenários desafiadores reforça sua posição como uma das empresas mais sólidas do setor, mas a pressão para manter o desempenho em meio à incerteza global permanece alta.

Operação comercial da Shell não registra prejuízos há uma década, afirma CEO

Em apresentação realizada na terça-feira (25) durante o dia do investidor da companhia, o CEO da Shell Plc, Wael Sawan, revelou que a ampla operação comercial interna da gigante energética — que abrange negociações de petróleo, gás natural e eletricidade — não registrou prejuízos em nenhum dos últimos dez anos.

A declaração chama atenção para a consistência e expertise do setor de trading da companhia, que mantém posição de destaque no mercado global de energia. Apesar de manter sigilo absoluto sobre detalhes específicos de suas operações comerciais por razões competitivas, a Shell escolheu compartilhar algumas informações durante o evento em Nova York.

Sawan informou que, na última década, os traders da empresa apresentaram um retorno médio sobre o capital médio empregado de 2%. Para os próximos anos, a expectativa da administração é que essa contribuição varie entre 2% e 4%, mantendo a negociação como um dos pilares estratégicos da companhia.

Trading como pilar estratégico

A negociação tem papel fundamental na estratégia da Shell e continuará sendo essencial para o futuro da empresa. Durante sua apresentação, Sawan delineou planos ambiciosos para aumentar o retorno aos investidores ao longo da década, reforçando ainda mais a posição da companhia como a maior comercializadora mundial de gás natural liquefeito.

A importância crescente do setor comercial ficou evidente com a recente promoção do chefe de negociação ao comitê executivo da empresa, garantindo ao trading um assento direto nas decisões estratégicas da administração.

A consistência demonstrada pela operação comercial nos últimos dez anos serve como um indicador da sofisticação dos sistemas de gestão de risco e da expertise da equipe responsável pelas negociações. Em um setor marcado por volatilidade e incertezas geopolíticas, manter lucratividade trimestral ininterrupta por uma década representa um feito notável.

Essa performance robusta do setor de trading tem sido um dos fatores que sustentam a confiança dos investidores na capacidade da Shell de gerar retornos consistentes, mesmo em períodos de turbulência nos mercados energéticos globais.

Com informações de Bloomberg*

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